Conselheira da Saúde de Curitiba é presa por racismo

Ofensa racista pode levar a perda de mandato da conselheira, que representa a população do Pinheirinho no Conselho de Saúde

Anoema Lopes Santana, 69, foi presa na tarde desta quinta-feira (08), acusada de atos racistas contra o segurança Marcelo Melo, 47, servidor da Câmara de Curitiba. O caso foi encaminhado para o 8° Distrito Policial, no Portão. Anoema é representante do Distrito do Pinheirinho no Conselho Municipal de Saúde (CMS), órgão responsável por acompanhar e avaliar a política de saúde pública e a gestão do SUS na capital.

O comportamento da conselheira na Câmara Municipal pode levar à sua remoção do Conselho, uma vez que o regimento interno do CMS estipula que é vedado ao conselheiro “atentar contra a ética, a moral e o decoro”. A última reunião do conselho este ano acontece no dia 14 de dezembro. O Plural tentou contato com o presidente do Conselho, Adilson Tremura, mas ele não respondeu às ligações.

Se for expulsa do Conselho, Anoema será substituída por Salette Celia Januário, primeira suplenta.

Anoema estava acompanhando a audiência pública “Relacionamento entre o poder público e os hospitais: desafios contemporâneos”, organizada pela Comissão de Saúde, Bem-Estar Social e Esporte, quando disse várias frases racistas contra a vítima.

Enquanto aguardava na recepção, ela pediu um copo d’água e, como gentileza, Melo a serviu. “Nesse momento ela falou: é, ainda bem que tem um preto agora na câmara [para servir]. Falou assim: vocês negros têm de ser nossos serviçais […] Foi muito desagradável essa situação. Na hora eu travei, fiquei sem reação nenhuma”, contou o segurança, que trabalha há quatro meses na Câmara, conversou à repórter Tami Taketani.

A autora também disse que “preto quando não c*ga na entrada, c*aga na saída. A vítima ainda conversou com uma colega e com o supervisor antes de fazer a denúncia. A criminosa foi presa pela Guarda Municipal.

“Eu lamento muito esse fato. A gente precisa de mais amor. Passamos por uma pandemia, por guerra e as pessoas continuam sem empatia. É esse recado que eu quero deixar”, disse Melo.

Anoema Lopes Santana cometeu atos racistas contra o segurança Marcelo Melo | Foto: reprodução redes sociais

Também esteve na delegacia, Queila Silva, testemunha do caso, que também trabalha na Câmara. “Quando ela falou: ainda bem que temos um preto aqui. Eu olhei para o Melo, ele olhou para mim e nós ficamos surpresos com a declaração”. A servidora, uma mulher branca, chorou durante a entrevista para o Plural ao relatar o racismo sofrido pelo colega.  “É muito triste ter que repetir isso [para entrevista] sabe? […] Eu espero que ela receba uma lição, receba uma punição porque ela foi totalmente racista”.

Repercussão

Logo após o ato racista vereadores repercutiram o caso. As assessorias parlamentares dos petistas Carol Dartora e Renato Freitas, ambos parlamentares negros, acompanharam a vítima até a delegacia.

Dalton Borba (PDT) usou as redes sociais para repudiar o ato racista, que classificou como “lamentável e repugnante”. Renato Freitas publicou um vídeo com o momento da prisão e disse que “nossa luta é diária contra esses pilantras”. Dartora escreveu que “Também nos solidarizamos com o segurança vítima dessa violência e todos os demais servidores da Câmara Municipal”.

A Câmara Municipal de Curitiba emitiu uma nota condenando o ataque e afirmou que o caso, em princípio classificado como injúria racial, pode ser enquadrado como racismo no avançar das investigações da Polícia Civil.

“A vítima, um funcionário terceirizado da Casa, foi registrar o boletim de ocorrência acompanhada de um procurador jurídico da CMC, que é membro da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR). Ele receberá todo o apoio institucional da Câmara de Curitiba durante o desenvolvimento do caso.

A CMC reafirma que repudia o racismo ou qualquer outro tipo de discriminação em todas as suas formas. Esperamos que este caso tenha um encaminhamento exemplar, para que situações deste tipo cessem de acontecer. A CMC também reafirma o apoio da instituição aos seus funcionários terceirizados, em especial à equipe de vigilância patrimonial, para que se sintam amparados para denunciar casos de racismo e quaisquer tipos de discriminação”, diz o texto.

Investigação

Após a situação racista a mulher entrou no plenário para acompanhar a audiência pública e somente com o encerramento das atividades, por volta das 15h35, foi presa em flagrante pela GM.

Na delegacia foram ouvidas a autora do crime, testemunha e vítima. A Polícia Civil registrou o caso como injúria racial. O documento, assinado pelo delegado Marco Antonio Goes Alves, curiosamente não traz a cor da pele da vítima. No local destinado para esta informação consta o texto “não informado”.

Outros casos

Na última semana um servidor do Ministério Público do Paraná foi abordado pelo segurança da loja Super Muffato do Portão, em Curitiba. Kleyton Julião estava pesquisando preços de eletrônicos para o apartamento novo quando foi “confundido” com um suposto homem que teria praticado furto no estabelecimento.

Julião foi obrigado a levantar a roupa no meio da loja pelo segurança Flavio Henrique Lins de Oliveira, que é branco. Nenhum item furtado foi encontrado. A PC também está investigando o caso.

Mês passado a advogada Mariana Lopes, que é negra, foi vítima de racismo por uma servidora do INSS, também na capital. Catia Yoshida, a autora do crime, falou que “Não sabia que preto podia ser advogado”.  

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2 comentários em “Conselheira da Saúde de Curitiba é presa por racismo”

  1. Racismo por si só já é um dos crimes mais odioso, mas quando cometido por uma senhora, é ainda mais lamentável. Quando é que esta Conselheira vai aprender a respeitar as pessoas, provavelmente nunca. Contudo espero que justiça seja feita.

  2. No Brasil existe lei, mais ela não é respeitada e com isso esse tipo de “crime” vai continuar. Espero que com a prisão dela as coisas comecem mudar.

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