“O mistério de Irma Vap” faz tributo ao teatro com humor e improviso

Nova versão de peça coloca Mateus Solano e Luís Miranda nos papéis que foram de Marco Nanini e Ney Latorraca

Uma brincadeira diz que, quando um ator vai interpretar um papel que já tem muita história, os fantasmas de seus antecessores ficam em volta. E a obrigação é fazer com que eles sosseguem, ou fazendo melhor, ou fazendo diferente. Imagine interpretar Hamlet com Laurence Olivier no seu encalço – o sujeito acaba enlouquecendo de verdade.

Os atores da nova versão de “O mistério de Irma Vap” precisam conviver com o espectro de uma das montagens mais bem-sucedidas da história do país. Dirigidos por Marília Pera, Marco Nanini e Ney Latorraca fizeram uma carreira épica com a peça, que durou 11 anos e foi acabar no livro “Guinness World Records”. Em Curitiba, a montagem passou pelo Guairão 30 anos atrás, com improvisos hilários e um humor ao mesmo tempo histriônico e inteligente.

A nova “Irma Vap” sobe ao mesmo palco da versão que tinha Nanini e Latorraca com motivos para achar que o fantasma da montagem dos anos 1980 foi superado. Premiada no Shell e com uma temporada de sucesso em São Paulo, a nova montagem vendeu em pouquíssimo tempo todos os ingressos para as duas sessões no Festival de Curitiba 2022 – no sábado (2) e no domingo (3).

Nem pensar

A montagem atual, que começou a ser apresentada durante a pandemia e acabou tendo a temporada interrompida, é liderada pelos atores Mateus Solano e Luís Miranda. E, segundo o diretor Jorge Farjalla, a ideia foi nem pensar na montagem anterior. Até porque, tanto ele quanto os atores são jovens e nem viram a peça encenada por Nanini e Latorraca na época.

“Quando me chamaram para fazer o espetáculo, pensei: mas a gente não encena Nelson Rodrigues o tempo todo? Não montam Shakespeare a toda hora? Então por que não vamos montar esse texto? Vamos, sim!”, diz Farjalla.

Segundo ele, a escolha dos dois atores veio de bate-pronto, e funcionou perfeitamente.

Irma Vap (o nome é um anagrama de Vampira) tem uma trama que mistura humor e mistério. O texto, de Charles Ludlam, é apenas um fio condutor, feito mais para servir de base para improvisos, brincadeiras e levar o público ao riso. Farjalla conta que resolveu marcar os improvisos para que não haja excessos, como ocorria no caso de Latorraca e Nanini, que praticamente remoldaram o texto ao longo dos anos.

Fantasmas

A trama começa com uma mulher (lady Enedy) que, ao se casar, tem de conviver com os fantasmas da ex-mulher de seu marido – e com muitas outras assombrações. A versão que chega a Curitiba fugiu do ambiente comum das encenações, que é uma mansão, e resolveu fazer tudo dentro de um trem-fantasma. “Eu queria fazer referência aos filmes dos anos 1980, a época em que a peça correu o mundo”, diz o diretor. “Então brinquei com aquele filme ‘Pague para entrar, reze para sair’.”

Uma das graças da peça é que os dois atores principais têm de se desdobrar em vários papéis, o que exige uma troca constante de figurinos e de vozes, tanto femininas quanto masculinas. Farjalla conta que a decisão foi não usar os tradicionais biombos ou o recurso da coxia para as trocas. Tudo é feito no palco, à vista do espectador – e mesmo os atores que ajudam nas trocas de roupa ficam visíveis.

“A gente queria fazer uma homenagem ao teatro e ao fazer teatral, então tudo é feito de uma maneira transparente”, diz Farjalla.

Entre os improvisos, há até espaço para brincadeiras políticas. Uma brincadeira com o atual presidente, Jair Bolsonaro, já levou até a protestos de algumas pessoas na plateia, mas Farjalla conta que isso é exceção. “É tudo uma grande brincadeira e as pessoas entendem o humor que estamos fazendo”, diz.

Festival de Curitiba

Para conferir a programação completa e comprar ingressos on-line, acesse o site oficial do evento (aqui). Também é possível comprar ingressos na bilheteria do Festival de Curitiba, no piso L3 do Shopping Mueller. A programação tem ainda vários espetáculos gratuitos e outros em que você paga o que puder ou quiser.

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