Três palavras definem o cinema de Fassbinder: amor, luxúria e anarquia

MUBI e Reserva Imovision exibem filmes e minissérie do diretor que despontou com o novo cinema alemão

Rainer Werner Fassbinder (1945–1982) foi um dos principais nomes do novo cinema alemão, formado por uma geração de cineastas que surgiu na década de 1980, como Werner Herzog e Wim Wenders – esses dois sendo, provavelmente, os mais populares da turma. Nessa lógica, Fassbinder seria provavelmente o mais ousado e controverso. Aquele que apresentaria drogas de todo tipo para o resto do pessoal.

Fassbinder, aliás, morreu jovem, aos 37 anos, de overdose. “Uma mistura letal de cocaína e barbitúricos” é a descrição mais comum de se encontrar na web. Ele era bissexual assumido, algo que seria controverso hoje, imagine então quatro décadas atrás. E ele trabalhava muito. O Internet Movie Database lista 44 títulos produzidos em 16 anos no cinema. Desses, apenas três são curtas-metragens. O homem era uma máquina de fazer filmes.

Seus filmes tinham um pé no teatro e outro no cinema. E são, de várias formas, mais cabeça do que os trabalhos de seus contemporâneos. Por exemplo. Wim Wenders era o tipo de diretor que conquistava prêmios e o coração do público com “Asas do desejo” (1987). Fassbinder era o que inspirava sessões alternativas em cineclubes obscuros. E que, depois de morto, serviu de tema para um belo ensaio de Susan Sontag (1933–2004).

Fassbinder

“O gênio de Fassbinder estava no ecletismo, na sua extraordinária liberdade como artista: não almejava o especificamente cinematográfico e toma com liberdade empréstimos do teatro”, escreveu Susan Sontag, em “Questão de ênfase” (publicado pela Companhia das Letras, com tradução de Rubens Figueiredo).

Para Sontag, alguns filmes de Fassbinder eram como peças filmadas. “[Outros diretores] pensariam em abreviar uma cena porque durava muito, e portanto se tornaria estática (como podiam temer), Fassbinder persistia e insistia.”

Em 1974, Fassbinder disse, citado por Sontag: “Produzi teatro como se fosse cinema e dirigi filmes como se fosse teatro, e agi assim de maneira completamente obstinada”.

Nos 40 anos de sua morte, duas plataformas de streaming abrem espaço para sua obra. Em setembro e outubro, a MUBI exibe a mostra “Amor, Luxúria e Anarquia: Os filmes de Rainer Werner Fassbinder” com quatro títulos: “A terceira geração”, “Lola”, “Num ano de 13 luas” e “O desespero de Veronika Voss”.

Já o Reserva Imovision tem no acervo uma raridade: a minissérie “Berlin Alexanderplatz”, de 14 episódios. A seguir, confira mais informações sobre os títulos e as datas de exibição.

1. “Berlin Alexanderplatz” (1980)

(Em cartaz no Reserva Imovision)

A minissérie de 14 episódios (que somam 15 horas e 31 minutos), baseada no livro de Alfred Döblin (1878–1957), mostra como Franz Biberkopf se embrenha pelo submundo alemão no fim dos anos 1920, apesar de ter acabado de sair da prisão determinado a levar uma vida honesta. Fassbinder conta que leu Döblin na adolescência e “Berlin Alexanderplatz” acabou virando o livro da sua vida. Ainda segundo Susan Sontag, a adaptação de Fassbinder não seria uma série, e sim um filme de mais de 15 horas, que merece ser visto no menor intervalo possível. “Em três ou quatro dias seria muito melhor”, diz Sontag, que conta ter visto o filme/a série em episódios semanais, na tevê italiana.

2. “A terceira geração” (1979)

(Estreia 21 de setembro na MUBI)

A história é ambientada na Alemanha Ocidental, em 1978. E fala sobre um grupo de jovens terroristas alemães que sequestram um representante de uma empresa de informática norte-americana. O filme causou polêmica ao ser exibido no Festival de Cannes em 1979.

3. “Lola” (1981)

(Estreia dia 26 de setembro na MUBI)

Último filme da trilogia que Fassbinder realizou sobre mulheres na Alemanha Ocidental do pós-guerra. A atriz Barbara Sukowa (Servant) interpreta Lola, uma prostituta que conquista o coração do oficial Herr von Bohm (Armin Mueller-Stahl)  enquanto tenta se aproximar do magnata Schuckert (Mario Adorf). O oficial é honesto e o magnata é corrupto. O filme presta homenagem ao clássico “O anjo azul”, de Josef von Sternberg.

4. “Num ano de 13 luas” (1978)

(Estreia dia 3 de outubro na MUBI)

Fassbinder narra aqui a história de Elvira Weishaupt (Volker Spengler), uma mulher trans que se vê com apenas uma opção após uma série de rejeições na tentativa de escapar de seu próprio passado. Esse drama foi parcialmente inspirado no ex-namorado de Fassbinder, que cometeu suicídio.

5. “O desespero de Veronika Voss” (1982)

(Estreia dia 13 de outubro na MUBI)

Drama vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1982, é o segundo filme da trilogia sobre mulheres de Fassbinder. Rosel Zech interpreta Veronika, uma antiga estrela de cinema que se tornou viciada em drogas. Ela vai ter de lidar com seu vício ao se envolver com Robert Krohn (Hilmar Thate).

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