Obras inúteis contra enchentes afetam vários bairros de Curitiba

Embora a prefeitura realize ações para minimizar o impacto das chuvas, muitas intervenções estão inacabadas ou não resolvem o problema

As chuvas fortes dos últimos dias deixaram, mais uma vez, centenas de casas alagadas e muitas famílias em situação vulnerável. Embora as enchentes em Curitiba aconteçam há anos, as ações da prefeitura parecem não fazer efeito contra o problema.

Com registro de estragos em pelo menos 11 bairros da capital, segundo levantamento do Partido dos Trabalhadores (PT) de Curitiba, moradores cobram da gestão municipal a eficácia de obras existentes ou a finalização de obras inacabadas.

Enchentes

Apesar da reclamação dos moradores, a prefeitura afirma que, nos últimos seis anos, foram realizados 10.450 serviços para minimizar o impacto das chuvas e que mesmo com alagamentos, a água “baixa em pouco tempo devido à manutenção em dia do sistema de drenagem”.

De acordo com o governo municipal, são feitas intervenções constantes na cidade através do programa “Curitiba Contra Cheias”, coordenado pela Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop). Além de minimizar os danos, as obras de macrodrenagem e serviços em galerias, canalizações, reservatórios e limpeza de rios visam ampliar a capacidade de escoamento das águas das chuvas.

No ano passado, foram realizadas oito obras de macrodrenagem. O problema é que muitas ainda estão incompletas ou são ineficientes contra as cheias. 

Estão em andamento a construção da bacia de contenção sob o estacionamento do Terminal do Boqueirão, a limpeza do Rio Belém e do Córrego do Curtume (no Guaíra), e a manutenção da bacia de contenção na Vila Rose (no bairro CIC).

A prefeitura também está implantando uma bacia de contenção no Ribeirão dos Müller, no CIC, e uma bacia de detenção no Campo Comprido. Estão sendo reconstruídas as galerias pluviais na Avenida Victor Ferreira do Amaral, que foram danificadas pela chuva no fim de 2022, e as obras de controle de cheias do Rio Belém (que atinge Guaíra, Parolin, Lindóia e Fanny) ainda seguem sem previsão de término.

Parolin

No Parolin, as enchentes causadas pelo transbordamento do Rio Belém fizeram com que moradores perdessem móveis e necessitassem de abrigo temporário. 

Segundo a líder comunitária Andreia Soares de Lima, que também teve sua casa alagada, 115 famílias do Parolin foram atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras), na quarta-feira (18). No entanto, o número de pessoas afetadas pelas chuvas é muito maior, conforme Andreia. “Só aqui no meu portão vieram mais de 20 famílias procurar ajuda.”

Para Andreia, o problema principal é a obra inacabada do Rio Belém. Desde que começou a intervenção, há cerca de cinco anos, a comunidade do Parolin vem sendo prejudicada. Em abril do ano passado, a Secretaria de Obras chegou a se reunir com os moradores da região e afirmou que o prazo para finalização das obras seria em setembro, o que não aconteceu. “A única coisa que fizeram foi um asfalto vergonhoso que com as chuvas dessa semana já desmanchou.” 

“O sentimento é de desgosto, desespero e humilhação. A gente sabe que isso acontece com as nossas casas porque a prefeitura tem total descaso com a gente. Eu estou cansada de denunciar nossa situação há tanto tempo”, diz Andreia.

Hugo Lange 

Outra região atingida por alagamentos há pelo menos oito anos é o Hugo Lange. Conforme Cely Maria, que mora na rua Camões há 39 anos, a via fica inundada toda vez que chove, apesar da recente canalização feita no local. 

“A obra para contenção de enchentes se mostrou absolutamente inútil. Esse problema existe há muito tempo e parece ser insolúvel. Temos uma canalização nova que é três vezes maior que a antiga, e mesmo assim não aguenta.”

Outra moradora, que vive no local há 57 anos, conta que, apesar de a água já ter escoado, restou sujeira e mau cheiro no bairro. “Aqui a gente cronometra: se passar de 20 minutos chovendo forte, já alaga. É um caos e todo ano é a mesma coisa. É revoltante.”

Segundo a prefeitura, a obra de macrodrenagem no Rio Juvevê, que implantou uma galeria reservatória sob a rua João Américo de Oliveira, foi concluída em maio do ano passado. A obra deveria beneficiar diretamente os bairros Alto da XV, Cristo Rei, Hugo Lange e Cabral, mas, conforme relatos de moradores, não tem havido resultados efetivos.

Cobrança

Ao Plural, o Ministério Público do Paraná (MPPR) informou que acompanha extrajudicialmente as obras públicas que visam a melhoria do sistema de drenagem e o controle do risco de cheias, por meio da Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Curitiba.

De acordo com as últimas manifestações da Administração Pública Municipal em um procedimento administrativo do MPPR (nº 0046.22.006919-2), estariam em curso a execução de soluções de microdrenagem, e serviços contínuos de remoção de lixos, roçada e desassoreamento em todos os córregos e rios que compõem a bacia do Rio Pinheirinho. 

Sobre a evolução das obras, a prefeitura afirmou que, em relação à obra de controle de cheias do Rio Pinheirinho, que é subdividida em três lotes, foram executados 82,35% do Lote 1 (Rio Vila Guaíra e Córrego do Curtume), 91,98% do Lote 2 (Córrego da Avenida Henry Ford) e 79,16% do Lote 3 (Rio Pinheirinho e Córrego da Avenida Santa Bernadethe), todos com prazo de conclusão em 2023.

Atendimento 

De acordo com a prefeitura, a Central 156 recebeu 209 demandas em dois dias por conta das tempestades que atingiram Curitiba na terça (17) e na quarta-feira (18). O maior número de pedidos veio da Regional Portão, que abrange, dentre outros, os bairros Parolin e Vila Izabel, com 92 solicitações. 

O maior volume de solicitações foi por queda de árvores ou galhos. Foram 144 situações desta natureza, entre as quais 106 com bloqueio de passagem em vias e passeios. Além disso, foram 13 pedidos por drenagem e macrodrenagem (situações de alagamentos e erosão ou desobstrução de rios e córregos) e sete por lona feitas ao 156 para atender a moradores do CIC, Santa Felicidade, Tatuquara e Boa Vista.

Ao Plural, a Fundação de Ação Social (FAS), informou que atendeu, de forma emergencial, na quarta-feira (18), 48 famílias nas regionais CIC, Pinheirinho e Portão. Foram entregues cestas básicas, colchões, cobertores, frascos para preparo de solução sanitizante, kits de higiene e limpeza e lonas. Na regional Portão, uma família precisou de acolhimento por causa da queda de uma árvore na residência.

Já nos dias 16 e 17 de janeiro, o Cras atendeu 121 famílias na regional Portão, com colchões e cobertores. Uma família em Santa Felicidade solicitou colchão, móveis e eletrodomésticos. Outras 40 precisaram de atendimento na regional Tatuquara, por meio da oferta de colchões, cobertores e créditos alimentares a serem utilizados em compras nos Armazéns da Família da cidade.

Chuvas

A estação meteorológica da Defesa Civil registrou precipitações acumuladas de 56,1 milímetros, entre 15h e 17h30 de quarta-feira (18), com rajadas de vento de até 24,5 km/h.

De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), o tempo continua bastante instável. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) alerta para o perigo potencial de chuvas intensas e tempestades no Paraná.

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1 comentário em “Obras inúteis contra enchentes afetam vários bairros de Curitiba”

  1. A região do Água Verde próxima ao antigo Extra e vizinha à V. Guaíra também sofre com as cheias, ano após ano, desde meados dos anos 2000. Obras mal acabadas desde a Linha Verde até localidades mais próximas dali são, em parte, as causadoras de problemas. Um dos pequenos prédios da região, na rua Cel Gomes do Amaral, 901, já teve apartamentos do andar térreo tomados pela água mais de uma vez, além de carros já terem ficado submersos. Prejuízos matérias, traumas e sensação de abandono pelo poder público, gestão após gestão municipal. Há coisa de 2 anos, creio, em uma dessas ocorrências de cheias graves, Greca declarou que isso não era culpa da prefeitura e não havia como controlar as intempéries climaticas… Mas e quanto às obras? Né?

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