PRF diz que 33 ônibus saíram do Paraná para atos golpistas em Brasília

Grupo de paranaenses apontados como financiadores de ônibus que levaram pessoal aos atos tem empresários, professor e agronegócio ligado a políticos bolsonaristas

A Polícia Rodoviária Federal no Paraná (PRF-PR) informou ter identificado a saída de 33 ônibus de bolsonaristas do Paraná rumo aos atos de domingo (8), em Brasília, convertidos em uma das mais graves ameaças ao Estado Democrático de Direito da história do país. Segundo o órgão, destes, 17 estariam na lista inicial de 87 placas já relacionadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Nesta quinta-feira (12), a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu à Justiça Federal do Distrito Federal o bloqueio de bens de 59 nomes, entre pessoas e empresas, apontados como financiadores dos veículos que partiram em caravanas com destino à Brasília em um movimento de recusa à eleição e à posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que derrotou Jair Bolsonaro no último pleito geral, em outubro. Treze são do Paraná.

De acordo com o levantamento interno da PRF, os ônibus com paranaenses partiram de todas as regiões do estado e de diversas cidades, entre elas Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, União da Vitória, São Miguel do Iguaçu, Marechal Cândido Rondon e Paranaguá.

Após sessões de interrogatórios, a Polícia Federal (PF) prendeu 1.159 pessoas, todas agora sob a custódia do sistema prisional do DF. Na tarde desta sexta (13), a PF informou ainda não ter um balanço por estados – ou seja, ainda não se sabe, oficialmente, quantos paranaenses estão entre os presos.  

Até esta sexta, o Ministério Público do Paraná (MPPR) e o Ministério Público Federal (MPF) já haviam recebido o nome de pelo menos 80 moradores do estado que se juntaram à horda antidemocrática em Brasília. Os nomes foram elencados a partir de um canal de denúncia aberto pelo PT-PR.

O pedido de bloquei feito pela AGU, na ordem de R$ 6,5 milhões, baseou-se em informações fornecidas pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). A medida protocolada na Justiça Federal do DF defende relação direta dos financiadores dos ônibus, “sendo que a partir desse transporte e aglomeração de manifestantes é que se desenrolou toda a cadeia fática que culminou com a invasão e depredação de prédios públicos federais, como adiante será mais bem explicitado”.

Empresários e agro na mira

Entre os paranaenses listados pela AGU, há nomes ligados ao agronegócio e ao empresariado.

Consta no documento o Sindicato Rural de Castro. Castro, nos Campos Gerais, é a terra natal da deputada federal Aline Sleutjes. Derrotada na disputa ao Senado, a parlamentar é fiel aliada de Jair Bolsonaro, figura em torno da qual se organizaram os radicais de todo o país que foram à Brasília e protagonizaram as cenas de destruição nas sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro. Em vídeo divulgado em setembro do ano passado nas redes sociais da então candidata, Eduardo Medeiros, presidente do sindicato, aparece declarando apoio a ela em nome da entidade.

Desde esta quinta, o Plural tenta contato com o sindicato pelo número que consta no site oficial da associação, mas sem sucesso.

As outras duas empresas apontadas pela AGU, a RV da Silva Serviços Florestais, em Piraí do Sul; e a Associação Direita Cornélio Procópio, também não atenderam às ligações nem responderam a mensagens deixadas.

Já entre as pessoas físicas, destacam-se empresários de diferentes portes.

Um dos relacionados é Pedro Luis Kurunczi, dono de duas empresas no ramo da construção civil localizadas na Gleba Palhano, em Londrina, bairro conhecido por concentrar imóveis e estabelecimentos de luxo e alto padrão da cidade. Juntos, os dois negócios tiveram aporte de capital de R$ 700 mil, segundo indicam cadastros da Receita Federal.

Pela receita, ainda aparecem com cadastros de empreendimentos menores José Roberto Bacarin, dono de um comércio de molas em Cinaorte; Leomar Schinemann, relacionado a uma loja de serviços elétricos em Guarapuava; e Stefanus Alexssandro Franca Nogueira, de Ponta Grossa, por onde disputou cargo de vereador em 2016, sob a sigla do Partido Verde. Segundo a legenda, ele não consta mais entre os filiados. No Currículo Lattes, plataforma de identificação acadêmica, Nogueira afirma ser graduado em Geografia pela UEPG e disse já ter dado aulas no Programa de Educação de Jovens e Adultos da UTFPR. Não há menção ao nome dele na lista atualizada de servidores da universidade. Nogueira tem cadastro na Receita Federal para negócios de cursos preparatórios para concursos; lanchonetes e transporte rodoviário de carga.

Veja todos os listados do PR pela AGU:

– Vanderson Alves Nunes, de Francisco Beltrão – Até esta sexta-feira (13), a reportagem não conseguiu os contatos do citado.

–Stefanus Alexssandro Franca Nogueira, de Ponta Grossa – Não foi possível contato por nenhum dos telefones obtidos pela reportagem em nome da citado. Tentativas foram feitas na quinta (12) e sexta-feira (13).

– Ruti Machado da Silva, de Nova Londrina – Nega qualquer envolvimento. Segundo a citada, a responsabilidade pela caravana foi do genro. Ele é quem teria colocado o nome de Ruti Machado da Silva na nota fiscal de contratação do ônibus fretado. O genro e o filho da citada participaram dos atos. Ela afirmou não ter ido para Brasília e acrescentou que todos os esclarecimentos já foram prestados à Polícia Federal em depoimentos nesta quarta (11) e quinta-feira (12).

– Pedro Luis Kurunczi, de Londrina – A reportagem foi atendida pelo escritório de advocacia Barroso e Barroso, de Londrina, um dos telefones relacionados ao nome do citado. A secretária não esclareceu qual a relação de Pedro Luis Kurunczi com a empresa, mas afirmou que encaminharia a ele o pedido de contato. Novas tentativas de falar com o empresário foram feitas nesta sexta (13), sem sucesso.

– Marcelo Panho, de Foz do Iguaçu – Até o momento, não foi possível contato por nenhum dos telefones obtidos pela reportagem em nome da citado. Tentativas foram feitas na quinta (12) e sexta-feira (13).

– Leomar Schinemann, de Guarapuava – Até o momento, não foi possível contato por nenhum dos telefones obtidos pela reportagem em nome da citado. Tentativas foram feitas na quinta (12) e sexta-feira (13).

– Adriano Luis Cansi, de Cascavel – A reportagem conseguiu contato nesta sexta-feira (13). Por telefone, ele negou as acusações e disse que as depredações foram provocadas pelo PT (Partido dos Trabalhadores). O Plural se colocou à disposição para mais esclarecimentos, caso julgue necessário.

– Jose Roberto Bacarin, de Cianorte – Nega envolvimento. O Plural se colocou à disposição para mais esclarecimentos, caso julgue necessário.

– Adriane De Casia Schmatz Hagemann, de Realeza – Até o momento, não foi possível contato por nenhum dos telefones obtidos pela reportagem em nome da citada. Tentativas foram feitas na quinta (12) e sexta-feira (13).

– Ademir Luis Graeff, de Missal – Nega que tenha qualquer envolvimento. Afirma que não soube de nenhum ônibus que saiu de Missal e que não tem qualquer relação com financiamento dos atos. O Plural se colocou à disposição para mais esclarecimentos, caso julgue necessário.

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