Aplicativo Goleiro de Aluguel tem faturamento milionário e salva ‘peladeiros’

O curitibano Samuel Toaldo, que também é goleiro, percebeu a demanda e fez do hobby um negócio lucrativo

É sempre um desafio para quem gosta de futsal ou futebol: encontrar um goleiro. Já nas aulas de educação física na escola poucas pessoas se prontificam a ir para o gol. A demanda não fica menor quando se trata das peladas nas quadras e campos de Curitiba. 

Samuel Toaldo, que é goleiro, sempre era convocado para jogar partidas por outros times. Ele chegou a fazer categoria de base no Trieste, na capital, mas seguiu a vida como técnico de informática nos anos 2000.

Mesmo assim não rarearam os convites. Às vezes, quando acabava uma partida no campo sintético, o time seguinte perguntava se ele não queria ficar e emendar o jogo – algumas das propostas vinham com o adendo: “a gente paga”. 

“Eu identifiquei essa dor e em janeiro de 2015 comecei a divulgar que eu estava disponível para aluguel no Facebook”, lembra. Pouco tempo depois do anúncio ele já não dava conta de atender tantas partidas e foram aparecendo outros goleiros interessados em aceitar partidas por aluguel. 

No meio daquele ano de 2015 foi necessário criar um site para atender a demanda e o faturamento chegou a R$ 100 mil no primeiro ano. 

A ideia era facilitar ainda mais a contratação dos goleiros, por isso Toaldo investiu o lucro do primeiro ano para a criação do aplicativo, que deveria ficar pronto em 90 dias, mas que não foi entregue após 7 meses de estresse. Neste ínterim, já em 2016, ele conheceu outros dois programadores que se tornaram sócios e cofundadores do negócio nos moldes atuais: Leo MuckeFuss e Rafael Marques, que também são goleiros. 

Pandemia

O app foi tão bem que eles foram convidados a participar de uma rodada de negócios no programa Shark Thank, que reúne grandes investidores para serem “anjos” ou seja, darem um aporte financeiro em startups em troca de um percentual. Eles conseguiram R$ 250 mil e até 2019 o fluxo de goleiros e times conectados ia bem, porém a pandemia mudou o cenário.

Além da saída dos investidores – sem reembolso, as medidas de segurança sanitária para evitar a proliferação da Covid-19 incluíram a proibição de práticas esportivas. O faturamento do aplicativo que estava na casa dos milhares foi a zero em 2020. 

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“Percebemos que aquilo não seria resolvido a curto prazo e precisávamos de maneiras de pagar a equipe, o servidor, e outras coisas. Aí conseguimos uma parceria com a Poker por meio de patrocínio e sorteio de materiais que nos ajudou a manter os custos”, explica Toaldo.

Recuperação

Depois de sobreviver à pandemia, a startup se firmou em 2022. A retomada das atividades, impulsionada pela vacinação, teve ápice em 2023 – atualmente são 150 mil goleiros e goleiras cadastrados em todo Brasil. 

Em 2023 foram atendidas mais de 200 mil partidas, que elevou o faturamento bruto a R$ 10 milhões no ano. 

Além disso, cresceu a demanda por mulheres jogando – que ainda representam número pequeno dentro do app – cerca de 1% dos usuários, mas com crescimento vertiginoso nos últimos dois anos. 

“Eu já precisei alugar umas cinco vezes. Dessas, duas tiveram que ser homem porque não tinha goleira disponível. É bem escasso o número de goleiras e como tem bastante jogo feminino às vezes precisa alugar”, explica a advogada Edna Ashihara Rosato, que também é goleira.

Isso fez com que a startup pensasse também em novidades. Ainda para 2024 haverá a categoria “mista” para convocação de goleiros. Isso vai permitir que usuários contratem atletas independente do gênero sem precisar “enganar” o aplicativo.

Retenção  

Desde a pandemia a Poker Esportes manteve a parceria com o Goleiro de Aluguel. Isso permitiu que o app usasse a gameficação para atrair mais goleiros e goleiras e aumentar o número de partidas atendidas. 

“Com o uso do aplicativo o consumo de luvas, por exemplo, dobra. Em média os goleiros usam quatro pares de luvas por ano. O goleiro de aluguel usa oito. Então temos essa exclusividade com a Poker”. 

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O app também mantém usuários ativos com premiações por meio de rankings dos melhores goleiros e goleiras, além de oferecer cashback na loja Fut Shop.

Goleiros que aceitam as convocações geralmente dividem 25% do valor pago com o aplicativo, mas o percentual pode mudar de acordo com a posição. Os atletas cadastrados também têm seguro-lesão, uma espécie de prevenção ao “acidente de trabalho”.

Time

A equipe do Goleiro de Aluguel, além dos três sócios, tem seis funcionários fixos – todas goleiros. O próprio Samuel Toaldo está cadastrado na plataforma e aceita convocações quando a agenda permite. 

“Eu não falo que sou do aplicativo, a maioria não sabe. Mas aí é bom porque pegamos feedback direto dos usuários. Às vezes a pessoa comenta algo que não gostou ou que precisamos melhorar”, conta. 

(Esta matéria também foi escrita por uma goleira. Atleta do S.R. Fogueteiras)

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