Curitibanos fumam menos e procuram mais ajuda contra o cigarro

Índice de fumantes na capital caiu de 15% para 11%, segundo governo

Aos 20 anos, o advogado Jader Pereira já fumava uma carteira de cigarros por dia. O vício persistiu por quase duas décadas e só cessou há 11 meses, com ajuda profissional. “Foi uma libertação”, diz ele. Jader e outros 60 mil curitibanos que pararam de fumar em 2018 ajudam a melhorar os índices de Curitiba no ranking das capitais com mais fumantes do Brasil. De primeira, a cidade caiu para terceira colocada. Os dados, do Ministério da Saúde, aliados a números da Prefeitura de Curitiba, mostram que cada vez mais brasileiros estão largando, ou tentando largar, o cigarro. As causas vão de doenças a mudanças sociais, como educação, programas de apoio e leis antitabagistas.

Na capital do Paraná, o número de fumantes, que correspondia a 15% da população em 2017, caiu para 11% em 2018. O relatório é da Vigitel e compõe o sistema de Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), do governo federal. Para se livrar do vício, muitos buscam auxílio, aumentando os índices pela procura por tratamentos públicos. O Programa de Controle do Tabagismo, da Secretaria de Saúde de Curitiba realizou 64% mais atendimentos no primeiro quadrimestre de 2019, se comparado ao mesmo período do ano passado. De janeiro a abril último, foram 758 atendimentos nas Unidades de Saúde, contra 462 em 2018.

A prefeitura atribui os bons números à intensificação de abordagens e à oferta de tratamento e grupos de apoio nas Unidades de Saúde. “Um amigo me indicou pois tinha participado e pra ele funcionou, então eu me animei”, lembra Jader, um dos participantes do grupo da Unidade Ouvidor Pardinho.

Após 11 meses sem fumar, o advogado Jader continua frequentando o grupo de apoio da Prefeitura. Foto: Arquivo Pessoal

Para ele, a motivação foi familiar. “Perdi meu pai por um câncer no pulmão e vi minhas duas sobrinhas nascendo. Queria estar longe deste mal, pegar elas sem cheiro de cigarro. Sem falar que hoje o fumante não é bem aceito pela sociedade. Não se pode fumar em quase nenhum ambiente, há leis e regras em todos os lugares fechados, em condomínios. Para fumar você precisa se expor ao frio e ao calor. São mais motivos para parar”, acredita.

As motivações para enfrentar o vício são variadas. “A maioria, sem dúvida, procura parar só quando tem uma doença, mas ainda temos outros relatos, como motivação por reclamações da família, gestante buscando a saúde do feto e pais pelo pedido dos filhos. Alguns ainda procuram a saúde bucal e da pele e ainda há os que relatam sofrer preconceito pelo hábito de fumar”, revela a médica pneumologista Mariana Sponholz Araújo, responsável pelo laboratório de tabagismo do Hospital de Clínicas, em Curitiba.

Quem fuma

Segundo ela, o jovem ainda fuma muito, mas a maior frequência do tabagismo ainda está associada ao grau de escolaridade e informação do paciente. O perfil é reforçado no relatório nacional da Vigitel, que mostra a frequência de adultos fumantes em 10% e o hábito de fumar reduzido com o aumento da escolaridade. O índice de fumantes é mais alto entre homens com até oito anos de estudo (18%), “excedendo em cerca de duas vezes a frequência observada entre indivíduos com 12 ou mais anos de estudo”.

Os que mais fumam no Brasil são homens e estão na faixa etária entre 35 e 65 anos. Destes, 2,6% declararam fumar 20 ou mais cigarros por dia. Em Curitiba, os que fumam uma carteira, ou mais, de cigarro diariamente representam 5% dos fumantes da região, sendo que a maioria deles está entre os 55 e 65 anos, aponta a Vigitel.

Como parar

Livrar-se do tabagismo não é fácil e requer, em algumas situações, auxílio medicamentoso. Para uma avaliação, é necessário atendimento profissional. “A prefeitura oferece um bom serviço de apoio que associa terapias com medicações, quando indicado. Se a pessoa tem acesso à medicina privada, pode procurar um pneumologista para orientações detalhadas”, explica a médica.

Ela lembra que o tratamento envolve o trabalho psicológico, para lidar com as motivações, os medos e a dependência física da nicotina. “Há muito do hábito, do costume de associar o cigarro ao nervosismo ou ao café, por exemplo.”

A médica destaca que, geralmente, as pessoas que precisam de auxílio maior no tratamento são as que fumam mais, ou as que fumam logo ao acordar, o que caracteriza grande grau de dependência.  “A taxa de quem tenta parar por conta própria é inferior (3%) a de quem procura assistência ou ajuda profissional”, ressalta.

De acordo com a pneumologista, de 70% a 80% dos fumantes dizem que querem parar, mas menos de 6% conseguem ficar sem fumar ao final de um ano. “Com a terapia de grupo, isso pode girar em torno de 20%. Com terapia e medicação, em torno de 40%. Mas tudo depende da pessoa, do grau de dependência, do componente genético e, claro, da motivação.”

Em Curitiba, são 60 Unidades de Saúde que possuem Grupos de Controle do Tabagismo. Eles são gratuitos e orientados por profissionais de diferentes áreas, como médicos, enfermeiros, psicólogos, dentistas, nutricionistas e educadores físicos. Para participar, basta se informar no posto mais próximo.

Doenças relacionadas ao Tabagismo

Neoplasias: câncer de pulmão, de cabeça e pescoço, esôfago, estômago, pâncreas, bexiga, colo de útero, colo retal.

Respiratórias: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), conhecida como bronquite do fumante ou enfisema, fibrose pulmonar. Agrava todas as doenças pré-existentes, como asma.

Doenças cardiovasculares: infarto, AVC e trombose.

Aumento de suscetibilidade a infecções, resfriados, gripe, pneumonia e tuberculose.

Disfunção erétil, menopausa e envelhecimento precoce.

*Fonte: Hospital de Clínicas Curitiba

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