Símbolo antissemita e denúncia de racismo na Casa da Estudante Universitária de Curitiba

Universidade Federal do Paraná apura o caso e deve instalar câmeras de segurança no local

Na última semana Keu Araújo, presidente da Casa da Estudante Universitária de Curitiba (CEUC), registrou um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil depois de encontrar um símbolo antissemita no elevador do local. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) investiga a autoria do crime.

Araújo é estudante de economia e ao Plural afirmou que desde 2020 ocorrem casos de racismo e outras situações de discriminação no CEUC. A suástica desenhada no elevador rendeu uma nota de repúdio (leia a íntegra no fim do texto) e culminou em uma reunião com a equipe da UFPR, embora o autor ou autora ainda não tenha sido identificado.

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“São pessoas que não têm empatia e esse tipo de agressão é grave. Solicitamos apoio psicológico para quem precisar, mas não podemos deixar passar esses atos do elevador”, diz Araújo.

Além do símbolo nazista, também há outras mensagens escritas na CEUC: “Sou branca, não sou racista”, “Fora Keu” (que é uma pessoa negra e não-binária).

Investigação

Araújo, junto com o advogado Valnei França, registrou o boletim e ocorrência. Estudantes também acionaram o Museu do Holocausto. A moradia estudantil foi visitada pelo reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca e equipe.

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Em nota a universidade disse que “apura devidamente o caso, que já está em processo de investigação” e que “não compactua com nenhuma forma de discriminação ou violência, seja ela física, verbal ou simbólica”.

Atualmente há cerca de 80 pessoas morando na Casa da Estudante | Foto: divulgação

Atualmente há cerca de 80 pessoas morando na CEUC, o que dificulta o trabalho de identificação do autor do crime. Por outro lado, a UFPR afirmou que vai atender ao pedido das estudantes e câmeras de segurança serão instaladas dentro do prédio, que fica na rua General Carneiro.

Denúncias

Um documento detalhando os crimes foi enviado à diretoria disciplinar da UFPR no último dia 19. O texto cita das frases e também vandalismo em adesivos de imagens de mulheres negras, além de um caso de agressão contra uma estudante negra, ocorrido no segundo semestre do ano passado. O mesmo teor consta no boletim de ocorrência da Polícia Civil, cujo delegado responsável pelo caso é Danilo Crispim.

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Em casos de atos antissemitas, além das polícias, qualquer cidadão pode denunciar os fatos junto à Federação Israelita do Paraná ou pedir auxílio ao Museu do Holocausto – que também foi comunicado pela presidência da CEUC.

Em situações de racismo, estudantes e membros da comunidade da UFPR podem acionar a pró-reitoria de Assuntos Estudantis ou ouvidoria.

Nota de repúdio

“A Casa da Estudante Universitária de Curitiba (CEUC) vem por meio desta nota manifestar seu total repúdio acerca do caso de apologia ao nazismo e racismo ocorrido nos últimos dias, no qual o mais recente refere-se à uma suástica nazista desenhada no elevador.

Assim como ocorrido anteriormente, onde a representação em desenho de mulheres negras foi brutalmente destruída, não se trata apenas de um rasgo ou rabisco e sim um símbolo de ameaça e opressão. Quando refletimos sobre o nazismo e o que fazia dele algo tão horrendo, para além da simbologia complexa das suásticas e de toda uma política hegemônica, percebemos que a essência do horror nazista é a noção de que algumas pessoas são menos humanas do que outras, e de que basta pertencer a um determinado grupo étnico, social e religioso para perder o direito à dignidade, à liberdade e à vida.

adesivos rasurados
Imagens de mulheres negras rasuradas constam na denúncia das estudantes | Foto: divulgação

É evidente neste ato criminoso de apologia ao nazismo, o reflexo do atual contexto político de nosso país onde houve um crescimento da extrema direita e ideais supremacistas. Dado esse cenário, não podemos tratar como um caso isolado e muito menos naturalizar a situação, tanto as entidades representativas dos estudantes, quanto a universidade tem o dever de enfrentar qualquer manifestação dessa natureza. Nisso, serão tomadas todas as medidas necessárias — e em constante diálogo com a universidade — para uma resolução justa e efetiva o mais breve possível

Comissão Antirracista da CEUC, 2023.”

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