Eventos e festas de fim de ano exigem cautela; Europa deve servir de alerta

Curitiba inaugura nesta quinta a programação natalina. Nas celebrações, é preciso consciência de que pandemia ainda existe

Curitiba estreia nesta quinta-feira (17) a programação de um dos eventos mais importantes da cidade, a programação natalina. Apesar das medidas adotadas – muitos espetáculos serão limitados e no esquema drive-thru, sem as pessoas saírem dos carros –, ruas iluminadas, enfeites e atrações como as feiras típicas, combinados com a chegada do calor, devem ser um estímulo à movimentação nas ruas. Com a pandemia ainda em fluxo, a Europa, mergulhada em uma nova triste onda de Covid-19, deve servir de exemplo, e o alerta precisa ser redobrado. Famílias que já se programam para as celebrações dentro de casa também não devem ignorar os riscos.

“Risco zero não existe”, reitera a Organização Mundial da Saúde (OMS) no documento de recomendações para o planejamento de encontros de massa ainda em época de Covid, que teve sua última atualização divulgada no dia 4 de novembro. O relatório é uma espécie de guia para o manejo de eventos de diferentes portes, sobretudo os promovidos pela gestão pública, neste momento em que a vacinação caminha, mas ainda sem atingir patamares completamente seguros.  

Autoridade global em saúde pública, a OMS relembra que, por enquanto, todos os eventos devem ser planejados considerando os critérios de risco. O foco tem de estar no retrato da transmissão e nas alternativas de mitigação, ou seja, na elaboração de condições menos favoráveis para a propagação do vírus, sem esquecer da conscientização de quem vai comparecer ao encontro.

O panorama geral dos dados da Covid-19 indica que Curitiba nunca esteve tão relativamente confortável para decidir sobre a volta das programações de maior público desde que a pandemia começou a acelerar, em maio do ano passado. Notícia boa, mas que exige cautela.  

Nesta quarta (17), a capital havia atingido 79,9% dos moradores vacinados com ao menos uma dose e 69,5% da população totalmente imunizada. O número de pessoas na fase ativa da infecção chegou a 1.312, praticamente um sexto dos 7.714 casos ativos registrados no mesmo período do ano passado.

No começo deste mês, com a queda generalizada no número de internações associada ao aumento da cobertura vacinal, a prefeitura da cidade decidiu liberar shows e baladas e a lotação total em bares, restaurantes e estádios, apesar do alerta de especialistas de que o ideal seria, ainda, aguardar um volume maior de imunizados.

Mas nos estádios, a regra de distanciamento foi quebrada, e muita gente abandonou o uso de máscaras. O temor dos especialistas é que o relaxamento das medidas seja interpretado como um aceno à liberação generalizada.

“A situação é mais confortável, mas a pandemia não acabou. Não temos uma situação 100% segura ainda. Primeiro porque não temos a imunização completa e segundo porque a gente ainda tem as variantes virais”, observa a virologista Claudia Duarte dos Santos, do Instinto Carlos Chagas/ Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Paraná.

A insistência de variantes em circulação, explica a cientista, encontra explicação em fatores múltiplos. Um dos motivos é a taxa de pessoas ainda não vacinadas, muitas das quais resistem a receber as doses – e que fez a Europa mergulhar em uma nova forte onda da Covid-19.

A chamada “pandemia dos não-vacinados” foi o alerta do boletim mais recente da Fiocruz, divulgado nesta quarta. “O Brasil tem hoje cerca de 60% da população com esquema vacinal completo, com uma estimativa de 1.15 óbitos por milhão de habitantes, segundo dados disponíveis Our World In Data. Entretanto, países como Áustria, Lituânia e Alemanha, com percentuais maiores da população vacinada (63,7%, 65,2% e 67% respectivamente), vêm não só enfrentando um grande crescimento de internações, principalmente entre os não vacinados, mas também no indicador de óbitos por milhão de habitantes, que se encontra em 2.23 para Alemanha, 4.00 para Áustria e 10.62 para Lituânia”, destaca a instituição, em demonstração de que o alerta europeu significa ainda mais desafios relacionados à Covid-19.

Complementando, estudo divulgado nesta quinta-feira (18) na revista Nature mostra que os novos picos da pandemia podem custar mais 300 mil vidas em 19 países europeus analisados. A estimativa leva em conta pessoas que ainda não foram infectadas nem vacinadas. A pesquisa sugere que a nova conjuntura pode provocar mais um milhão de hospitalizações em caso de cenário extremo, com todas as medidas de restrição anti-infecciosas abandonadas e contatos entre pessoas retomados no nível pré-pandemia.

A virologista da Fiocruz lembra ainda de dois outros fatores que devem ser considerados com cautela: o fato de as vacinas disponíveis não serem esterilizantes, ou seja, não impedirem a contaminação, e a desigualdade entre países no esquema vacinal, o que aguça a circulação de variantes uma vez que as fronteiras estão cada vez menos restritas. De acordo com dados divulgados no fim de outubro pela Anisitia Internacional, os vinte países mais ricos do mundo concentram 62% da população mundial, mas foram responsáveis, até então, pela compra de 82% de todas as vacinas contra a Covid-19 disponíveis.

“Esse é o ponto. Ainda não acabou a pandemia, a imunização não é esterilizante, então está liberado, e confortável? Sim, mas com máscara, distanciamento, higiene, todos os cuidados não farmacológicos. Isso é fundamental. Acho que essa liberação tem que ter muito critério e as pessoas têm que está muito conscientes com relação a isso”, afirma a virologista.

Festas de fim de ano

O recado vale para eventos de grande porte, mas também para os mais singelos. Assim, os tradicionais encontros familiares de Natal e Ano-Novo não devem fugir à regra.

Recentemente, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), considerando a importância das celebrações para a rotina de famílias e crianças, lançou uma série de orientações para encontros com maior segurança. A vacinação e o uso de máscaras são essenciais.

Para Santos, é possível planejar encontros da melhor maneira possível. Alternativas como diminuir a quantidade de pessoas em relação às festas em tempos “normais” e dar prioridade a espaços abertos e arejados devem ser considerados.

“As festas com limitação de pessoas, em ambientes abertos, com distanciamento, não ficar um em cima do outro comendo, falando, aglomerando. A máscara também é importante, a higienização das mãos. Se as pessoas conseguirem entender isso, que não estamos vivendo um momento que não trivial, dá para fazer da melhor forma”, orienta a virologista.

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