Na última semana, pelo menos dois casos de apologia ao nazismo foram denunciados à Polícia Civil do Paraná. Em ambas as situações, que ocorreram em um Centro de Educação Infantil e uma Casa Estudantil, suásticas foram desenhadas e os espaços vandalizados.
Em entrevista concedida ao Plural, o coordenador do departamento de História do Museu do Holocausto de Curitiba, Michel Ehrlich, relacionou o aumento desses crimes ao avanço dos movimentos de extrema direita no país e defendeu a necessidade de investigar como os indivíduos têm acesso a ideários como o neonazismo. “Precisamos pensar sobre as condições sociopolíticas que abrem espaços e possibilidades para esse tipo de ação para que a gente possa fazer um combate mais efetivo.”
Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ehrlich aponta que o crescimento expressivo de atentados e células neonazistas, principalmente nos últimos cinco anos, está associado ao aumento de outros grupos dentro da institucionalidade política.
“O que se observa, e isso não é uma exclusividade brasileira, é que embora esses grupos atuem à margem da institucionalidade e da Lei, eles ganham poder, visibilidade e atratividade à medida que a extrema direita – mesmo quando não identificada com o neonazismo – ganha poder dentro da institucionalidade”, afirma.
Nazismo e ideários extremistas
De acordo com Ehrlich, não existe um caminho único pelo qual as pessoas chegam a determinados tipos de ideários. No entanto, se o ponto de chegada são convicções ilegais (como racismo e neonazismo, por exemplo) há, na maior parte das vezes, um denominador comum: o contato com ideias que sejam dúbias em relação à Lei e que tenham certa aceitabilidade social.
“Muitas vezes, a adesão das pessoas a esse tipo de ideário se dá por fóruns de discussão masculinistas, extremamente elitistas e racistas. À medida que essas ideias circulam mais na sociedade, não é de se espantar que alguns dos indivíduos que compactuam com elas vão ter acesso também a ideias ainda mais extremistas ou ainda mais interditadas legalmente como é o caso do neonazismo.”
Educação
Quando se fala em combater esses atentados, o historiador destaca a importância da conscientização da população sobre os crimes e o genocídio cometidos pelo regime nazista por meio da educação. Porém, Ehrlich faz uma ressalva de que a educação sozinha não conseguirá resolver todos os problemas do mundo.
“Precisamos ter em mente que educação é essa. E aí vem justamente a questão de pensar como o Holocausto se relaciona a práticas anteriores. É, de certa forma, muito fácil se chocar e condenar um campo de concentração porque podemos todos, ou quase todos, concordar que é uma estrutura condenável e abominável. O desafio é a gente demonstrar que o campo de concentração é um resultado de uma série de processos e que está vinculado – entre diversas outras coisas – ao discurso de ódio, por exemplo, que hoje vem sendo defendido como uma ideia distorcida de liberdade de expressão.”
Para o historiador, a educação sobre os crimes nazistas precisa, portanto, ir além da demonstração de que eles ocorreram. É fundamental abordar o processo que culminou e possibilitou o Holocausto, e expor o vínculo dos crimes nazistas a práticas e ideias atuais que socialmente nem sempre são associadas a eles.
O caso de Tapejara
No dia 16 de fevereiro, pessoas invadiram o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Dom Bosco em Tapejara, no noroeste do Paraná, e desenharam suásticas nas paredes de uma sala de aula. Os suspeitos também atearam fogo nos materiais das crianças e dos professores.
De acordo com a Secretaria de Educação Municipal de Tapejara, as aulas foram suspensas na unidade durante 24 horas para os trabalhos de limpeza e perícia no local. Os cerca de 180 estudantes do CMEI retornaram no dia seguinte.
Ao Plural, a Polícia Civil do Paraná (PCPR) informou que segue investigando o caso para identificar os suspeitos. No momento, estão sendo realizadas diligências a fim de concluir o inquérito policial.
O caso da CEUC
No último sábado (18), as moradoras da Casa da Estudante Universitária de Curitiba (CEUC), ligada à UFPR, encontraram uma suástica na porta do elevador da casa e cartazes em defesa do movimento negro rasgados. Em janeiro deste ano, a instituição já havia denunciado e registrado na polícia outro caso de apologia ao nazismo e ataques racistas.
A UFPR, por meio da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (Sipad) e da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), está investigando o caso.
Denúncia
Para denunciar atos antissemitas e apologia ao nazismo, é possível fazer boletim de ocorrência em delegacia, acionar o Ministério Público ou procurar entidades ligadas à comunidade judaica como a Federação Israelita e o Museu do Holocausto de Curitiba.
No Brasil, a apologia ao nazismo é crime previsto no artigo 20 da Lei nº 7.716/89 do Código Penal. A pena pode variar de dois a cinco anos de reclusão, além da aplicação de multa.
Olá Cecília
Chegou via WhatsApp, um documento da 2 guerra. Gostaria que você verificasse a veracidade dele.
Acredito que ele tenha um cunho histórico relevante.
Até.