Em 2019 e nos quatro anos anteriores, a pessoa que entrava num hospital público de Curitiba ficava, em média, 4,6 dias internada e tinha 3% de chance de morrer. Tudo isso ao custo médio de R$ 1.883 por internação. Em 2021, ao entrar num hospital público, o cidadão recebe um serviço 66% mais caro: R$ 3.170,60. O tempo de internação é maior: 5,4 dias. Mas o mais preocupante, a chance de morrer é 2,6 vezes maior: 9 a cada cem pacientes.
O aumento do custo e da mortalidade foi registrado em 2020, quando o custo médio de internação saltou para R$ 2.512,48 (aumento de 31% em relação a 2019), apesar do total de internações ter caído 15% em relação a produção do SUS na capital em 2019. Em 2020, a cada cem pacientes hospitalizados, cinco morreram.
Os resultados acima foram calculados pelo Plural a partir das Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) emitidas no sistema SUS de Curitiba de 2015 a abril de 2021. E mostram o impacto da pandemia no atendimento hospitalar da capital.
Sem medidas de mitigação da contaminação pelo coronavírus, a cidade optou por enfrentar a pandemia com a abertura de novos leitos especiais. Os 1.298 leitos especiais (enfermaria e UTI) para Covid-19 em Curitiba representam 40% do total de 3.213 leitos habilitados pelo SUS na cidade em abril de 2021.
Essa estratégia resultou num gasto extra de mais de R$ 50 milhões em 2020, o suficiente para manutenção de duas UPAs na cidades, apesar da realização de procedimentos eletivos (não urgentes) ter ficado suspensa durante boa parte do ano. Entre os R$ 335 milhões gastos com procedimentos no SUS de Curitiba em 2020, R$ 62,3 milhões foram destinados ao tratamento de infecções pelo coronavírus. No mesmo período, a cidade gastou R$ 63 milhões para manter o Bolsa Família de 36 mil famílias.
Atualmente, por conta da expansão do número de leitos Covid-19 na cidade, todas as dez UPAs foram convertidas em locais de internamento, uma espécie de hospital de campanha que aproveita a infra-estrutura já instalada nesses locais. Com isso, parte dos atendimentos de urgência e emergência foi transferido para unidades básicas de saúde.
Em 2021, a situação piorou. Entre os internamentos realizados na cidade nos primeiros quatro meses do ano já morreram o equivalente a 66% de todas as mortes registradas em 2020. A mortalidade nas internações do SUS subiu 59%. E o custo de internação cresceu 26%.
Segundo os dados da AIHs processadas em Curitiba de janeiro a abril de 2021, a cidade já gastou este ano o mesmo que gastou em 2020 inteiro com diárias de UTI para tratamento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)/ Covid-19. É um efeito direto do alto patamar de infecções e internamentos por Covid-19 na cidade desde o início do ano, quanto o total de internamentos saltou de cerca de 800 para 1100 com picos de 1300 internados só em leitos Covid.
Apesar do grande número de leitos ativados, a cidade batalha para conseguir dar conta da demanda por internamentos. A fila de pacientes que aguardam atendimento hospitalar está acima de 350 pessoas há quinze dias e já teve picos de 400.
Muito embora parte do aumento na mortalidade possa ser atribuída a novas variantes da Covid-19, outros fatores podem contribuir para piorar as chances de quem precisa de atendimento hospitalar na capital. O principal é o cansaço e esgotamento das equipes de saúde, além da falta de profissionais qualificados para atendimentos nos novos leitos de UTI. Além disso, como o Plural já noticiou, há a demora na transferência de pacientes para leitos hospitalares e a falta de medicamentos.