Melhor filme de todos os tempos, “Jeanne Dielman” terá duas sessões no Olhar de Cinema

Longa-metragem de 1975 dirigido por Chantal Akerman foi eleito o melhor da história do cinema pela prestigiosa revista britânica "Sight & Sound"

“Jeanne Dielman”, o melhor filme da história do cinema segundo a última pesquisa da revista inglesa “Sight & Sound”, que realiza a sondagem a cada dez anos com críticos de todo o mundo, será exibido no festival Olhar de Cinema 2023. A mostra acontece de 14 a 22 de junho, em Curitiba.

O filme, de origem belga, foi realizado em 1975 pela diretora Chantal Akerman, que na época tinha 25 anos de idade. Foi o segundo longa-metragem da cineasta. 

“Jeanne Dielman”, a história de uma viúva de aproximadamente 40 anos, inteiramente absorvida (e oprimida) pelas tarefas domésticas, e que se prostitui para ganhar a vida, poderá, graças à repercussão da pesquisa da “Sight & Sound”, ser conhecido por um público maior. É um grande filme, com uma linda interpretação de Delphine Seyrig.

Olhar de Cinema

Chantal Akerman realizou uma obra considerada experimental e “Jeanne Dielman” pode ser um desafio para muitos espectadores. A cineasta mostra, com poucos movimentos de câmera e em planos longuíssimos, três dias da vida da protagonista e suas tarefas cotidianas repetitivas, que se resumem a arrumar a cama, preparar as refeições, lavar a louça, realizar compras, cuidar do bebê da vizinha, fazer um pouco de tricô, receber os clientes (homens mais velhos), receber o filho estudante, que passa o dia inteiro fora de casa, servir a ele o jantar e, então, dormir, para tudo recomeçar no dia seguinte. 

São 3 horas e 20 minutos, com raros diálogos e nenhuma música (ouvimos apenas poucos minutos de algumas canções no rádio, que logo é desligado). Ela passa quase o dia inteiro sozinha e troca mínimas palavras com a vizinha, os vendedores, os clientes e o filho, mais interessado em ler seu livro à mesa durante o jantar do que conversar com sua mãe. Mas o que eles teriam para conversar? 

Jeanne Dielman

Esse silêncio destaca o brilhante trabalho de som, que acentua a solidão e a introspecção da personagem. Em meio ao silêncio, ouvimos o som de seus sapatos no assoalho, da água da torneira na cozinha, do vapor saindo da chaleira, do interruptor de luz, dos pratos e dos talheres.

O ambiente é evocativo de uma casa sempre impecavelmente limpa. E a personagem, na cozinha, é iluminada e enquadrada de uma maneira tão marcante e precisa, que o público tem certeza de que aquele cômodo “é o mundo” de Jeanne Dielman. 

Essa senhora “do lar” em plena atividade é um deleite de se ver. Em um trabalho primoroso de direção, a personagem executa as tarefas domésticas com organização e habilidade admiráveis. É como um bonito ritual ou uma elegante coreografia. Jeanne Dielman poderia ter aproveitado esse talento e energia em outro tipo de ocupação. 

Mas, em um dia que parecia bem previsível, Jeanne Dielman termina as tarefas antes do tempo e senta-se na poltrona. Não há nada para ela fazer e sua expressão muda. Nós sabemos muito bem no que ela está pensando. Ela caiu em uma armadilha. 

Chantal Akerman

Aos 15 anos, Chantal Akerman (1950–2015) foi ao cinema ver “O Demônio das Onze Horas” (1965), de Jean-Luc Godard, de quem ela nunca tinha ouvido falar. O filme é um dos mais inventivos e provocadores do cineasta franco-suíço, então no auge da primeira fase de sua carreira. Na saída do cinema, Chantal estava exultante. Não sabia que o cinema podia ser tudo aquilo. Naquele momento, ela decidiu ser diretora de cinema.

Serviço

“Jeanne Dielman” será exibido no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Dia 15 de junho, às 19h15, no Cineplex Batel; e dia 18 de junho, às 18h30, no Cine Passeio. Confira os horário aqui.

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