Grupo bolsonarista no WhatsApp tem fake news e ataques ao STF

Criado para o segundo turno das eleições, grupo tenta minar a imagem do candidato do PT e usa conteúdo duvidoso para confundir membros

A utilização de grupos de WhatsApp para viralizar conteúdos de cunho duvidoso ou comprovadamente falsos pela campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição, é praxe nos últimos anos. Esse espaço virtual é utilizado também para atacar o trabalho do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Desde o dia 4 de outubro, logo após a vitória do ex-presidente Luiz Inácio da Silva (PT) no primeiro turno das eleições, foi criado um grupo de WhastApp chamado “2ª Camadaa Bolsonaro”, administrado por um número com DDD do Mato Grosso do Sul.

O link para entrada no grupo foi pulverizado em diversos outros, incluindo no Paraná. Isso permitiu que o Plural tivesse acesso às conversas e acompanhasse, ao longo deste segundo turno, a movimentação dos bolsonaristas.

Logo no primeiro dia existência do grupo, o assunto foi, evidentemente, a votação do primeiro turno. Entre a “indignação” com o resultado e figurinhas do presidente, a primeira fake news postada foi sobre cidades que supostamente tiveram eleitores mortos votando no candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O conteúdo apareceu já com o sinal de “encaminhado com frequência”, que demonstra a velocidade da propagação da mensagem falsa. O Comprova, consórcio de veículos que faz checagem de conteúdo viralizado, já desmentiu a publicação de que mortos votaram em Lula.

“São apresentados dados falsos acerca da população e quantidade de votos registrados para Lula no primeiro turno da eleição, no dia 2 de outubro de 2022. Não houve mais votos registrados para o petista do que o número de eleitores nas cidades. Além disso, há casos de cidades com o nome escrito de forma errada, municípios que não existem e outros que existem, mas estão localizados em outras regiões do Brasil”, diz o texto da checagem. Leia a íntegra aqui.

Logo na sequência um participante envia um link com a reportagem do Estadão, falando sobre o mesmo assunto, e atestando o conteúdo enganoso do texto. “Bora mostrar fatos né galerinha”.

O pedido é solenemente ignorado e já na sequência é enviado um print de uma reportagem do G1, “12 candidatos não receberam nenhum voto nas eleições 2022; veja quem são”. Neste caso a pessoa não enviou o link de acesso, mas incluiu um comentário sarcástico: “Será que o candidato não votaria nele mesmo? Fraude kkkk”.

A mesma notícia da votação de mortos volta aos holofotes durante alguns dias, junto com vídeos de Bolsonaro, Damares, Michele Bolsonaro e figurinhas de armas.

Poder Judiciário

Alvo do ódio bolsonarista, Supremo Tribunal Federal (STF) não passa impune no grupo. “Hora de limpar o Supremo”, posta um internauta. Fotos dos ministros e vídeos de cunho golpistas inflamam críticas ao STF.

Quem também não escapa da ilha cibernética fantasiosa dos bolsonaristas é o Superior Tribunal Eleitoral. A inventada fraude nas urnas é conversa recorrente entre os participantes, embora auditorias já tenham comprovado a eficácia e segurança dos dispositivos.

Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, é alvo de ataques no grupo

Outro “argumento” que aparece frequentemente nas conversas é a “ameaça comunista” ou “ameaça socialista”, ora ligada a vídeos de José Dirceu (PT), ora com canções gospel unidas a imagens da bandeira do Brasil.

Há ainda pedidos e defesas frequentes da “intervenção militar”, ou seja, ditatura, ao mesmo tempo que criticam países como a Venezuela.

Grupos de conservadores

Apesar da grafia errada “2ª Camadaa Bolsonaro” também existem outros com a escrita correta “2ª Camada Bolsonaro”, bem como 3ª, 4ª, 5ª camadas e assim sucessivamente. A organização faz parte do que o administrador do grupo nomeou como “verão verde e amarelo”. Todos os grupos são conectados e os conteúdos replicados de um para o outro. Ouça o áudio.

Os bolsonaristas também enviam links de lives do presidente e das redes sociais do padre Kelmon (PTB), que não é padre, mas tabelou bem com Bolsonaro no debate da rede Globo, no primeiro turno, agindo como uma espécie de assessor.

Outro “assessor” famoso do presidente que caiu nas graças dos bolsonaristas é o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), que também tem diversos vídeos divulgados no grupo.

Lula

Durante todo o segundo turno, os participantes do grupo enviaram diversos conteúdos ligando o ex-presidente Lula ao satanismo e afirmando que ele é favorável ao aborto, embora já tenha negado isso.

A informação sobre o satanismo, inclusive foi objeto de checagem do Comprova, que apurou que o candidato Lula é católico. Saiba mais aqui.

Também foram divulgadas diversas fotos do candidato com o boné CPX, cuja sigla significa “complexo”. As fotos foram feitas durante a visita do petista ao Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.

No universo paralelo dos bolsonaristas, a sigla tem ligação com o tráfico de drogas e, embora a informação também já tenha sido checada pelo Comprova, continua sendo alvo de fúria dos apoiadores do presidente.

Outras personalidades também são vítimas de fake news deliberadamente no grupo. Recentemente nas redes sociais petistas lançaram um filtro que identificava o internauta e confirmava apoio ao ex-presidente. Exemplo: sou jornalista e estou com Lula.

No grupo de WhatsApp, usando a mesma estética, bolsonaristas criaram uma versão inverídica desses cards. Foto de Manuela D’Ávila, por exemplo, aparece com a frase “Apoio o aborto e estou com Lula”. O mesmo acontece com Boulos, Nicolás Maduro e até com o deputado estadual eleito pelo Paraná, Renato Freitas (PT), “Invadi a Igreja e estou com Lula”, embora imagens sejam muito claras em revelar que não houve qualquer invasão.

Influenciadores

Do grupo também surgiu um formulário para recrutar influenciadores pró-Bolsonaro. O material é voltado para usuários do Instagram que aceitam receber materiais de campanha do presidente e replicá-lo em suas páginas.

Outra estratégia do bolsonarismo é enviar links do Kwai. Esta rede social tornou-se uma ferramenta para quem produz e replica conteúdo falso e foi amplamente utilizada durante estas eleições.

Bolsonaro é vítima

Apesar de os grupos bolsonaristas serem fábricas de distribuição de conteúdo falso, os membros também reclamam que o presidente Bolsonaro é alvo de fake news.

“Está nojento, asqueroso a campanha de difamação ao presida nas redes, o Janonis deveria ser preso por tantas mentiras criadas, cortes em vídeos, toda hora ele faz algo para difamar, corta vídeos, tirando contexto, estou INDIGNADO COM RAIVA DESTE KRA!”, publicou um usuário, que é um dos grandes compartilhadores de mensagens falsas no grupo e identifica-se como “Padro chofer qualificado”.

Mais boatos

Uma reportagem da Globo News, veiculada nesta semana, trouxe uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sobre fake news. De acordo com a instituição houve aumento de circulação de conteúdo inverídico de 36% no WhatsApp e a expectativa é que haja um pico no fim de semana por causa das eleições.

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