“A publicidade é muito atrasada: é um lugar extremamente branco, cis e hetero”, diz Joana Mendes

Joana Mendes, diretora criativa e presidente do Clube de Criação de São Paulo, participou como palestrante do evento Red Week Ideas 2021

No último sábado (11), aconteceu em Curitiba o Red Week Ideas 2021: Creativity Behind Creativity, evento promovido pela Redhook School, em parceria com o Plural. A ideia era celebrar boas ideias, pessoas e iniciativas que inspiram e motivam quem acredita e trabalha por uma indústria criativa cada vez melhor.

O evento contou com palestras de diversas pessoas da área de comunicação, dentre elas, a diretora criativa Joana Mendes. A publicitária, formada pela UNIRON em Porto Velho – RO, é idealizadora do único banco de imagens formado apenas por mulheres negras no mundo e foi eleita como um dos 30 jovens que estão mudando a comunicação. Além disso, ela é presidente do Clube de Criação de São Paulo, instituição criada para valorizar e preservar a criatividade da propaganda brasileira.

O Plural conversou com Joana para saber um pouco mais sobre sua visão acerca do cenário da comunicação atual e como ele pode e deve ser transformado.

Você foi eleita uma das 30 jovens que estão mudando a comunicação, como você vê isso?

Eu acho que prêmios são sempre importantes porque dão valor para você no mercado. Mas eu acho que tem muitas pessoas que também estão mudando a comunicação e não ganharam prêmios. Um exemplo disso é o André Chaves que é o responsável pelo prêmio, Papel & Caneta. Mas é sempre bom ganhar um prêmio, é sempre bom ter um reconhecimento. Isso foi também um divisor de águas pra mim porque eu comecei a enxergar mais que meus projetos valem. Penso que projetos individuais são muito difíceis para a gente conseguir tirar do papel, né? São projetos que quando você não está dentro de uma estrutura é tudo muito difícil. Então foi muito bom esse reconhecimento.

Como você vê a comunicação atualmente? O que precisa mudar e o que pode ser melhorado?

Eu acho que a gente ainda é um lugar muito atrasado, onde os avanços são muito lentos e acontecem principalmente porque são pautados por movimentos. A publicidade tem mudado não por causa dela, mas sim, por ter movimentos externos que exigem essa mudança. A publicidade é muito atrasada, é um lugar extremamente branco, cigênero heterossexual, que tem referências muito pautadas lá fora. Falamos muito mais sobre Estados Unidos do que sobre determinadas regiões do Brasil. As pessoas visitaram muito mais Nova Iorque do que visitaram Belém ou Porto Velho. Acredito que isso se reflete muito nas nossas comunicações. Então, acho que tem muita coisa pra ser melhorada, tem muita gente para entender como é que podemos mudar. 

Como você enxerga a comunicação no futuro?

No futuro, espero que tenhamos uma comunicação seja realmente um lugar mais inclusivo e não só que coloque pessoas negras e LGBTQIA mais nos lugares juniorizados, mas que tenha plano de carreira para esse grupo, porque atualmente é um ambiente extremamente hostil. Vemos pessoas falando “Ah, a publicidade está chata” mas é porque não diversificamos. A única diferença que a gente tem do que tínhamos nos anos 90 é que agora pesquisamos sobre o assunto. Tenho visto que a gente teve um efeito que eu chamo de efeito George Floyd, em que após o assassinato dele todo mundo quis buscar talentos negros, mas foi passageiro, não existe mais. E aí você vê a dificuldade que as pessoas negras estão tendo para poder se colocar em um projeto, sabe?

Por Jully Ana Mendes sob orientação de João Frey

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