Mulher trans não pôde retirar pacote em Correio por utilizar nome social 

Caso ocorreu em uma Agência de Correios de Campo Largo na última quinta-feira (9)

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A reportagem foi atualizada às 11h05 do dia 16 de fevereiro para adicionar a resposta da Polícia Civil do Paraná.

Na última quinta-feira (9), por volta das 10h30, a autônoma de 37 anos Dhé Odara foi impedida de retirar uma encomenda na agência dos Correios no centro de Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O motivo foi de que o nome que constava no espaço “destinatário” era diferente daquele da carteira de identidade. Isso porque, mulher transgênera, Dhé Odara utiliza o nome social, designação que reflete sua identidade de gênero.

“Quando cheguei no balcão, o atendente pediu o código de rastreio do pacote e um documento. Até aí nem tinha passado pela minha cabeça a questão do nome social, porque ninguém me chama pelo nome do RG, só pelo social. Quando ele viu o documento que começou o problema”, conta Dhé Odara.

Ao atendente, a autônoma explicou que ainda não tinha um documento com o nome social. O homem, no entanto, disse que a agência não poderia entregar o pacote. Outra funcionária do Correio chegou a perguntar se havia “comprovante” de que ela era a Dhé Odara. 

“Nesse momento ele pegou meu documento e deu para a moça falando: ‘Dá uma olhada aqui, uma coisa não tem a ver com a outra. Olha isso, que nome é esse?’. E aí eu falei para ele me respeitar, que era meu nome e foi quando começamos a nos exaltar. Eu explicando que ainda não tinha o nome social no documento e ele dizendo que não interessava, que precisava de documento”, relata.

“Eu me senti tão discriminada, como se eu não existisse. Ele fez pouco caso, debochou, é isso que me atormenta. Acabei de passar por uma situação que me mostra que para a sociedade eu não sou ‘normal’, que eu não existo, que não sou nada. É muito constrangedor.”

Queixa na polícia

Na segunda-feira (13), Dhé Odara foi até a Polícia Civil do Paraná registrar um Boletim de Ocorrência. Ao Plural, o órgão afirmou que a vítima deve ser ouvida nos próximos dias e que segue a investigação.

A Agência de Correios do Paraná disse que está apurando a situação, mas que “o caso pontual não se trata de transfobia”. Declarações e atos transfóbicos são considerados crime de racismo desde 2019 por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A pena prevista é de um a três anos, podendo chegar a cinco anos em casos mais graves.

“Com cortesia e respeito, conforme valores e práticas de atendimento da empresa, a cliente Dhé Odara recebeu as orientações que são prestadas a todos os destinatários que necessitam realizar a retirada de uma encomenda em uma unidade dos Correios, ou seja, a apresentação de um documento de identificação atualizado, com foto. O procedimento visa garantir a segurança do objeto postal e a confiabilidade dos serviços a destinatários e remetentes”, informou, em nota. 

Segundo a Agência de Correios, houve três tentativas de entrega da encomenda (em 27 e 31 de janeiro, e 1º de fevereiro), que não foram concluídas por ausência de um residente no endereço de destino. Por isso, a empresa mantém o objeto à disposição para retirada.

Após o contato do Plural, a empresa afirmou que fará uma nova tentativa de entrega. 

Sobre o/a autor/a

4 comentários em “Mulher trans não pôde retirar pacote em Correio por utilizar nome social ”

  1. acabei de passar por isso também, mas me deixaram pegar a encomenda “dessa vez”. achei paia, pesquisei se podia receber por nome social, mas tudo que achei foi esse artigo. acho que é a regra mesmo por enquanto. fico feliz que me deixaram pegar.

  2. Uma dúvida: como o jornal publica somente um lado da história? Por quê não conversou com o outro lado, as pessoas verdadeiramente envolvidas?
    Essa publicação contém meias verdades. Não foi o que de fato ocorreu.
    Se não publicam acusações sem provas ou sem comprovação científica erraram feio ao publicarem uma matéria unilateral.
    Condenam antes de comprovar.
    Típico de um jornalismo sensacionalista, que julga baseado em meias verdades.
    Muito triste.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Anônimo, se o senhor tivesse lido atéo fim do texto teria visto o seguinte parágrafo: “A Agência de Correios do Paraná disse que está apurando a situação, mas que “o caso pontual não se trata de transfobia”. Declarações e atos transfóbicos são considerados crime de racismo desde 2019 por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A pena prevista é de um a três anos, podendo chegar a cinco anos em casos mais graves.

      “Com cortesia e respeito, conforme valores e práticas de atendimento da empresa, a cliente Dhé Odara recebeu as orientações que são prestadas a todos os destinatários que necessitam realizar a retirada de uma encomenda em uma unidade dos Correios, ou seja, a apresentação de um documento de identificação atualizado, com foto. O procedimento visa garantir a segurança do objeto postal e a confiabilidade dos serviços a destinatários e remetentes”, informou, em nota. ”

      Nosso jornalismo é sério e vem com nome e sobrenome. Diferente de quem vem nos acusar de sensacionalismo usando perfil anônimo, né?
      Rosiane

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