Kretã Kaingang, candidato indígena, sofre ataques racistas de internauta durante live

O autor das ofensas será processado, de acordo com o candidato

Kretã Kaingang, candidato a deputado estadual do Paraná pela Rede Sustentabilidade, foi alvo de ataques racistas durante uma live no último dia 20. O autor das ofensas foi identificado e pode responder por injúria racial.

Kretã participou da transmissão a convite do candidato professor Marcelo, também da Rede para tratar das propostas da campanha. Os comentários do encontro eram abertos para os internautas.

Um homem, cujo perfil aponta que mora em São José dos Pinhais, afirmou que os povos originários “não gostam de trabalhar”. “Lamentável este Juruna participando com vocês. A classe indígena nunca gostou de trabalhar, isso todos nós sabemos, só quer saber de ganhar terras, parece o MST”, escreveu o usuário.

A fala racista foi printada e o material deve ser utilizado pelos advogados da campanha de Kretã. Segundo advogados ouvidos pelo Plural, o internauta poderá responder por injúria racial e, na esfera cível, também corre o risco de ter de pagar indenização ao candidato.

Pleito

Conforme a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com base nas estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de 2020 foram eleitos 234 representantes de 71 povos originários, sendo 10 prefeitos, 11 vice-prefeitos e 213 vereadores.

Apesar de haver aumento no número de candidaturas indígenas no Brasil, o Paraná tem apenas três indígenas concorrendo à Assembleia Legislativa nestas eleições.

Ataque racista sofrido por candidato indígena | Foto: reprodução redes sociais

Uma das dificuldades é lidar com o preconceito. “Eu não sou o primeiro a ser ofendido, mas muitos indígenas acabam ficando quietos para evitar conflitos. Mas esse comentário pode ter impacto negativo na campanha, principalmente para pessoas não-indígenas que concordam com essa fala e deixam de considerar nossas propostas”, lamenta Kretã.

O candidato, que reside no território indígena em Piraquara, lembrou do caso de agressão e racismo praticado por um motorista de aplicativo e citou o desconhecimento da história. “Nós indígenas estamos em Curitiba e na região muito antes de qualquer povo”, criticou.

Violência

Nesta quinta-feira (22) especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) instaram que autoridades, candidatos e partidos políticos no Brasil para que a violência relacionada com as eleições seja prevenida.

Para os especialistas, ameaças, intimidação e violência política, incluindo ameaças de morte contra candidatos e candidatas, continuam a aumentar online e offline, particularmente contra mulheres, povos indígenas, afrodescendentes e pessoas LGBTI – muitas vezes com base na intersecção de identidades.

Repercussão

Em nota a executiva da Rede Sustentabilidade no Paraná criticou o ataque e prestou solidariedade ao candidato.

“No dia 20/09/2022, um comentário racista foi proferido em live entre candidatos da REDE.

Nós lamentamos o fato e estamos tomando as medidas judiciais cabíveis. Infelizmente ainda há quem menospreze outras culturas e profira mentiras sobre o modo de vida dos povos originários, ameaçando assim a própria existência dos indígenas.

A REDE, partido que elegeu a única indígena da Câmara dos Deputados, não pode tomar outro caminho que não seja a conscientização da sociedade, a denúncia dos criminosos e a assistência ao Kretã e a todos os indígenas”, diz um trecho do documento.

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