Exposição “Maria Bueno e Tantas Outras” celebra a memória de um mito de Curitiba 

A vítima de feminicídio que se tornou santa popular é uma das mulheres que inspirou a exposição no Museu Casa Alfredo Andersen

A exposição “Maria Bueno e tantas outras” está aberta ao público no Museu Casa Alfredo Andersen (MCAA) e, como o próprio nome dá pistas, leva o mito de Bueno para o mundo da arte pelo olhar de artistas contemporâneos de Curitiba.

Além das produções inéditas, o visitante pode ver o retrato póstumo dessa mulher – que se tornou uma santa popular – assinado pelo artista norueguês radicado em Curitiba, Alfredo Andersen (1860–1935), mais quatro Marias pintadas por ele.

Emerson Persona, curador da exposição, fala que a pluralidade de técnicas é um aspecto importante da mostra, com trabalhos inéditos de Claudia Lara, Giovana Casagrande, Leila Alberti, Rafael Codognoto, e do próprio Persona.

A exceção é a obra de André Malinski (1966–2021), que já era conhecida do público. A seleção dos artistas privilegiou profissionais com pesquisas consistentes ligadas à memória e à ancestralidade. “Nós começamos a fazer reuniões, ler sobre ela, visitamos o túmulo dela, porque alguns precisavam se aprofundar, e produzimos a partir disso”, diz o curador.

A violência contra a mulher, na arte

As produções nasceram de fragmentos do imaginário sobre Maria Bueno, uma mulher que não encontrou justiça entre os homens, mas teria sido vingada pelo poder divino. Era provavelmente negra, mas foi representada como branca por anos. O certo é que foi vítima de feminicídio em 1893, crime que ganhou destaque na imprensa. Segundo Persona, uma das questões que a exposição traz é violência contra a mulher: “Hoje, essa violência ainda acontece”.

Visibilidade para as mulheres

Luiz Gustavo Vidal Pinto (diretor do MCAA), explica que “Maria Bueno e tantas outras” coloca em evidência a representatividade do feminino. O ateliê-escola de Andersen recebia muitas alunas e se tornou ponto de partida para a carreira delas na arte. Ali não eram subestimadas, as técnicas e a metodologia eram as mesmas ensinadas aos homens, algo raro à época. 

A reverência às mulheres ainda pode ser vista nas “tantas outras”, com quadros do artista que fazem parte da exibição. “Andersen retratou nessas telas as Marias simples, as Marias batalhadoras, as mulheres também da sociedade, e as mulheres que estavam em busca de um lugar, de um espaço de direito”, diz.

As “outras” são quatro: “Maria Dias de Paiva”, poetisa e pianista importante; “Maria Josepha de França Pimpão”, pintada por encomenda da família; “Maria Café”, mulher de Paranaguá que vendia cafezinhos para viver; e “Maria Amélia D’Assumpção”, aluna de destaque e ativa na cena artística curitibana.

A iniciativa também busca dar visibilidade para as mulheres. “Essa mostra é dedicada a todas as mulheres: as transgressoras, as artistas, as criadoras, as mães, as donas de casa e a tantas outras”, diz Vidal.

“Maria Bueno e tantas outras”

Exposição no Museu Casa Alfredo Andersen (Rua Mateus Leme, 336 – Centro). De terça a domingo, das 10h às 17h. Entrada gratuita. Outras informações, no site do museu.

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1 comentário em “Exposição “Maria Bueno e Tantas Outras” celebra a memória de um mito de Curitiba ”

  1. Muito interessante está exposição sobre a folclórica e também histórica santa popular, Maria Bueno, a qual despertou tantos devotos e fiéis que crêem que ela, devido a monstruosidade sofrida na época, santificicou-se como uma justiça divina e clamor popular.

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