Quem são os políticos do Paraná envolvidos nos atos terroristas de Brasília

Pelo menos cinco nomes com alguma ligação à carreira política estão relacionados aos atos golpistas. Quatro estão detidos na capital federal

Pelo menos cinco paranaenses detidos por envolvimento nos atos terroristas do dia 8 de janeiro em Brasília têm ou tiveram relação com a política. Quatro dos que estão presos na capital federal participaram das eleições de 2020 e 2022. E dois atingiram desempenho suficiente para chegar à condição de suplente.

Gennaro Vela Neto, curitibano de 44 anos, está ao mesmo tempo na lista dos detidos pela Polícia Federal (PF) e de suplentes à Câmara dos Deputados pelo Paraná. Sob a sigla do PL, a mesma do ex-presidente Jair Bolsonaro, obteve 640 votos no pleito de outubro do ano passado. O resultado das eleições é justamente o que os golpistas se recusam a aceitar e o estopim dos atos de terror protagonizados pelos extremistas na capital do país.

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Em seu perfil no Instagram, Vela Neto se descreve como “cientista político e mental”. A conta é fechada e, portanto, não há como saber se ele chegou a postar imagens dos atos em Brasília. No YouTube, o curitibano alimenta um canal para pouco mais de 250 inscritos, com vídeos periódicos de temáticas de autoajuda.

No período de campanha eleitoral, chegou a usar o espaço para divulgar propostas como a regulamentação de práticas de integração e controle das redes sociais por reconhecimento de voz como pauta para “segurança das famílias”. O último conteúdo – uma “oração diária para riqueza” – foi ao ar no dia 15 de janeiro, quando já estava preso.

Vela Neto aparece como o 15º na ordem de suplência entre os candidatos a deputado federal pelo Partido Liberal do estado.

A posição distante indica que dificilmente o curitibano chegaria a ocupar uma das cadeiras nos próximos quatro anos. Soma-se a isso um destino agora incerto. Detido no presídio da Papuda, em Brasília, ele não havia passado, até a tarde desta quinta-feira (19), pela audiência de custódia que vai definir se continua em prisão preventiva ou se deixa o sistema em liberdade provisória submetido a medidas cautelares. Os casos estão sendo avaliados individualmente pelo Supremo Tribunal Federal.

Atos terroristas

Três paranaenses também ligados à carreira política já tiveram as prisões temporárias convertidas em preventivas.

Entre eles, Ademar Bento Mariano, conhecido como Soldado Bento. Natural de Maringá, o policial militar da reserva disputou uma cadeira na Câmara de Vereadores de Querência do Norte em 2016 e 2020. Na última, pelo PTB, tornou-se suplente com 202 votos nominais. Nenhuma página oficial com propostas do então candidato foi localizada.

A artista plástica Candida Moreira Borges Filipak também teve prisão em flagrante convertida em preventiva – ela foi vereadora suplente de Terra Rica em 2012 e 2016, pelo PMDB, e não conseguiu votos suficientes em 2020, já filiada ao PSL, partido sob o qual Bolsonaro se elegeu e que se desfez.

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Em dois dos perfis que mantém no Facebook, Filipak se identifica como instrutora de artes no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Paranavaí, município vizinho de Terra Rica. O nome da empresa não consta em nenhuma relação de servidores da prefeitura de Paranavaí, embora um documento legal de 2018 atestasse, à época, o vínculo da mulher com a administração municipal. A declaração é de setembro de 2018, apesar de o cadastro de pessoa jurídica de Filipak ter sido encerrado na Receita Federal em junho daquele ano. A prefeitura não respondeu a reportagem para esclarecer se ainda há prestação de serviços entres as partes.

No perfil mais atualizado, a paranaense postou, entre novembro e dezembro, uma série de fotos em Brasília, inclusive em áreas de acampamentos militares montados pelos golpistas na capital federal após as eleições. Em uma delas, aparece na frente de uma faixa de pedido de intervenção das Forças Armadas.

Não eleitos

Outro paranaense agora detido em Brasília também usou as redes sociais para divulgar o dia a dia antes dos atentados. Daniel Bressan, que disputou como vereador pelo município de Jussara e perdeu, registrou os atos diretamente de Brasília, em novembro, e também no portal Tiro de Guerra, na entrada de Cianorte, ponto de manifestações na região.

“O povo vai à loucura aqui em Brasília. Parece que todo o sacrifício valeu a pena, meu povo”, diz ele em um vídeo publicado no contexto do pedido protocolado pelo PL para anular os votos de parte das urnas eletrônicas. A ideia da coligação do presidente derrotado era reverter o resultado das eleições. Além de negar o pedido, o STF multou o partido de Bolsonaro em quase R$ 23 milhões por litigância de má-fé.

“A manifestação continua. Não deixaremos nosso país ser governado por ladrão, corrupto. E quem puder ta vindo aderir o movimento civil ordeiro pedindo intervenção federal, nós estaremos aqui”, disse em outro vídeo, publicado logo após o 2º turno das eleições. Apesar de algum controle do Instagram, o perfil de Bressan na rede ainda mantém postagens com informações falsas sobre o pleito.

Financiamento

O quinto aspirante à vida política identificado por envolvimento com atos golpistas de Brasília é Stefanus Alexssandro Franca Nogueira, de Ponta Grossa. Ele disputou o cargo de vereador pela cidade em 2016, sob a sigla do Partido Verde. Segundo a legenda, ele não consta mais entre os filiados. Nogueira não esteve em Brasília nos atos de 8 de janeiro e não foi preso. O nome dele consta em lista da Advocacia-Geral da União (AGU) que relaciona nomes ligados ao financiamento dos atos, mais especificamente à contratação de ônibus para levar caravanas até o Distrito Federal.

A reportagem não conseguiu localizar os advogados dos citados neste texto – exceto os de Soldado Bento.

Nesta sexta-feira (20), Manoel Pereira Orfon Neto, um dos advogados do policial aposentado, disse que ainda não teve acesso completo aos autos físicos de seu cliente, pois o caso tramita em segredo de Justiça. A defesa de Bento segue para Brasília na próxima segunda (23) e falou em se pronunciar eventualmente após as conclusões. “Mas acreditamos certamente na inocência do policial que se encontra preso injustamente, visto que possui todos os requisitos para responder à eventual processo em liberdade”, disse, em nota, o advogado.

Houve também tentativas, sem sucesso, de contatos por diferentes números de telefones relacionados nos cadastros da Justiça Eleitoral de cada um dos citados.

O PTB não haviam se manifestado até a publicação do texto.

O deputado federal Fernando Giacobo, presidente do Partido Liberal no Paraná, afirmou que não vai se pronunciar sobre a prisão de Gennaro Vela Neto. Em nota oficial, o PL do Paraná afirma que o caso será repassado ao diretório estadual do partido, responsável por analisar a instalação de um processo disciplinar contra o suplente de deputado preso.

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4 comentários em “Quem são os políticos do Paraná envolvidos nos atos terroristas de Brasília”

  1. Cara jornalista: se o STF já julgou as condutas de cada um dos SUSPEITOS, eu não estou sabendo. Talvez sua fonte seja privilegiada Ou você está repetindo o erro (mais provável). Aliás, no Brasil todos são inocentes até que sejam condenados com trânsito em julgado, sabe? Inclusive por isso que deixaram um então condenado concorrer às eleições (acharam um erro de CEP no devido processo legal, anulando a condenação). Seja luz!

  2. Angieli, jornalistas devem primar pela exatidão, não podem usar expressões que o povo usa erradamente. A lei define que “terrorismo”são atos praticados por xenofobia, discriminação preconceito de raça, cor, etnia ou religião. Atos de motivaçáo politica NÃO SÃO legalmente atos terroristas. Veja lá, seja uma luz de sabedoria na redação.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Caro Franco, a tipificação dos atos como terroristas é do Supremo Tribunal Federal (STF), sabe? O Supremo, como sabemos, é o guardião da Constituição e responsável pela interpretação da lei brasileira.

  3. Bom dia! Tem como saber aqui na região de Londrina se já tem nomes de fascistas presos em Brasília? E como as empresas de ônibus Garcia estão colaborando para entregar os golpistas e se vão levar multa para restituir os prejuízos do dia 8/01/22? Grato pela atenção.

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