Estádios cheios, baladas, horários ilimitados… O que restou de restrição em Curitiba?

Estádios agora podem receber público máximo, assim como restaurantes e baladas

Curitiba anunciou nesta quinta-feira (4) o mais baixo nível de restrições desde que foi decretada situação de emergência por causa da pandemia da Covid-19 na cidade, em 16 de março do ano passado. Embora protocolos sanitários específicos sigam em vigência, das imposições colocadas pelo sistema de bandeira restou agora apenas a obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços de uso público ou coletivos e a proibição de consumo de bebidas alcoólicas nas ruas.  

As mudanças constam em decreto válido até 18 de novembro. A nova determinação libera lotação máxima em ambientes como estádios, shows, baladas e restaurantes, ambientes onde antes o limite variava de 50% a 70% da capacidade. Nesses casos, pela lógica, não será mais necessário manter a distância de 1,5 metros entre cada pessoa.

A nova regra permitirá, por exemplo, que o próximo jogo na Arena da Baixada seja com arquibancadas 100% ocupadas. O estádio tem limite máximo de ocupação de 42.372 torcedores e receberá a partida do time da casa, o Athletico Paranaense, contra o Ceará pela série A do Brasileirão na próxima quarta-feira (10). No dia 14, Coritiba e Brasil de Pelotas se enfrentam no Couto Pereira, cuja capacidade de público é de 40.502 mil pessoas.

Cinemas, museus, academias de ginástica, hotéis e igrejas e templos também não vão mais precisar de espaços vagos, assim como espaços de festas e eventos, feiras, circos e teatros, drive-ins e serviços de telemarketing. O consumo local em tabacarias voltou a ser permitido.

Segundo a prefeitura, as flexibilizações decorrem dos bons indicadores constatados por análise epidemiológica mais recente, analisadas sob crivo do Comitê de Técnica e Ética Médica da SMS – embora, cautelosos, médicos ainda vejam o cenário com certa vigilância. Ao publicar o decreto, a Secretaria Municipal da Saúde citou baixa nos números de hospitalizações e transmissão do vírus.

Nesta quarta-feira (3), a taxa de ocupação as UTIs, conforme a prefeitura, foi de 44%, e nos leitos, 50%. Já a taxa de retransmissão do vírus, instrumento que sugere quantas pessoas podem ser contaminadas por um infectado, está 0,81. O indicador abaixo de 1 é um sinal de desaceleração da pandemia.

O movimento reverso nas curvas de infecções e mortes causadas pela Covid-19 está diretamente atrelada ao avanço da vacinação. Dentro de um cenário otimista – com transmissão sob controle e maior número de imunizados por completo – a previsão é que Curitiba feche novembro com média de 3,7 óbitos por dia – a menor desde junho do ano passado.

A projeção é da plataforma Previsões Covid, desenvolvida por pesquisadores do projeto de pesquisa Matemática Aplicada e Computacional da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O modelo indica ainda que o total de casos ativos na cidade – com base nos dados da Secretariad e Estado da Saúde (Sesa) – tem ritmo agora para encolher quase 55% até o fim do mês, passando dos 4.388 infectados no 1º para 2.047 no dia 30.

Vigilância

Apesar dos avanços, a pandemia continua, e os hábitos da vida pré-Covid-19 ainda não devem ser retomados como realidade absoluta, alertam especialistas.

“Para que a gente possa evitar que a pandemia se perpetue, é preciso ter menor transmissão do vírus, e isso ocorre com vacinação e, como a principal forma de transmissão da Covid é por gotículas, então manter a máscara e o distanciamento também seria o ideal, além da higienização das mãos. Quando liberamos todas as atividades não existe mais distanciamento, então uma dessas barreiras nós perdemos. Então, mesmo que exista uma norma que diga que você pode estar mais próximo do outro, manter em consideração o distanciamento é importante para que a gente não tenha um aumento no número de casos”, observa Viviane de Macedo, infectologista, doutora em Ciências e professora de Medicina da Universidade Positivo (UP).

Diferentemente de outras capitais, Curitiba ainda mantém a máscara como proteção obrigatória em espaços comuns, mas a Assembleia Legislativa (Alep) já discute a possibilidade e que esta regra possa cair.

Para a médica, no entanto, a dissolução de restrições precisa ser acompanhada com vigilância e até certa preocupação, considerando uma parcela da população que pode entender o novo ritmo como uma ausência total de cuidados e protocolos.

“Na realidade, o foco agora tinha que ser outro. Ir atrás das pessoas que não tomaram ainda segunda dose ainda, convencer quem não tomou nenhuma das duas ainda e fazer a dose de reforço em quem tem imunidade menor. Muitas vezes o governo tem que tentar um equilíbrio entre os interesses econômicos e da saúde, mas nem sempre essa balança é muito justa”, pondera.

De acordo com a prefeitura, a retomada de atividades até então limitadas pela pandemia é consequência do impacto da vacinação nos indicadores da doença. Até esta quarta, chegava a 67,4% o total da população curitibana completamente imunizada, conforme dados da a Secretaria Municipal da Saúde.

De fato, o esquema vacinal tem sido a arma mais forte contra o avanço da doença. Na Europa, onde a adesão às vacinas tem ficado abaixo do esperado, uma nova onda voltou a preocupar autoridades.

Nesta quinta, o diretor regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa, Hans Kluge, os casos de infecção provocados pelo Sars-Cov-2 está mais uma vez se aproximando de taxas recordes e tornou, neste momento, o conjunto de países europeus como o novo epicentro da doença no mundo. Em discurso, Kluge foi taxativo em culpar pelo recrudescimento do cenário o baixo índice de vacinação – a média entre todos os países da Europa e da Ásia Central é de 47% de completamente imunizados – e o relaxamento de medidas sociais de saúde pública.

“Testes, rastreamento de contatos, espaços internos ventilados e distanciamento físico continuam fazendo parte de nosso conjunto de instrumento de defesa, ao lado da compra rápida, justa e generalizada de vacinas por todos os chefes de Estado. Estas são medidas experimentadas e testadas que permitem que vidas continuem enquanto controlam o vírus e evitam bloqueios generalizados e prejudiciais”, reafirmou em pronunciamento o representante da OMS.

Em Curitiba, embora a taxa de imunização esteja se aproximando da cobertura vacinal mínima esperada, os especialistas ouvidos pela reportagem consideram que o ideal seria esperar ainda um pouco mais para dar esse salto.

“Com esse índice, acho ainda um pouco precoce. Claro que a prefeitura está tomando essas decisões também com base no úmero de casos na cidade, mas considero que as restrições colocadas até agora garantiram que a gente chegasse nesses bons níveis”, argumenta a infectologista e professora da UP.

O médico sanitarista e professor de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Gilberto Berguio Martin, compartilha perspectiva semelhante. Na opinião dele, há uma concessão sendo feita em detrimento de pressões sociais e econômicas, mas a retomada mais próxima do ideal seria ainda aguardar até que mais pessoas atingissem a imunização completa.  

Segundo o médico, apesar de haver parâmetros que respaldem a decisão desta quarta, como o volume de imunizados próximo a 70% e o comportamento epidemiológico da doença em patamares mais brandos, o que deve ser cobrado agora do poder público é o monitoramento adequado.

“À menor percepção de que há um princípio de retomada de casos e óbitos, tem que recuar de novo”, afirma. Para que se consiga avançar mais nas liberações eu preciso do monitoramento, saber o que vai acontecer nos próximos dia, principalmente nas duas semanas depois desse processo de reabertura. Se isso repercutir em aumento de casos, principalmente de óbitos, é sinal de estas medidas podem ter sido tomadas um pouco cedo”.

O que permanece …

– O uso da máscara segue obrigatório em espaços de uso público ou de uso coletivo;
– Segue proibido o cnsumo de bebidas alcoólicas em vias públicas, salvo em feiras livres e de artesanato.

… e o que libera*

*Atividades liberadas com uso obrigatório de máscara e respeitando a capacidade de público prevista no Certificado de Licenciamento do Corpo de Bombeiros (CLCB)

-Atividades comerciais de rua não essenciais, galerias, centros comerciais e shopping centers; –Atividades de prestação de serviços não essenciais, tais como escritórios em geral, salões de beleza, barbearias, atividades de estética, saunas, serviços de banho, tosa e estética de animais, floriculturas e imobiliárias;
-Academias de ginástica e demais espaços para práticas esportivas individuais e coletivas;
-Restaurantes, lanchonetes, panificadoras, padarias, confeitarias e bares;
-Lojas de conveniência em postos de combustíveis;
-Comércio varejista de hortifrutigranjeiros, quitandas, mercearias, sacolões, distribuidoras de bebidas, peixarias, açougues, e comércio de produtos e alimentos para animais;
-Mercados, supermercados, hipermercados e lojas de material de construção;
-Feiras livres;
-Parques infantis e temáticos;
-Feiras de artesanato, cinemas, museus, circos e teatros para apresentação musical ou teatral;
-Casas de festas e de recepções, incluídas aquelas com serviços de buffet, salões de festas em clubes sociais e condomínios e estabelecimentos destinados ao entretenimento, tais como casas de shows, casas noturnas e atividades correlatas;
-Eventos corporativos, de interesse profissional, técnico e/ou científico, como jornadas, seminários, simpósios, workshops, cursos, convenções, fóruns e rodadas de negócios;
-Mostras comerciais, feirões e feiras de varejo;
-Serviços de call center e telemarketing;
-Igrejas e templos;
-Eventos esportivos profissionais com público externo e de apresentação teatral ou musical em espaços abertos;

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Estádios cheios, baladas, horários ilimitados… O que restou de restrição em Curitiba?”

  1. Com cerca de 4 óbitos por dia, em um mês morrerão 120 pessoas por covid em Curitiba. Com as medidas que estavam vigentes. Entre elas, cerca de 70 teriam votado no atual prefeito. Às vezes creio que a pandemia é de ignorância,apatia, baixa auto-estima e de tendências suicidas.

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