Artesãos estão insatisfeitos com nova modelagem das barracas da feira do Largo da Ordem

Debate começou em 2021, mas muitos feirantes alegam não ter sido ouvidos para tratar da mudança

Artesãos que expõem na feirinha do Largo da Ordem, em Curitiba, estão insatisfeitos com a nova modelagem das barracas, proposta pela prefeitura. Na última semana o vereador Marcos Vieira (PDT) protocolou uma indicação para que o edital de contratação de fornecedores fosse suspenso, o que não ocorreu já que a concorrência foi realizada nesta segunda-feira (10).

A indicação foi apoiada pelos vereadores professora Josete e Ângelo Vanhoni, ambos do PT, bem como por Maria Letícia (PV) e Amália Tortado (Novo). O documento foi motivado pelo apontamento dos artesãos que reclamam da falta de diálogo com a prefeitura para a nova modelagem.

A mudança vai deixar as barracas com 4m² de área útil (2mx2m), sendo a cobertura 2×3. No entanto, isso deve prejudicar a exposição dos produtos.

“Os artesãos questionam o projeto, muito em função do espaço, que oficializa um balcão em U com menores medidas do que eles têm à disposição atualmente com a bancada em L, e ainda maior altura, dificultando a exposição de peças no espaço superior. Pontos que os artesãos levantam há 2 anos mas não tem retorno algum. Ou seja, trata-se mais de uma imposição que uma construção coletiva”, destacou o vereador Marcos Vieira.

Além disso, os parlamentares também pediram à prefeitura novos modelos para que os próprios feirantes pudessem escolher. Esta proposta foi levantada ainda em 2022, durante audiência pública na Câmara Municipal, porém a prefeitura não acatou a sugestão.

Outra opção seria que membros do Instituto de Turismo, responsável pela gestão da feira, fossem à feira do Largo da Ordem para consultar pessoalmente os feirantes.

Incompatível

Os feirantes prepararam um abaixo-assinado com mais de 500 assinaturas pedindo que a prefeitura de Curitiba reconsidere o modelo das novas barracas. O documento foi entregue para vereadores e demonstra a insatisfação da categoria.

Um dos signatários é Aurélio Malhovano, cuja família trabalha com artesanato desde 1980. Ao Plural ele disse que a prefeitura deveria ter aberto diálogo com os feirantes. “O modelo apresentado deveria partir do atual, que é um dos melhores em quarenta anos e aí nos apresentar opções. Nós tentamos argumentar, mas só recebemos nãos e alguns talvez, nenhum sim”, lamenta.

Atualmente 1,1 mil feirantes utilizam o equipamento locado. O novo modelo das barracas foi inspirado numa pintura de Jean-Baptiste Debret, de 1835, que retrata vendedores de carvão e de milho. “Não estamos falando de estética, ela tem de ser funcional para quem trabalha”, critica Malhovano.

“Se é para gastar em barracas novas, falem com os maiores interessados, os artesãos”, desabafou Tiemi Takahashi, por meio das redes sociais. No Instagram ela fez uma foto ilustrando o quanto de espaço a menos os trabalhadores terão para expor os produtos.

A proposição enviada à prefeitura pelos vereadores detalha que “a própria Comissão de Feiras, composta pelos artesãos, informou que não houve um diálogo concreto, em que foram chamados apenas para 2 reuniões, uma primeira para se conhecerem e já em uma segunda com a apresentação do protótipo com um representante do IPPUC, sem aviso prévio de que essa seria a pauta. E na sequência somente foram informados que o edital para a licitação seria lançado em março, como de fato ocorreu, em 22 de março de 2023”.

barraca feira de Curitiba
A parte com tecido mostra o novo tamanho proposto pela prefeitura | Foto: reprodução/Instagram

O que diz a prefeitura?

A licitação do Instituto Municipal de Turismo (IMT) para as novas barracas ocorreu nesta segunda-feira (10). O processo está em fase de julgamento e o resultado deve ser anunciado no dia 17, conforme a prefeitura.

Houve uma única proposta classificada, cujo valor é de R$ 18,4 milhões. A fornecedora, de acordo com o processo, é Luciana Valente, cuja empresa é sediada no bairro Boqueirão, em Curitiba.

Embora ainda haja expectativa de reverter o modelo escolhido pela prefeitura devido a falta de diálogo, a prefeitura de Curitiba afirma que foi realizada uma reunião com os artesãos em fevereiro de 2022, quando participaram 250 pessoas.

Apesar das críticas dos artesãos, segundo o IMT houve audiência pública na Câmara no ano passado e havia um e-mail para recebimento de sugestões para o qual foram enviadas 50 mensagens. “Todas as considerações dos artesãos foram analisadas”, afirmou em nota o Instituto.

Entre as sugestões o IMT diz que foram acatadas a possibilidade de exposição em balcão em L ou U, mais proteção contra chuva nas laterais da barraca e o aumento do balcão, “solução para [a] prateleira inferior a mesa frontal para guarda de materiais” e possibilidade de inversão e redução do balcão.

Sobre o documento enviado pelos vereadores pedindo a suspensão da licitação, cujo último trâmite ocorreu nesta terça-feira (11), o Executivo ainda não se manifestou.

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3 comentários em “Artesãos estão insatisfeitos com nova modelagem das barracas da feira do Largo da Ordem”

  1. Josias de Castro

    No segundo ano a empresa que irá administrar as barracas irá receber R$140 por domingo, sabendo que são mais de 1000 barracas é um lucro de R$560.000 por mês, com barracas compradas por verba pública para os artesãos, em 4 anos a empresa terá lucrado R$26.880.000 com os artesãos, um lucro absurdo em cima de uma categoria já desvalorizada. É uma vergonha o que a prefeitura está fazendo com os artesãos

  2. Não se trata somente do modelo fisico e funcional proposto, o maior mesmo é o modelo de CUSTEIO proposto.
    Atualmente cada barraca custa ao artesão $ 40,00 por feira realizada.
    Esse valor compreende a montagem e desmontagem, bem como a guarda da barraca,
    No modelo proposto, no primeiro ano o custo seria $ 0,00 (subsídio da prefeitura), passando ao custo aproximado de $ 140,00 a partir do segundo ano.
    Isso é um verdadeiro despropósito e uma total falta de respeito com a inteligência de qualquer pessoa
    Esse é o real problema….
    Em nosso estatuto temos hoje o direito de adquirir uma barraca, realizar a montagem ou contratar quem realize o serviço
    A CORTINA DE FUMAÇA tem o real propósito de alterar o estatuto, retirando os direitos adquiridos em mais de 25 anos de trabalho.
    ATENÇÃO ARTESÃ E ARTESÃO
    RESPONSABILIZE SEU VEREADOR, ELE FOI ELEITO PARA TE DEFENDER !!!

  3. Houveram reuniões sim, mas em nenhuma aceitaram o que os artesãos frizaram: NÃO QUEREMOS O MODELO PROPOSTO DE BARRACA! NEM DE GESTÃO DAS MESMAS!

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