Músicos denunciam abordagem da GM: “20 guardas para lidar com dois artistas pretos”

Wes Ventura e Pedro Afara tiveram de parar de tocar no Largo da Ordem, no domingo (12)

“Eu trabalho com arte de rua em Curitiba há mais ou menos sete anos, e nesse meio tempo eu nunca tive paz, eles sempre encontram um jeito de nos reprimir”, fala o músico Wes Ventura. No domingo (12), ele e o baixista Pedro Afara estavam tocando no Largo da Ordem, perto da feirinha, quando foram interrompidos pela Guarda Municipal.

Nas fotos, é possível ver pelo menos dez guardas a postos. Quem estava presente diz que foram 20. Eles chegaram junto com um fiscal da Secretaria de Meio Ambiente (SMMA), que advertiu a dupla sobre o som alto. A medição, feita do outro lado da via, apontou 76,3 decibéis, quando o permitido no local e horário pela Lei 10.525 seria um volume máximo de 65 decibéis.

“A questão é que ele estava medindo num cruzamento movimentado, então não era possível canalizar o ruído da nossa caixa. Ou seja, a medição foi feita de forma arbitrária, como desculpa para tirar a gente do nosso trabalho”, afirma Wes.

Por meio de nota, a SMMA garantiu que “foi informado a ele que poderia continuar se mantivesse o limite permitido pela lei, o que seria possível se ele não utilizasse amplificador”. O advogado Felipe Mongruel estava no local no momento da ação e conta que pediu reiteradas vezes para que fosse realizada uma nova medição com o som mais baixo, mas foi ignorado.

Depois de quinze minutos de show, os músicos tiveram de ir embora. Não deu tempo nem de arrecadar o dinheiro do ônibus. “A gente toca com guitarra e baixo, e esses instrumentos precisam ser amplificados. É totalmente normal, na arte de rua, ter uma caixa de som ligada, porque o ruído impede as pessoas de ouvirem as músicas”, comenta Wes. “Imagina se a gente ia passar por esse transtorno de cantar para ninguém ouvir.”

Excesso

Nas palavras de Wes, “quando são dois pretos fazendo arte de rua, a repressão chega muito mais rápido”. Ele já viu muitas abordagens da polícia a artistas no Largo da Ordem e na Rua XV de Novembro, mas questiona a maneira como são conduzidas dependendo das condições sociais do abordado.

Foto: reprodução/Instagram

“Foram 20 guardas para lidar com dois artistas pretos. A gente já sabe que sofre uma perseguição e isso tem a ver com o racismo, com a forma marginalizada com que eles enxergam o nosso trabalho. Não importa o que a gente conquiste como pessoa, como profissional, nada muda, só piora”, lamenta o músico.

Ao Plural, a GM disse que “os guardas municipais somente prestaram apoio aos fiscais do Meio Ambiente na ocorrência, que teve início após reclamação de comerciantes no entorno sobre o som alto”. Sem fazer menção ao número de profissionais, a assessoria acrescentou que “não houve conflito tampouco necessidade de alguma intervenção dos guardas, presentes para manter a ordem de modo que os servidores municipais pudessem desempenhar a atividade fiscalizatória.”

Mongruel recorre ao direito penal para classificar o que viu: excesso de meio. “Havia mais de 20 policiais no local, sem a menor razoabilidade. Cada vez mais a prefeitura dá as costas para a população que só tem chance de ouvir música em um ambiente cultural e de diversificação como a feira, sem poder pagar para estar em espaços fechados.”

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1 comentário em “Músicos denunciam abordagem da GM: “20 guardas para lidar com dois artistas pretos””

  1. Sou favorável a não utilização de qualquer amplificador eletrônico,tipo;caixa de som,etc,na rua.Agora,é uma tremenda contradição,quando em qualquer manifestação há a presença de “carros de som”numa altura muito maior sem qualquer interferência da prefeitura.

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