Em sessão marcada por racismo institucional, Câmara cassa Renato Freitas novamente

Vereador diz que discurso sobre racismo é "vitimismo". Única vereadora negra chora em plenário. Caso será levado à Justiça novamente

A Câmara de Curitiba encerrou nesta sexta (5) pela segunda vez o processo de cassação de mandato do vereador Renato Freitas (PT). Por 23 votos contra sete (e duas abstenções), o parecer do Conselho de Ética sugerindo a perda de mandato foi acatado. Com isso, a suplente Ana Júlia Ribeiro (PT) deve voltar ao cargo a partir da semana que vem.

A sessão foi marcada por falas racistas e por uma longa discussão sobre se a cassação seguia ou não as exigências legais. A defesa de Renato Freitas exibiu provas contundentes de que o processo contra Renato Freitas já havia extrapolado há pelo menos dez dias o prazo máximo legal estabelecido pela decadência. Em certo momento, o principal advogado da equipe de Renato, Guilherme Gonçalves, chegou a alertar que caso o presidente Tico Kuzma (Pros) insistisse na votação poderia responder criminalmente por isso.

Leia mais: Câmara ignora lei e vota pela cassação de Renato Freitas

Em vários momentos, a defesa solicitou a Tico que colocasse em votação um requerimento para que os vereadores decidissem se já havia transcorrido a decadência. Segundo os advogados, isso inclusive serviria como saída política para aqueles que se viam forçados por seu eleitorado a votar pela cassação mas que achavam a pena exagerada. No entanto, Tico Kuzma insistiu na tese de que o prazo de 90 dias da decadência se conta em dias úteis (tese já negada em outros casos pelo Tribunal de Justiça) e levou a sessão adiante.

A discussão racial foi igualmente importante. A vereadora Carol Dartora (PT), única mulher negra na história da Câmara de Curitiba, chegou a chorar ao falar na tribuna – e foi aplaudida pelas galerias. Mas isso nem de longe sensibilizou a bancada do prefeito Rafael Greca (PSD), que desdenhou dos argumentos sobre racismo.

Mauro Ignácio (União) foi à tribuna e disse que ele próprio é descendente de negros e que, portanto, quem o criticava estaria sendo preconceituoso. O pastor Ezequias Barros (PMB) foi mais longe e disse que, além de ter pai negro, via a narrativa sobre racismo como “um vitimismo”. Ambos disseram que procuraram Renato para tentar uma solução que evitasse a cassação, mas disseram ter sido rechaçados. “Quem se cassou foi você, Renato”, disse Mauro Ignácio. A plateia chamou o vereador de racista.

Da tribuna, Renato Freitas, que se defendeu por quase uma hora, reagiu às falas dos dois e disse que se recusava a fazer conchavos de bastidores que o botariam no bolso do prefeito. Além disso, falou que Mauro Ignácio teria proposto uma solução que deixasse o vereador responsável pela relatoria do processo, Sidnei Toaldo (Patriotas), em maus lençóis, já que os dois disputam votos em Santa Felicidade. Mauro Ignácio, aos gritos, negou que tenha feito isso.

Depois de cerca de quatro horas de debates e da apresentação de pareceres demonstrando a decadência, porém, nenhum voto mudou. Todos os 23 vereadores que haviam votado no dia anterior contra Renato repetiram o posicionamento. E por quatro votos a mais do que o mínimo necessário, efetivaram pela segunda vez a cassação.

A defesa se posicionou dizendo que irá levar o caso à Justiça. Guilherme Gonçalves afirmou que desejaria evitar que a Câmara não passasse pelo constrangimento de, pela terceira vez, ter o Judiciário anulando suas decisões. Além dele, estiveram presentes na defesa Edson Abdalla e Antônio Carlos Castro, o Kakay.

Colaborou: Rogerio Galindo.

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10 comentários em “Em sessão marcada por racismo institucional, Câmara cassa Renato Freitas novamente”

  1. CINTIA MARQUES CARDOSO

    Como se não bastasse toda essa perseguição de Renato Freitas, ontem no Debate pro governo do estado o Requião deu uma resposta horrível sobre racismo, disse é pauta identitária. A Professora Angela do PSOL e o Professor Ivan do PSTU falaram durante o debate sobre solidariedade a Renato Freitas, mas o Requião não mencionou NADA sobre o colega de partido. Fiquei de cara! Como protesto, meu voto agora vai pra Professora Angela do PSOL

  2. Josué Ferris Silva

    Se todos os pedidos contra Renato eram baseados nas fake news, daí não é má fé da Mesa da Câmara por ter aceito esses pedidos? Tipo, era fácil de averiguar que Renato não tinha feito aquelas coisas pelas cämeras na igreja. Tem como a OAB ou o STF processar a Câmara por terem aceito pedidos fundamentados em mentiras, e que essas mentiras eram facilmente evidenciadas quando confrontadas com as imagens de dentro da igreja?

  3. Quais são as falas racistas dos vereadores?… Tem que expor os fatos para ser jornalismo… Se não, é só opinião, panfleto. Freitas atuou de forma inadequada, isso é fato. Nao deveria ter invadido um culto. A cassação parece desproporcional, mas parece ter mais ligação com a cultura conservadora , religiosa e anti-esquerda que qualquer outra coisa. Não é porque a pessoa é negra que necessariamente é racismo. O racismo estrutural está presente na Câmara pela sua composição, mas não necessariamente pelo conteúdo dessa votação.

  4. Walter Malschitzky

    Essa parte do texto tinha que ser revista, não,?

    “Guilherme Gonçalves afirmou que desejaria evitar que a Câmara não passasse pelo constrangimento de”

    Concordo com Guilherme, quero que a Câmara passe por esse constrangimento novamente rsrs

  5. Larissa Ducon Marquisine

    teria que entrevistar a polícia da República Tcheca pra saber sobre aquele e-mail racista. O Renato mencionou isso numa sessão plenária, quando a corregedora fez uma sindicância mal feita.

  6. A Indiara Barbosa e a Amália Tortato – ambas do Partido Novo, foram pivot nessa cassação racista. O Partido Novo foi fundado pelo Grupo Itaú.
    ANTI-RACISTAS, FECHEM SUAS CONTAS JUNTO AO BANCO ITAÚ!

  7. Constrangedor, será que nenhum deles tem alfabetização o suficiente para ler e interpretar as normas aplicáveis? Será anulada novamente.

  8. Manchete forte e necessária. A pena de cassação foi completamente desproporcional. Pelas circunstâncias do ocorrido, nem pena deveria ter havido. Trata-se de mais uma evidência dos conchavos podres da política paranaense, que teima em eleger que tem mente pequena.

  9. O prazo é decadencial. A Câmara sabe disso, e, mesmo assim, insistiu na votação. Vergonha. O Judiciário afastará em definitivo a cassação, simplesmente cumprindo a lei.

  10. Armando Petrelli Coelho

    A casa grande colocando suas manguinhas p fora……o que esperar dessa gente reacionária….e alguns querendo fazer chantagem com o Renato…mas ele é maior que toda essa corja e não se vendeu…..

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