Como Curitiba vai lidar com as bicicletas compartilhadas?

Serviço de bikes compartilhadas deve começar em setembro, mas ciclistas já enfrentam problemas pela cidade

Há poucos dias, a Prefeitura começou a instalar as primeiras estações de bicicletas compartilhadas de Curitiba. Com um total de 50 estações e 500 bicicletas, o serviço deve ficar disponível para a população a partir do mês que vem. O programa de compartilhamento de bicicletas representa um desafio para o Plano de Estrutura Cicloviária de Curitiba instituído por decreto, em novembro de 2019. 

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Na época de seu lançamento, o plano estipulava a criação de 408 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e passeios compartilhados entre pedestres e ciclistas, até 2025. Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) foram construídos até o momento 265,3 quilômetros, o que corresponde a 65% do projeto. 

Bicicletas compartilhadas

Apesar do número parecer animador, o arquiteto André Turbay, que é também urbanista e doutor em gestão urbana, explica que a maioria desses trechos voltados à circulação de bicicletas está na zona central da cidade. “Se observamos a rede de infraestrutura cicloviária, que coincide com as áreas melhor atendidas pelo transporte público, vamos ver que tem áreas periféricas que a bicicleta seria uma excelente opção, mas que tem um déficit muito grande de estrutura cicloviária”, diz Turbay. 

Para o arquiteto, a iniciativa da prefeitura é positiva, mas é necessário que esse serviço consiga chegar a toda população. “Estou ansioso para ver esses 50 pontos [de compartilhamento de bikes], acho até que é mais importante a localização desses pontos do que a quantidade de bicicletas”, aponta o urbanista.

Em Curitiba

André Felipe Dias, de 24 anos, costuma usar a bicicleta diariamente para ir ao trabalho, mas devido a um pequeno incidente teve que abandonar seu uso nas ultimas semana. O jovem comenta que o percurso para ir ao trabalho, de ônibus, leva uma hora. De bike, ele leva a metade do tempo. 

No entanto, a agilidade da bicicleta cobra seu preço. André relata que está sem usar sua bicicleta devido a uma colisão com um veículo que estava parado em local inapropriado. “O cara estava parado em uma curva conversando, não tinha como eu ver ele e quando eu bati no carro, ele simplesmente saiu”, conta o jovem. 

Acidentes

Apesar do susto, André está bem, mas relata que essa fuga do motorista é comum e que em raras ocasiões motoristas prestam auxílio ao ciclistas. Segundo o Ippuc, nos últimos anos o número de incidentes envolvendo ciclistas tem diminuído. Em 2018 foram registrados 305 acidentes, já em 2021, Curitiba registrou apenas 242 incidentes envolvendo ciclistas. Dados mais recentes não foram disponibilizados. 

Sobre o projeto da prefeitura, o jovem acredita que o uso das bikes compartilhadas irá facilitar o deslocamento dentro da cidade. “Não sei se muita gente vai usar, mas quem usar vai ter mais facilidade”, mas acredita que para que o serviço seja o melhor para todos é necessário criar mais trechos de ciclovias, cuidar dos já existentes e sinalizá-los corretamente.

A ideia do compartilhamento de bikes em Curitiba não é uma novidade. Em 2018 a cidade teve seu primeiro contato com esse tipo de serviço através da empresa Yellow. O serviço no entanto foi encerrado em 2019, na época a empresa Yellow responsável pelos cuidados das bikes e patinetes alegou estar passando por problemas financeiros e encerrou suas atividades, decretando falência pouco tempo depois.

Exemplo 

Para André Turbay, a Yellow pode ser vista como um exemplo do que não fazer com o serviço de compartilhamento de bikes atual. Para o especialista, a inacessibilidade do sistema foi um dos motivos que fez o serviço não dar certo na capital paranaense. “Um dos problemas da Yellow foi o valor muito caro e a limitação a áreas específicas da cidade”, comenta.

No entanto, Turbay acredita que o saldo positivo da Yellow foi ter apresentado à população a possibilidade de utilizar a bicicleta no dia a dia como um transporte alternativo. “Houve um início do uso da bicicleta, a pessoa teve a oportunidade de pegar gosto por esse sistema de mobilidade, que serve para caminhos curtos. A bicicleta é muito bem-vinda e a compartilhada é melhor ainda. Caso chova ou eu precise ir para outro lugar, tenho onde deixar essa bicicleta”, finaliza.

Uma das diferenças entre o sistema da Yellow e o da Tembici, empresa que prestará esse serviço agora, é a obrigatoriedade de devolução das bikes em uma das estações espalhadas pela cidade. Até o momento a prefeitura não divulgou os valores desse serviço e nenhuma bicicleta compartilhada foi disponibilizada à população.

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