Dartora pedirá a MP que investigue ameaças racistas

Vereadora diz que reação a protesto antirracista é equivocada e que revolta deveria ser contra o assassinato de negros

Desde o ato antirracista realizado em Curitiba no último sábado (5), motivado pelos recentes assassinatos de duas pessoas negras no país, a vereadora Carol Dartora (PT) está sendo alvo de ataques e ameaças de morte pelas redes sociais. 

O caso será denunciado pela assessoria da vereadora ao Ministério Público do Paraná (MPPR). A Câmara Municipal, através da Procuradoria Jurídica, também embasará a queixa. O próprio presidente da Casa, Tico Kusma (PROS) ligou para Dartora para confirmar a manifestação do legislativo pelo caso.

No sábado, manifestantes protestaram em frente à Igreja do Rosário, construída por e para negros ainda no século 18. Representantes da igreja afirmaram que o protesto atrapalhou uma missa e não gostaram do fato de os manifestantes terem entrado no local depois do fim do culto.

“Eu estou me sentindo péssima. Desde o ato eu não parei mais de responder inclusive por atitudes que não tive, o que acho muito injusto e cruel. Está me doendo mesmo o peso de ser uma mulher negra porque eu fui no ato enquanto uma militante que sempre fui do movimento negro. Sempre estive em atos a minha vida inteira, mas nenhum outro me deu tanto problema”, explica Carol sobre o fato de não ter participado da organização do protesto nem da entrada na igreja.  

Para a vereadora, o encaminhamento para entrar na Igreja do Rosário não foi planejado, por isso o considerou desnecessário. Além disso, como a primeira mulher negra na Câmara dos Vereadores de Curitiba, Carol levou em consideração a construção do mandato, que, segundo a parlamentar, é ocupado com “uma consciência coletiva muito grande”.

De acordo com Carol, no entanto, ela tem sido cobrada por todos, não importa qual tenha sido sua postura no ato. Para determinado grupo de pessoas, o simples fato de Carol estar no ato serviu como justificativa para atacá-la, enquanto para outro, foi o fato de ela não ter entrado na igreja que causou incômodo. “Parece que eu sou culpada para todos os lados. Isso me coloca num lugar muito difícil que é o lugar que historicamente denuncio: mulher negra não tem o direito de errar e esteja certa ou errada, eu tenho que estar errada. Eu não considero que tenha cometido qualquer erro em toda a situação, mas essa cobrança vem de todos os lados”, afirma.

“Eu tenho que carregar o peso de tudo o tempo todo, de qualquer decisão. Uma decisão minha não é uma simples decisão, ela implica em muitas coisas. Tem um peso de racismo e machismo muito grande”, completa a vereadora.

Partidarização

Na visão de Carol, a manifestação que objetivava o combate ao racismo está sendo distorcida e utilizada para atacar militantes de esquerda e aqueles que apoiam o movimento negro. Segundo a parlamentar, toda a situação mostra o quanto a sociedade ainda precisa avançar na luta antirracista.

“Ficou nítido que estão usando e manipulando toda a situação que ocorreu no sábado para destilar o ódio do bolsonarismo e do antipetismo que já eram latentes. Estão partidarizando a situação para atacar o PT e para nos atacar enquanto figuras legítimas para ocupar o espaço que a gente ocupa hoje, questionando a nossa condição e capacidade de ocupar esse lugar. Todo mundo está usando essa situação para fritar os dois vereadores negros da Câmara de Curitiba”, pontua.

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