Liverpool discos: um sonho de 25 anos e 33 rotações por minuto

Loja virtual trabalha só com títulos selecionados para quem gosta de LPs

Tempos difíceis impõem restrições, mas também levam à reflexão. Questões antes ignoradas pelos corres do dia-a-dia, tornam-se relevantes ao ouvido atento, como quando um disco tem um risco superficial. O que faz você feliz? O que falta para ser completo? 

Provavelmente esse era o empurrão que faltava ao desenhista e designer gráfico curitibano Simon Taylor para realizar um sonho cultivado há 25 anos: abrir uma loja de vinis. No passado, ele chegou a encaminhar a papelada para alugar um espaço em um shopping, mas a vida interferiu e mudou os planos. Chegada a pandemia, tudo mudou novamente e, enfim, a Liverpool Discos virou realidade. 

O caso de amor de Simon com a música é antigo. Aos 13 anos, comprou seu primeiro vinil. Decidiu que seria guitarrista após assistir La Bamba, aquele sobre os anos 50, no cinema: “Mudou minha vida. Saí pensando ‘é isso que eu quero fazer'”. De fato, virou músico, mas em outras cordas — as do baixo. 

“Tenho uma relação bem grande com música, com o violão. Toquei profissionalmente por muitos anos, é uma coisa que eu faço por paixão. A loja é uma maneira que encontrei de estar perto de uma coisa que eu curto, é uma extensão dessa paixão“, diz o desenhista.

O acervo conta, hoje, com 750 discos. O número é pequeno, mas por um bom motivo: são escolhidos a dedo. Simon explica que poderia comprar mais e mais baratos, porém sua opção é ofertar o que realmente acredita ser o melhor da produção nacional e internacional.

O recorte não é apenas pelo gosto pessoal do “devoto de São Elvis”, mas uma questão de mercado. Gêneros mais populares, como música sertaneja ou trilhas sonoras de novelas, não vendem: “não sai, e o que sai é tão barato que não vale a pena. Geralmente o Rock, o Blues, o Jazz e a MPB têm saída, porque as pessoas que gostam desse tipo de música são mais apaixonadas, sabem o valor daquilo, querem aquela edição do ano tal, daquele país tal.” 

E tem disco lacrado, lançamento, nacional, importado, raro, especial. Os preços são ditados por vários fatores, iniciam na faixa dos R$100 e podem chegar a R$1400, valor, por exemplo, da caixa especial do Grateful Dead, item de edição super limitada.   

A flutuação pode ser fruto do encanto que o vinil oferece, um consumo diferente de outros formatos, como o streaming. “Você começa a se interessar mais pelo artista, pela obra, porque o LP é uma obra. O artista está contando uma história com começo, meio e fim. Não é aquela música separada, que você ouve os três primeiros minutos e já passa para outra. Se torna uma experiência muito forte”, afirma Simon.

A hora e a vez do vinil

Há cerca de cinco anos o vinil começou a voltar com força. Virou um nicho, não mais um mercado de massa, como foi um dia, e como é hoje o streaming. O LP nunca desapareceu por completo, mas nos últimos anos, virou uma febre. Em 2020, a indústria do vinil aumentou as vendas em 30%, batendo, pela primeira vez, os números dos CDs nos Estados Unidos. De acordo com a Recording Industry Association of America (RIAA) , os LPs renderam US$ 619,6 milhões para o país no último ano.

Lojas especializadas começaram a pipocar focando em um público bem específico, que curte música não apenas como trilha sonora, enquanto faz outra coisa, mas como uma experiência sensorial única. Pegar no vinil, admirar a capa, ler o encarte, colocar na vitrola, virar, entender o disco como uma história. 

A venda pela Internet, sem necessidade de uma loja física, também tornou empreendimentos como o de Simon mais acessíveis. Gente de qualquer parte do mundo pode comprar ou vender. O estoque da Liverpool, por exemplo, fica em Curitiba, mas os pedidos de compra chegam de todo o país. 

E se engana quem acha que vinil é coisa de quem quer recuperar a juventude perdida. “Claro que tem esse público, mas você não faz ideia da piazada hipster pelo mundo inteiro que redescobriu o LP e é doente pela coisa. Tem comunidades, é um fervo”, afirma o empreendedor. 

Os grandes hits

Na onda do momento, as gravadoras voltaram a imprimir clássicos, como Led Zeppelin, The Beatles e Eric Clapton, e apostam também em ídolos do público jovem, como Lana del Rey e Taylor Swift. Para completar, o vinil está tão pop que até ganhou versões coloridas, que viraram objetos de desejo dos aficionados. Tem disco de todas as cores, vermelho, rosa, amarelo, verde, azul, transparente e até em formato de coração.

Já no Brasil, a febre dos 33 rotações por minuto fez gravadoras como a Polysom relançarem clássicos do Rock brasileiro dos anos 70 e 80. Os fãs dos Mutantes, Secos e Molhados, Novos Baianos e Gilberto Gil, por exemplo, já podem se deliciar com a prensagem dos antigos sucessos em discos novinhos em folha. 

Do virtual para o real

Como todo bom apaixonado, Simon adora falar de música e sobre o universo ao redor dos discos. Ele publica diariamente nas redes sociais vídeos com curiosidades sobre as obras e os artistas. Enquanto não a loja física não se materializa, é ali que a magia acontece.

“Quero ter essa experiência de falar sobre música, ouvir um disco junto, trocar informação. Não vejo a hora de abrir a loja física”, diz Simon, que, por enquanto, recebe pessoas com hora marcada na sala que reservou para os vinis em sua empresa de design

“O grande barato é esse, é ir lá, aquela coisa da descoberta, de pegar o disco na mão e tal. Fica mais próximo daquilo que eu quero, que é conversar com a pessoa, escolher na hora, ouvir, bater um papo sobre a música.”

Serviço

Liverpool Discos

Facebook: https://www.facebook.com/LiverpoolDiscos

Instagram: https://www.instagram.com/liverpooldiscos/

Endereço (apenas com hora marcada): Rua Atílo Bório, 1849 – Juvevê

Sobre o/a autor/a

2 comentários em “Liverpool discos: um sonho de 25 anos e 33 rotações por minuto”

  1. Jose Machado Neto

    Que bacana, Simon ! Muito legal saber sua história! Apaixonados por vinis, como nos, também costumam ser apaixonados por histórias. Ouvir e contá-las ! As minhas, com a pandemia, coloquei num livro : ” Vinte discos e uma vitrola “, no qual falo dos discos ( Obviamente!) E das minhas histórias de vida com eles ! Estou no insta: @vintediscos, e no YouBtube : Ozandrades , aonde criei até uma banda de rock virtual ! Vai ser um prazer encontrar você por lá ! Valeu !

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