9 mil mulheres vivem sob medida protetiva em Curitiba

Desde 2014, a Patrulha Maria da Penha, da Guarda Municipal, realizou mais de 42 mil atendimentos

Cerca de nove mil mulheres estão sob medida protetiva em Curitiba. Elas recebem acompanhamento da Patrulha Maria da Penha, da Guarda Municipal, que nesta terça-feira (8) completa oito anos de atuação. Desde 2014, foram mais de 42 mil atendimentos realizados a mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar, e mais de cinco mil prisões por agressão contra mulheres. 

A Patrulha Maria da Penha trabalha na prevenção, proteção, monitoramento e acompanhamento de mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar que necessitam de medidas protetivas de urgência. O serviço faz parte das ações da Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, uma parceria entre a prefeitura de Curitiba e o Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR).

Além do atendimento policial, os guardas também são capacitados para prestar um apoio humanizado e assistencial para as mulheres vítimas de violência doméstica durante os serviços de monitoramento, estimulando-as para registrar denúncias e procurar acompanhamento jurídico. 

Também é oferecido apoio jurídico pela Defensoria Pública, além de visitas e acompanhamento periódicos pela patrulha.

Violência contra a mulher

Em 2021, as denúncias de violência de gênero aumentaram 26% em Curitiba. De janeiro a 18 de novembro do ano passado, a Casa da Mulher Brasileira (CMB), unidade voltada ao atendimento humanizado a mulheres vítimas de violência doméstica em Curitiba, registrou 8.887 atendimentos. No mesmo período de 2020, foram feitas 7.005 assistências.

Apenas neste ano, a CMB registrou uma média de 35 atendimentos por dia. Foram recebidas 1.655 vítimas de violência doméstica até o dia 15 de fevereiro de 2022. Na Delegacia da Mulher (DM) o número é parecido: de 30 e 40 atendimentos diários. 

Desde a implantação da CMB, em junho de 2016, foram feitos um total de 68.971 atendimentos, sendo 3.445 para mulheres provenientes da Região Metropolitana de Curitiba, Litoral, e outros municípios e estados. Durante os cinco anos de funcionamento da Casa, foram ocupados 1.191 leitos do alojamento temporário (até 48 horas), 604 por mulheres vítimas de violência e 587 pelas suas crianças.

A violência doméstica é aquela que mata, agride ou fere física, psicológica, sexual, moral ou financeiramente a mulher. Ela tem evolução gradativa e pode ser cometida por qualquer pessoa que tenha uma relação familiar ou afetiva com a vítima.

Em casos de violência, a Patrulha Maria da Penha recomenda que a mulher mantenha contato com familiares informando o que acontece dentro de casa e reafirma a importância de uma rede de apoio formada por amigos e famílias da vítima. O telefone de emergência da patrulha é o 153.

Recursos

Nesta terça-feira (8), o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) divulgou uma nota técnica apontando que, em 2022, o Brasil reservou o menor orçamento para medidas de enfrentamento à violência contra a mulher dos últimos quatro anos.

Segundo a análise do instituto, o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos alocou apenas R$ 5,1 milhões de seu orçamento deste ano para o enfrentamento à violência e promoção da autonomia. Outros R$ 8,6 milhões foram destinados às Casas da Mulher Brasileira, o que corresponde a apenas R$ 318 mil por Estado.

Imagem: Nota técnica do Inesc

“Os números alarmantes de violência contra a mulher são um retrato de um orçamento que não permite que os recursos federais cheguem aos Estados e municípios, ou quando chegam é com atraso e em quantidade insuficiente”, afirma a assessora política do Inesc, Carmela Zigoni, que defende a urgência de adoção de políticas públicas que efetivamente enfrentem a violência, apoiadas em orçamento específico e com execução eficiente.

Em 2021, a pasta de Damares Alves executou apenas metade do que foi autorizado pela Lei Orçamentária Anual (LOA). Dos R$ 71,1 milhões de recursos do governo federal destinado a financiar as políticas para as mulheres, 100% foi autorizado, mas 49,4% desse montante diz respeito a pagamentos de restos a pagar de anos anteriores, ou seja, pagamento de contratos firmados sem relação com ações efetivamente contratadas em 2021.

Para as Casas da Mulher Brasileira, dos R$ 21,8 milhões autorizados, foram gastos apenas R$ 1 milhão. No ano anterior, apenas R$ 308 mil dos R$ 71,7 milhões disponíveis foram utilizados, e em 2019 nada foi executado.

Imagem: Nota técnica do Inesc

No auge da pandemia em 2020, o governo deixou sem utilização 70% do recurso voltado ao enfrentamento da violência contra as mulheres. Um total de R$ 93,6 milhões não chegou aos Estados e municípios para financiar a rede de atendimento às mulheres.

Questionada pelo Estadão Conteúdo a respeito dos dados do Inesc, a pasta informou que o relatório do Inesc “parte de uma premissa equivocada, de que o orçamento para mulheres é executado somente a partir deste Ministério” e que “a política de promoção de direitos e de assistência social e em saúde da mulher é transversal, e envolve praticamente toda a Esplanada”.

Sobre os restos a pagar, o ministério declarou que “a maior parte é decorrente de obras da Casa da Mulher Brasileira” e que há 30 casas em implementação, atualmente. O programa, segundo a pasta, já recebeu R$ 98 milhões em investimentos. “Temos a garantia da execução da política pública. Entretanto, seguindo as boas práticas de uso racional do Erário, os pagamentos são realizados conforme o andamento da obra. Por isso a execução total ainda está em andamento.”

Para o orçamento de 2022, o Ministério informou que o total previsto de R$ 46,4 milhões conta com aumento de quase R$ 5 milhões em recursos discricionários e R$ 7 milhões em emendas individuais.

*Com informações da prefeitura de Curitiba e do Estadão Conteúdo.

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