Mathieu Amalric conta uma história surpreendente em “Hold Me Tight”

Mais para o fim do filme, em cartaz na MUBI, surge uma informação crucial capaz de mudar tudo

Mathieu Amalric é um dos atores mais legais da França. Talvez ele seja mais conhecido como o protagonista imóvel de “O escafandro e a borboleta” (2007). Ou como o comissário de polícia em “A crônica francesa” (2020). Ou ainda como um vilão de “007 – Quantum of Solace” (2008). Mas o ator baixinho de olhos grandes, com uma carreira de mais de 30 anos e uma centena de filmes, é também um diretor inspirado e muito pessoal. Prova disso é “Serre Moi Fort” [me abrace forte], seu trabalho mais recente atrás das câmeras, que acaba de estrear na MUBI.

O filme, que acabou não ganhando um título em português (por aqui, foi adotado a versão em inglês, “Hold Me Tight”), é daqueles que colocam o público para acompanhar a história do ponto de vista de uma personagem. Nesse caso, Clarisse, interpretada por Vicky Krieps (“A ilha de Bergman”). Isso significa que você, ao ver o filme, sabe tanto quanto Clarisse, ou até menos. Mas não demora para que a gente perceba que existe algo mais acontecendo. Algo que a personagem – e que o filme – resistem a revelar.

MUBI

A princípio, parece que Clarisse está fugindo de casa, numa espécie de colapso emocional. Cansada da vida, ela quer deixar marido e os filhos para trás. Mas não sem antes fazer uma lista de mercado e fixar na geladeira, dar uma última olhada nas crianças e arrumar a mesa para o café da manhã. Há um vínculo dela com a família que não é fácil de decifrar na primeira metade da história. Fica claro que ela ama a família, mas o impulso de fugir de casa é mais forte.

Clarisse pega o carro e uma estrada, não se sabe para onde, e vai ouvindo música e pensando na rotina que não precisa mais seguir. Ela imagina como o marido e as crianças vão reagir ao descobrir que ela saiu de casa, se as crianças vão se sentar à mesa para tomar café da manhã antes de ir para a escola como fazem todos os dias, se o marido vai levá-las para a escola. Sobre o que conversariam?

“Hold Me Tight”

Ao volante, na estrada, Clarisse parece ter o poder de prever os passos do trio. Ela diz coisas em voz alta que imediatamente afetam as ações da família. Como quando pensa na filha, a mais velha, estudando uma peça de piano que, não por acaso, ela está ouvindo numa fita cassete, no rádio do carro.

Esses momentos parecem meio mágicos, como se Clarisse fosse clarividente e conseguisse ver o que se passa em casa, mesmo a quilômetros de distância. Mas “Hold Me Tight” não tem nada de mágico. O mistério em torno da fuga da mãe e dessa relação intensa que ela tem com o marido e as crianças vai sendo revelado aos poucos até desembocar num desfecho surpreendente. Um final capaz de mudar a maneira como você estava encarando o filme até aquele ponto.

Contar uma história assim – falando algumas coisas e omitindo outras, cruciais, quase até o fim – não deve ser um negócio fácil de fazer, mas Mathieu Amalric executa a tarefa com muita elegância. É um caso raro de bom ator que se torna bom diretor e roteirista. “Hold Me Tight” é uma surpresa.

Onde assistir

“Hold Me Tight” (“Serre Moi Fort”, no título original em francês) está em cartaz na MUBI.

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