HT deixará de usar propofol em cirurgias de emergência

Previsão é que estoque de medicamento anestésico dure mais dois dias

A falta de estoque do anestésico propofol da Central de Medicamentos do estado do Paraná já está tendo repercussões no atendimento da população em geral. Nos próximos dias o Hospital do Trabalhador, principal ponto de atendimento de vítimas de acidentes domésticos e de trânsito em Curitiba, deixará de usar o propofol em cirurgias de emergência.

Segundo um profissional com acesso ao sistema de estoque de medicamentos do hospital, o estoque atual do propofol irá durar no máximo dois dias. Por isso o item agora será usado preferencialmente na UTI Covid. O medicamento é fundamental na entubação de pacientes, junto a relaxantes musculares e analgésicos.

O HT é o principal Pronto Atendimento de Curitiba que é totalmente SUS, ou seja, trabalha com vaga zero e não pode recusar paciente. Segundo o profissional ouvido nesta reportagem, a lotação de outros hospitais que atendem emergências na rede SUS, como o Evangélico e o Cajuru, tem aumentado a procura pelo HT.

Com a retenção do propofol para uso em pacientes Covid-19, vítimas de acidente de trânsito que precisarem de cirurgias de emergência vão receber outros anestésicos. Segundo o Plural apurou, a troca não é necessariamente um risco para os pacientes, mas certamente vai acelerar o consumo do estoque de outros anestésicos, que também é limitado. É isto que preocupa farmacêuticos e médicos não só no Paraná, mas em outros estados.

“É uma situação que afeta todos os hospitais. Não tem de quem pedir emprestado”, alerta o profissional, que não quis se identificar. Segundo ele, sempre houve uma política de trocas e empréstimos entre instituições. Mas por causa da falta, que é geral, “é cada um por si”.

Nesta segunda, dia 15 de março, o Centro de Medicamentos do Paraná (Cemepar), que monitora os estoques de 63 hospitais que fazem parte do Plano Estadual de Enfrentamento à Covid, emitiu um alerta de risco de desabastecimento de medicamentos utilizados para a intubação. O sinal vermelho leva em consideração o aumento das internações nos últimos dias em todas as quatro macrorregionais de saúde.

Segundo o Cemepar, o estoque de bloqueadores neuromusculares, que são os relaxantes usados para auxiliar na ventilação mecânica, deve durar mais três dias, nas atuais condições. O estoque dos sedativos e de analgésicos dá para abastecer os hospitais por mais oito dias, ou seja, até 23 de março. Segundo a fonte ouvida pelo Plural, não há substitutos adequados para os bloqueadores neuromusculares na entubação.

“Entubar sem aumenta as chances de machucar o paciente na hora de passar o tubo. E depois ajuda a relaxar a musculatura respiratória para que a pressão do respirador mecânico encha os pulmões adequadamente, mas sem forçar o órgão em si. Ficar sem eles pode machucar o paciente e pode fazer com que o uso do respirador seja ineficaz”, explica.

O alerta é mais um sinal que confirma o colapso do sistema de saúde no Paraná, que é resultado do aumento de casos de Covid-19 em todo estado. Nesta segunda, dia 15, 1320 pessoas aguardavam leitos para internação pela doença, 471 na região de Curitiba. A falta de medicamentos também aumenta o risco de termos duas filas de pacientes correndo risco de morte: quem está com Covid-19 e outros pacientes que serão inevitavelmente afetados pela escassez de recursos causada pela pandemia.

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