“Temos que chamar o cidadão comum para a política”, diz João Guilherme

Médico foi o segundo candidato a participar da série de entrevistas do Plural

O candidato João Guilherme (Novo) defendeu, durante entrevista ao Plural nesta terça-feira (29), a participação do “cidadão comum” na política de Curitiba. Se eleito, o médico diz que sua gestão será de combate a privilégios e vai utilizar um modo diferente de fazer política, com o objetivo de atrair pessoas que também clamam por mudanças. “Chamar as pessoas para participar da política é a grande missão do Novo”, diz o candidato.

Na entrevista, João Guilherme falou sobre como estabelecer essa “nova política”, com um modo diferenciado de governar que, ao mesmo tempo, atraia pessoas de diferentes classes e ideologias para participar das decisões. O candidato também falou de propostas para recuperação da economia, saúde e sobre uma possível retomada do plano de carreira dos professores na educação.

Leia a entrevista com Paulo Opuszka

O médico foi o segundo de uma série de 12 entrevistas do Plural com os principais candidatos à Prefeitura de Curitiba. João Guilherme é médico oftalmologista, tem três filhas e está disputando a sua segunda eleição municipal, mas é a primeira como cabeça de chapa. Em 2016, ele foi vice na chapa do então candidato Ney Leprevost (PSD) e ficou em segundo lugar no processo eleitoral.

Em um partido com ideologia liberal, João Guilherme defende redução do Estado e medidas de austeridade em um momento de crise econômica, mas acredita que o Estado pode interferir pelo bem-estar da população, mas de maneira “pontual”.

Confira outros trechos da entrevista:

Existe mesmo isso de nova política? No que ela é diferente, afinal?

Esse é um movimento que não acontece só no Brasil, mas também internacionalmente. Temos movimentos fortíssimos na Espanha e na Itália, justamente com o chamamento do cidadão comum para participar da política. É a forma de se fazer política da maneira correta.

O Novo não usa o fundo eleitoral e tem uma série de requisitos que são totalmente diferentes dos outros partidos.

A gente tem que perceber que essa maneira tradicional de se fazer política a partir do fisiologismo, ou seja, da troca de cargos para se conseguir apoios, não funciona mais, o modelo se esgotou. Temos os mesmos nomes há muitos anos participando do debate político.

As mesmas pessoas acabaram criando feudos. No Brasil, existem reinados, dinastias, e isso atrapalha muito o processo democrático e a evolução da política.

E isso não é uma crítica a uma ou outra pessoa e sim ao sistema. Aqui é uma crítica a esse sistema. Ema pessoa é candidata, ai depois o filho é candidato, que já vira deputado, depois a esposa que quer entrar. Daqui a pouco é um papagaio, periquito ou um poste.

Para ser candidato do partido Novo tive que fazer o processo seletivo. Acredito que esse processo de chamar as pessoas para participar da política é a grande missão do partido Novo e acho que o partido tem conseguido, com resultados práticos tanto na Câmara Federal quanto no governo de Minas Gerais.

O senhor gosta do modelo que está sendo adotado em Minas Gerais? E no caso do Ricardo Salles, o senhor admite que a nova política era só retórica?

São situações completamente diferentes. Ricardo Salles era filiado ao Novo e foi convidado pelo presidente a fazer parte de seu Ministério. Mas ele não exercia nenhum cargo eletivo pelo partido Novo, muito pelo contrário, e depois de denúncias de improbidade foi sumariamente expulso do partido. E isso já faz uma grande diferença.

Já o governador Romeu Zema (Novo-MG) é sim um expoente do Novo e foi eleito baseado exatamente nesse discurso que estamos tendo, que é do cidadão comum, do empresário que não tem vínculo político, que tem independência e foi candidato para fazer uma retribuição social. Uma retribuição para as oportunidades que ele teve e ao sucesso profissional.

Ele quase ganhou a eleição no primeiro turno, disputando contra caciques de Minas Gerais como o Anastasia e o Pimentel. Claro que a gestão dele enfrenta dificuldades, ele pegou um estado quebrado, mas está fazendo aos poucos a recuperação.

Uma coisa que a gente quer muito fazer aqui em Curitiba é o corte de privilégios. A gente sabe a situação aqui na cidade e algumas coisas que existem ainda em relação a cargos comissionados e verba de gabinete, uso de verba pública para segurança, motorista, viagens, que não servem para essa nova realidade da política em que a gente fala de austeridade. Como a gente vai cobrar do funcionalismo público sacrifício em plano de carreiras se o gestor não dá exemplos de austeridade. O Zema está fazendo isso.

No caso do Zema, ele prometeu secretários que não teriam salário, mas teve que voltar atrás. Muitas vezes isso que o senhor fala de cortes de privilégios, essa austeridade, muitas vezes esbarra em dificuldades da vida real, as coisas não são tão simples.

São necessários ajustes e o Novo vai evoluindo. A gente aprende com os acertos e também aprende com os possíveis erros, a gente tem esse entendimento de que as coisas precisam evoluir.

O sr. falou da ideia de convidar o cidadão comum para participar da política. Mas pela declaração de bens dos candidatos não parecem ser cidadãos tão comuns assim.

Mais de 180 pessoas estavam filiadas ao Novo na primeira reunião, quando começou a coleta de assinaturas, de vários tipos de profissão. Mas você tem razão sim, é um partido que por ter essa questão liberal atrai muito as pessoas que têm esse tipo de perspectiva e perfil.

E é sim necessária uma evolução do partido e indiscutivelmente nós tivemos o cuidado de convidar pessoas que fossem exatamente complementares a nós, para participar da nossa chapa. Não só a Geovana Conti, que você sabe que tem um perfil completamente diferente do meu, e que inclusive está me ensinando muito e acho que é uma pessoa extremamente capacitada.

E convidamos também pessoas para participar da nossa chapa que não têm esse perfil que você acabou de citar. É uma fragilidade e nós precisamos corrigir e estamos corrigindo.

A ideologia liberal em regra diz que o Estado deve pesar menos na vida das pessoas. A pandemia faz o senhor rever esse conceito?

Gasto supérfluo e o investimento em coisas erradas não podem mais acontecer. Nós temos no Brasil vários processos de improbidade administrativa e casos de corrupção que ocorrem pelo fato do estado ser gigantesco e paralisado. Não é o Estado mínimo, tem que ser o cidadão máximo.

Nesse momento de fragilidade é claro que o Estado tem que interferir, agir e ajudar as pessoas que estão em uma situação de pobreza e vulnerabilidade. Esse é um pensamento lógico e completamente ligado às ideologias do partido Novo.

No nosso plano de governo existe um capítulo especial para recuperação econômica da Covid. Nós estamos propondo um fundo de aval, que funciona através da Prefeitura, garantindo a rentabilidade de um fundo que pode ser captado com dinheiro externo. E a Prefeitura dá a contrapartida.

Com isso, cada real que a Prefeitura investe pode reverter em cinco a sete reais nesse fundo de aval, para capitalização de micro e pequenas empresas, que estão precisando de acesso ao crédito, estão negativados, que não vão conseguir acesso ao crédito por meios normais.

Então estamos fazendo uma interferência para que essas pessoas consigam reaquecer a economia e aumentar a arrecadação do município sem que a gente faça aumento de impostos. Também estamos propondo que as pessoas que ficaram inadimplentes com os impostos municipais tenham diferimento e capacidade de fazer o parcelamento das dívidas. Essa deve ser uma interferência do estado que deve ser pontual.

A atual administração fazia investimento apenas em infraestrutura, trazendo o desenvolvimento apenas em obras de infraestrutura. É errado fazer isso, a gente tem que fazer o investimento e fomentar a economia para que essa ideia da economia circular funcione muito bem, mas isso não quer dizer que não pode ser uma atuação do Estado.

Como vê a gestão do prefeito Rafael Greca (DEM) na pandemia do coronavírus? O que o senhor propõe caso seja eleito prefeito?

Acho que a Prefeitura ignorou um pouco no começo a gravidade da doença. A gente fez um isolamento inicial que talvez foi um pouco precoce. E quando o Covid chegou de uma maneira muito grave e transmissibilidade maior, não tínhamos feito nossa lição de casa.

Nós tivemos tempo pra nós preparar, inclusive fiz uma carta pública ao prefeito pedindo testagem em massa, preparação dos leitos de UTI e combate à lotação dos ônibus do transporte público. Nós não o fizemos e quando a doença chegou com mais gravidade tivemos que fazer essa correria, tivemos que novamente fazer um lockdown, prejudicamos as atividades econômicas.

É muito fácil a gente criticar e apontar problemas sem desenvolver soluções. Durante o Coronavírus, eu com o CRM conseguimos desenvolver uma parceria com o Governo do Estado para criar um programa de atendimento de médicos voluntários, tivemos uma participação grande no Coronavírus também. E não parei de atender, sempre estive na linha de frente.

Importante parabenizar o funcionalismo público de Curitiba, as pessoas se expuseram, todo mundo fez o atendimento. A gente está percebendo uma melhora mas a gente tem que se preparar para o ano que vem porque a gente vai ter uma responsabilidade muito grande, que é administrar a crise econômica. E acho que a questão econômica é o grande risco do Covid nessa segunda onda.

Quatro em cada dez pessoas que deveriam estar fazendo acompanhamento médico não estão fazendo, as pessoas estão perdendo os planos de saúde e vamos ter esse colapso no sistema se não estivermos preparados.

Estamos nos preparando para lidar com esse problema. A primeira coisa é a telemedicina, que veio para ficar. Isso tem que ser implementado em caráter definitivo pela Prefeitura para fazer triagem dos pacientes. E só fazer atendimento presencial para aqueles pacientes que já passaram por essa triagem.

Vamos fazer essa administração junto com a sociedade médica para que nos momentos de gargalo a gente possa fazer mutirões para atender a população de maneira integral.

Manteremos a estrutura que foi criada pela Prefeitura, o centro de medicina da Prefeitura e o Hospital Vitória. A gente tem que manter para fazer as cirurgias que vão estar atrasadas. A gente vai ter que fazer investimento na saúde e manter esse espírito de guerra de combate ao vírus porque o prejuízo do vírus vai ser depois. É uma doença grave e perigosa, mas pode matar mais depois.

O sr. apoia a terceirização das UPAS? Retomaria as terceirizadas?

Da maneira que foi feita sou totalmente contra. O sistema que tem sido case de sucesso é quando essa terceirização atua na gestão de um hospital que vai atuar como retaguarda. Vou citar um bom exemplo, o Hospital Menino Jesus em São Paulo, que é público e está tendo a gestão dessa unidade com o Hospital Sírio Libanês.

Temos problemas de falta de leitos de UTI na cidade há muito tempo, esse sistema que as UPAS atendem e tem dificuldade para encaminhar pacientes para cirurgias ocorre a muito tempo, tanto é que nós usamos muito hospitais da Região Metropolitana para absorver o nosso próprio movimento.

Se for para pensar uma terceirização, não podemos fazer isso com uma empresa que caia de paraquedas e não tenha relação nenhuma o que está acontecendo. E me assusta muito essa mesma empresa ter relação com empresas que estão sendo investigadas por desvio de verba nesse momento de Covid. Toda vez que vem escândalo de corrupção em um processo que deveria ser para diminuir a burocracia, facilitar o atendimento e diminuir o gasto público, me assusta e me preocupa muito.

Outra questão que vai estar em voga é a preparação para a licitação do transporte coletivo. Como o senhor vê essa questão?

Esse sistema não tem mais sustentabilidade. Está sendo ruim para a Prefeitura, para os clientes que o utilizam e está sendo ruim, segundo as empresas de ônibus, para elas também. Então se está sendo ruim para todo mundo esse contrato não tem mais função. Ele tem que ser completamente alterado. Inclusive acho que o contrato deveria ter sido judicializado e interrompido.

Nós temos uma série de problemas com o transporte público de Curitiba porque o número de passageiros apresentou uma queda de mais de 40%. A passagem está cada vez mais cara, tarifa técnica está em 5,21, a tarifa é subsidiada há muito tempo pela Prefeitura e pelo Governo do Estado, então temos que ter um contrato que seja sustentável. Nós temos que mudar o sistema de transporte de Curitiba, ter concorrência sim, esse sistema só de ônibus não tem mais função.

A gente tem que partir para outras alternativas que sejam de sustentabilidade. É por isso que no nosso governo a gente propõe uma nova forma de transporte que é o veículo leve sobre trilhos (VLT), a ser implementado na Avenida das Torres, fazendo a ligação do Centro da cidade até o aeroporto, se possível até o contorno.

Nessa região, queremos promover um adensamento em algumas áreas específicas da Avenida das Torres para que a gente atraia o turismo para Curitiba, gere renda e gere emprego. A Prefeitura fazendo obras nesse sentido, promovendo o desenvolvimento em determinado local, está agindo sem apagar incêndio, apenas para gerar economia.

A gente tem exemplos no mundo inteiro de integração do sistema de transportes com motoristas de aplicativo onde a gente usa o mesmo bilhete para fazer a integração. Esse é um compromisso que eu assumo, nós vamos mudar esse sistema de contrato com a Prefeitura que está completamente falido.

Não parece um pouco incongruente deixar esse sistema do jeito que está e fazer um outro modal na Avenida das Torres onde não tem tanta gente precisando dele?

Não, tem bastante gente que utiliza esse trajeto para ir e vir de São José e estaremos preparados a partir da mudança do contrato para propor esse sistema. Porque com o sistema que temos não podemos fazer a mudança,. Até lá vamos ter o VLT já funcionando em Curitiba, que é um modelo sustentável, econômico, que não faz barulho, não gasta combustível, não gasta pneu e esse modelo pode ser implementado dai sim, nessas linhas que já existem estruturais e ligam a cidade de norte a sul.

Como receber em sala de aula todos os alunos que estão deixando a rede privada? E é possível implantar o plano de carreira do magistério?

Temos que valorizar os professores. A gestão anterior fez um plano de carreiras que era muito difícil de ser cumprido, a atual gestão ao invés de negociar e fazer um plano de carreiras que fosse consistente e real, simplesmente fez o congelamento. Nós propomos que seja aberto novamente o diálogo, que façam um plano de carreiras baseado na possibilidade real da Prefeitura de arcar com esses custos. Dai se cumpre esse plano de carreira com os professores.

A Covid vai causar uma série de problemas e nós temos que melhorar. No Brasil, a cada três minutos em sala de aula, um é perdido com burocracia. Enquanto em países desenvolvimento, a cada sete minutos um é perdido.

A gente tem que lembrar que a gente tem aqui 221 CMEIS, em que as diretoras são escolhidas pela Prefeitura. Aqui em Curitiba, nas 185 escolas a escolha é por rotação, mas nas CMEIS não. Um desejo dos próprios professores é que isso seja feito de maneira democrática, então vamos fazer a valorização dos professores e evoluir de maneira pedagógica para que as crianças tenham uma capacidade de aprendizado importante.

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