Joan Miró trouxe alegria em seus quadros, com cores, colorismo, curvas e itens não reais.
Tarsila trouxe o cubismo, com a representação da Ama de Leite e do Abaporu.
Portinari, por sua vez, trouxe a representação do Lavrador de Café, do Menino com Carneiro, mas também da Criança Morta e “Os Retirantes”.
A imponência do quadro “Os Retirantes” é tamanha que seu peso é sustentado por dois cubos no MASP.
Contudo, não é tão somente o tamanho da obra que representa sua grandeza, mas também o que de fato ela representa: o (triste) retrato da vida.
O retrato da vida e de um país que voltou para o mapa da fome.
O retrato de um país adoecido, que viu a pele dos Yanomamis grudada sobre os ossos.
O retrato da vida de uma população que vem sofrendo de desnutrição, malária e verminoses.
Se Portinari expressou em tons terrosos e cinza a miséria da seca “Dos Retirantes”, as fotografias-reais dos Yanomamis expressaram a falência moral humana em tons realistas com o sangue da nossa população.
O metal pesado das tintas que contaminou Portinari também contamina o ecossistema das comunidades, que sofrem com o mercúrio, com o garimpo e com a ausência estatal, de tal forma que morrem aos poucos todos os dias.
Portinari utilizou-se de elementos cubistas para impactar ainda mais sua obra, sem se preocupar com a representação exata dos corpos. Já as fotografias dos Yanomamis possuem apenas elementos realistas traçadas com-e-por sangue humano.
Uma obra de 1944 que permanece real nas lentes das câmeras-câmaras de 2023, coincidentemente, quase 80 anos depois.
Espetacular analogia,Raissa…..estamos com as mãos manchadas de sangue……