Por que chove tanto em Curitiba?

Às vezes, parece que Curitiba é a cidade mais chuvosa do Paraná. Ou até do Brasil. Mas, na realidade, chove menos do que a gente imagina

Às vezes, parece que Curitiba é a cidade mais chuvosa do Paraná. Ou quem sabe até do Brasil. Mas, na realidade, chove menos do que a gente imagina. Se comparada a algumas regiões do país, a capital paranaense é até bastante seca. A verdade é que depende.

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O professor de Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Pedro Fontão explica que é preciso considerar a existência de uma variabilidade pluvial. Há anos que são mais ou menos chuvosos que outros por uma série de fenômenos climáticos – como o El Niño ou a crise hídrica que atingiu o Paraná em 2020

Embora Curitiba tenha uma característica de ser chuvosa na primavera e no verão, a cidade não fica totalmente seca no outono e no inverno. Fontão exemplifica que, ao comparar Curitiba com Brasília, por exemplo, a impressão que se tem é que a capital do país é muito mais seca, o que não é necessariamente verdade. 

Curitiba

“No verão, chove muito mais em Brasília do que em Curitiba, mas a chuva é escassa no outono e no inverno. Curitiba já tem um pouco mais de distribuição. Quando a estiagem começa em Brasília, são diversos meses sem chuva. Em Curitiba, nós não vemos essa seca prolongada. Por isso o pessoal fala que aqui nessa região do Paraná chove mais.”

“Claro, se fizermos uma comparação com o interior do Nordeste, aí efetivamente chove muito mais em Curitiba. Se comparar com Manaus ou com a região Amazônica, Curitiba é muito mais seca em termos de volume total de precipitação e até comparado à distribuição das chuvas pelos meses”, diz Fontão.

Por isso, de acordo com Fontão, é importante diferenciar o volume total de chuva da distribuição. 

Paraná

Curitiba não é a região mais chuvosa nem sequer do Paraná. Em algumas áreas do litoral do estado, em um ano, a chuva pode ser quase o dobro do que chove no centro da capital. 

Conforme o professor, o principal fator que interfere na chuva no litoral é o relevo. O vento chega com umidade e encontra uma barreira geográfica que é a Serra do Mar. Então, por causa dessa estrutura, ele é obrigado a subir, formando o fenômeno orográfico.

“Quando o vento sobe a temperatura tende a diminuir. O ar resfria e a umidade relativa do ar atinge o ponto de orvalho. Com a redução da temperatura, o ar não consegue mais comportar tanta umidade, tantas gotículas de água, e consequentemente vai começar a depositar, formando a neblina que vemos muito na serra. Onde tem formação de neblina vai ter mais precipitação, mais chuva”, explica Fontão.

Outra área mais chuvosa que Curitiba é a da região sul e sudoeste do estado, como as cidades de Palmas e Pato Branco. “Lá é muito mais fácil a entrada das frentes frias, elas chegam com maior intensidade em algumas épocas do ano.”

A região que menos chove no Paraná, de acordo com o geógrafo, é a norte, na fronteira com São Paulo.

Chuvitiba?

No geral, em Curitiba, há mais chuvas no verão que no inverno. Enquanto, na estação quente, a pluviosidade é de origem convectiva – está conectada ao aquecimento basal da superfície – na época fria a chuva é de origem frontal – associada à entrada e à passagem de frentes frias.

“No inverno, as chuvas convectivas praticamente desaparecem e a origem passa a ser praticamente inteiramente frontal. Por isso é muito mais fácil fazer a previsão pluvial no inverno do que no verão. Os modelos atmosféricos hoje conseguem captar o avanço das frentes frias com uma certa antecedência, às vezes de cinco, seis dias, a depender do evento.”

Neblina em Curitiba. Foto: Cecília Zarpelon/Plural

Para o professor da UFPR, a nebulosidade da capital, que também está relacionada ao relevo e à localização geográfica da cidade, é outro fator que faz com que as pessoas relacionem Curitiba a uma cidade muito chuvosa.

“O volume de chuva não é tão expressivo, mas a nebulosidade e a distribuição das chuvas ao longo dos meses dão a sensação de que os dias estão mais úmidos”, afirma Fontão.

Previsão

Segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), a previsão para os próximos dias no estado é de nebulosidade e chuvas de fraca intensidade.

Rodrigo Fontão ainda lembra da configuração de um El Niño para o final deste ano. “Isso pode impactar as chuvas no país e deixar o próximo verão um pouco mais úmido em relação aos anteriores. Aí sim, podemos falar da tal da ‘Chuvitiba’.”

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