Unidades de Saúde de Curitiba precisam ser reabertas, avaliam médicos

Elas passaram a atender somente emergências para desafogar as UPAs; 53 foram fechadas com a pandemia

“O acesso à Saúde para a população [de Curitiba] caiu em mais da metade em 5 anos”, garante o Núcleo Paraná da Associação Brasileira de Médicos e Médicas para Democracia (ABMMD). Segundo a entidade, muito se deve às mudanças impostas à Atenção Básica, em especial na Unidades de Saúde (US) da Capital, fechadas para atendimento eletivo na última semana. Com o avanço rápido e  o agravamento dos casos de Covid-19, as US passaram a ser a porta de entrada para o atendimento da doença. Muitas precisaram ser fechadas para o remanejamento dos profissionais de Saúde.

Faltam pessoal, insumos, leitos e treinamento. “Com a realocação das Unidades e transformação de algumas em mini UPAS, as demandas aumentaram muito. Está exaustivo pois temos uma demanda grande e poucos profissionais. Não recebemos treinamento específico, só as orientações sobre o uso correto dos EPI’s. Hoje acho que o principal problema é a falta de profissionais contratados. Os que estão, já estão cansados demais dessa batalha. Todo mundo está cansado e sobrecarregado”, diz a enfermeira de uma US.

“Nessa perspectiva, a AMMD/PR vem conclamar os representantes legislativos e conselheiros municipais a pressionar a Prefeitura a realizar contratações emergenciais para saúde de maneira mais abrangente e contundente do que tem sido feito até agora. De modo que seja possível garantir a reabertura de todas as Unidades de Saúde tão necessárias à nossa população e que foram fechadas neste período”, diz a nota da entidade, contra “o fim da Atenção Básica de Curitiba”.

A intenção é alertar a todos, “a fim de informar a setores da sociedade sobre os graves fatos em curso no Sistema de Saúde da cidade. Já não é de agora que a gestão atual executa fechamento de Unidades de Pronto Atendimento (UPA), redução do número de equipes de saúde que atuam na atenção básica e mudanças nos processos de trabalho de várias equipes que deixaram de atuar no formato da Saúde da Família antes mesmo da pandemia”.

“De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, o município tinha, em março de 2016, 227 equipes de Saúde da Família e 919 agentes comunitários de saúde (ACS). Já em março de 2020, eram 182 equipes e 388 agentes, uma redução de 20% e 58% respectivamente”, aponta a nota. O assunto já foi tema de reportagem no Plural.

Para os médicos e médicas, o fechamento preocupa ainda mais dado o andamento da pandemia e o ocorrido em 2020, quando dezenas de UBS permaneceram fechadas por muitos meses. Das 111 US de Curitiba, 53 foram fechadas pela Prefeitura “restando hoje apenas 42 a realizar atendimentos simples do tipo queixa-conduta, 10 que realizam somente vacinação e atendimentos básicos às gestantes e crianças, e ainda seis que estão atuando somente como postos de vacinação contra Covid-19”.

Acesso reduzido

Segundo a entidade, na prática, o acesso à saúde para a população caiu em mais da metade em 5 anos. “E quem consegue acessar uma UBS deixou de conseguir, na maioria das vezes, ser atendido pelos profissionais das equipes com quem já tinha vínculo de confiança construído ao longo do tempo, justo quem teria melhor condições de lhe amparar com cuidados adequados em momento de crise.”

Para a Associação, as mudanças impostas à Atenção Básica impactarão de maneira profundamente negativa na saúde da população, uma vez que “a paralisação dos atendimentos das condições crônicas e de diversas outras linhas de cuidado se manifestará de forma desastrosa, resultando em agravamento destes problemas e gerando ainda mais mortes evitáveis”.

“Neste momento de pandemia, onde as pessoas mais precisam de acesso, vemos tantas portas se fecharem, vemos os serviços de saúde reduzirem sua capilaridade e proximidade da população – o que agrava ainda mais o efeito desproporcional da pandemia sobre os grupos socialmente mais vulneráveis”, completa o texto.

“Ação que vai na contramão do que muitos outros municípios brasileiros vêm fazendo, optando por fortalecer a atenção básica, o teleatendimento por parte de profissionais e equipes já vinculados e dedicados para cada comunidade, a testagem e a identificação precoce de casos, além de educação em saúde culturalmente adequadas e em contato direto com as lideranças e organizações do território de cada Unidade Básica de Saúde.”

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