Em Curitiba, 115 mil famílias vivem com renda para uma cesta básica por mês

PEC de benefícios aprovadas pelo governo deve demorar mais a aliviar peso dos alimentos

A quantidade de famílias em Curitiba que vivem com dinheiro para apenas uma cesta básica por mês passou de 115 mil, indica levantamento feito pelo Plural a partir dos dados mais atualizados do Cadastro Único (CadÚnico), sistema do governo Federal utilizado como porta de entrada para programa sociais, e do preço do pacote essencial de produtos alimentícios. No Paraná, são 1.136.530 famílias na mesma situação.

O cruzamento considerou a metodologia do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) empregada para avaliar a variação mensal dos custos da cesta básica no país em relação ao salário-mínimo nacional, atualizado em janeiro para R$ 1.212. Em maio, a cesta básica em Curitiba chegou a R$ 713,68 e absorveu 63,6 % do salário-mínimo líquido, já embutidos os 7,5% da Previdência Social.

Neste mesmo mês, o CadÚnico contabilizava 115.429 famílias vivendo na capital paranaense com até um salário-mínimo – ou seja, com condições de comprar apenas uma cesta básica no período, sem considerar outros fatores de gastos e endividamento capazes de afogar ainda mais esta conta.

Dados de famílias de Curitiba, inscritas no CadÚnico, por renda salarial. Fonte: CadÚnico/ Governo Federal

De acordo com o Dieese, considera-se cesta-básica a definição por decreto de um conjunto composto por “13 produtos alimentícios em quantidades suficientes para garantir, durante um mês, o sustento e bem-estar de um trabalhador em idade adulta”. Os indicadores de 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram, no entanto, que os lares curitibanos são formados, em média, por 2,7 pessoas.

Maquiando a pobreza

É justamente este cenário desolador que o presidente Jair Bolsonaro tentará maquiar com a aprovação da chamada “PEC Kamikaze” pelo Congresso. A votação final pela Câmara foi na noite desta quarta-feira – todos os deputados do Paraná compraram a proposta.

Na prática, o texto mantém o país sob estado de emergência como brecha para aplicar dinheiro em programas sociais. Por regra eleitoral, a medida não seria possível – não se pode aplicar dinheiro em programas sociais a três meses da eleição –, mas a excepcionalidade do emergencial driblou a norma e vai permitir ao governo, a partir de agora, furar o teto de gastos e injetar R$ 41,25 bilhões até o fim do ano em benefícios sociais.

Economistas que vêm avaliando a medida ao longo das últimas semanas têm sido taxativos em afirmar que as vantagens da PEC serão mais imediatas para a classe média do que para a camada mais pobre.

Isso porque boa parte dos benefícios foram programados para converter a taxa acentuada de inflação sobre os combustíveis. Da verba, R$ 3,8 bilhões serão usados para compensar os estados que concederem créditos de ICMS para produtores e distribuidores de etanol e R$ 7,4 bilhões para “ajuda” a caminhoneiros e taxistas autônomos duramente impactados com a elevação acelerada no valor cobrado pelo litro do diesel e da gasolina.

Inflação

E apesar do encorpar o Auxílio Brasil e autorizar repasse de R$ 500 milhões ao programa Alimenta Brasil, a equipe de Bolsonaro não trouxe à discussão medidas para reduzir o impacto da inflação sobre os alimentos. Esta, sim, um fardo na camada mais pobre da população. Em maio, apesar de recuos importantes em preços de itens do gênero, alimentação continuou a exercer peso principalmente entre as famílias de renda mais baixa, afirma a análise conjuntural mais recente divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“Os dados desagregados revelam que, para as famílias de renda mais baixa, as maiores pressões inflacionárias nos últimos doze meses residem nos grupos alimentação e bebidas; e habitação (…). Já para as famílias de renda mais alta, os pontos de pressão estão, sobretudo, no grupo transportes, refletindo os aumentos dos combustíveis (29,1%), além da alta no transporte por aplicativo (64,3%), no táxi (12,3%) e nas passagens aéreas (88,7%)”, diz a publicação.

Segundo o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias mais pobres, fechou junho em 0,62%, índice acima dos marcados em maio (0,45%) e em junho do ano passado (0,6%). A contribuição dos produtos alimentícios foi maior: 0,78% ante 0,57% dos não-alimentícios.

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