Curitiba foi a última cidade no Brasil visitada por Desiree Coleman-Fry, vice-presidente de diversidade, equidade e inclusão do Federal Reserve Bank de Saint Louis, em uma série de eventos organizados pelo Consulado dos Estados Unidos (EUA) no Brasil.
Para os alunos da FAE, Coleman falou sobre a melhora da performance de empresas cujo quadro de funcionários têm mais diversidade – o desempenho é 33% maior, segundo dados da consultoria McKinsey. O evento aconteceu nesta quinta-feira (10).
Ao Plural, Coleman destacou que a diversidade precisa ser uma política efetiva e não um discurso das organizações. Em 2020, quando George Floyd foi assassinado por um policial branco, diversas organizações empregaram o termo “black lives matter”, inclusive no Brasil, mas grande parte delas não tinha diversidade na equipe.
“As pessoas não têm o mesmo acesso às oportunidades, algumas não podem pagar [por educação] e por isso não têm o mesmo atendimento. Os líderes precisam estar atentos a isso para que as empresas tenham uma política real”.
Teste do pescoço
“Olhe para a direita. Olhe para esquerda. O que você viu se parece com você? Se for, falta diversidade no ambiente”.
Numa plateia majoritariamente branca no auditório da FAE, universidade voltada para negócios, a presença de Coleman-Fry provocou a curiosidade dos estudantes, embora muitos questionamentos fossem elementares – o que demonstra o árduo trabalho que as organizações terão para de fato implantar uma educação antirracista.
No Brasil apenas 6,6% dos cargos de diretorias em empresas são ocupados por pessoas negras, conforme levantamento feito em 2020 pela Faculdade Zumbi dos Palmares.
Além disso, Coleman-Fry também prega a importância da diversidade sexual bem como a paridade de gênero nas organizações.
Este cenário mais diversificado, para a especialista, aproxima as organizações da comunidade – no Brasil mais da metade da população não é branca.
Assim, quando as organizações têm um quadro mais semelhante à realidade dos seus consumidores, há tendência de que performar melhor.
Dados da Salesforce apontam ainda que quando há diversidade e escuta dos funcionários, as chances de aumento no desempenho são 4,6 vezes melhor.
Cases
Organizações homogêneas também tendem a cometer gafes que causam danos irreversíveis à imagem. No caso da Gucci, por exemplo, que lançou um suéter que possibilitava a pessoa a fazer black face com a gola, a aprovação da peça revela que não havia diversidade nos cargos de liderança, porque a prática de black face é considerada muito ofensiva para pessoas negras.
No Brasil, por exemplo, as propagandas de cerveja sempre foram um problema. A marca Devassa publicou um anúncio racista e sexista para anunciar a Tropical Dark. A peça foi veiculada em 2010, mas só em 2013 houve abertura de processo administrativo no Ministério da Justiça.
Assim como no caso da Gucci, a aprovação da peça demonstra falta de mulheres e pessoas negras dentro das organizações – neste caso a agência de publicidade responsável pela criação.
Um levantamento feito pelo Meio e Mensagem em 2019 demonstra que apenas 26% dos cargos na publicidade brasileira são ocupados por mulheres.
Como solucionar
“É preciso conscientizar e apresentar dados para as pessoas que estão na liderança”, destaca Coleman.
Ela também apontou a possibilidade de mudanças nos processos seletivos para vagas ou para bolsas de estudo, priorizando mais amplitude de perfis como uma possibilidade de equiparar a composição das equipes.
Coleman, além de Curitiba, também esteve em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.