Documentário dos Racionais MC’s é uma aula sobre periferia, arte e resistência

O rap de Racionais é uma ferramenta na defesa de Direitos Humanos e resgata autoestima da população negra

O meu podcast favorito, seguido por “O que ler agora?”, é Mano a Mano, do Spotify. Neste ano o programa do rapper Mano Brown figura entre 1% dos mais compartilhados do mundo. Não é à toa.

O documentário da Netflix “Racionais MC’s – Das Ruas de São Paulo pro Mundo”, dirigido por Juliana Vicente, da Preta Portê Filmes, demonstra a relevância do grupo para o Brasil.

Mano Brown, Ice Blue, KL Jay e Edi Rock são um quarteto potente e emancipador da população preta e periférica brasileira.

A trajetória dos rappers vai além da música. São mais de 30 anos de denúncias de violação dos Direitos Humanos dos moradores da favela e elevação da autoestima das pessoas negras.

O documentário tem imagens inéditas e depoimentos dos rappers, que falam sobre o início difícil ao estrelato – passando por polêmicas e estigmas.

Interessante notar como quando jovens, os rappers não tinham a mínima pretensão de se tornar um dos grupos mais importantes da música brasileira. No entanto, à medida que as músicas começaram a tocar fora de São Paulo, onde tudo começou, eles aceitam a responsabilidade e se movimentam de forma resiliente às demandas da periferia.

Juliana Vicente é habilidosa em trazer a nostalgia para os fãs que já acompanham Racionais MC’s e, ao mesmo tempo, apresentar a potência do grupo para quem não sabe muita coisa.

Bolha

O rap de Racionais é premiadíssimo, porém, o grande mérito do grupo, que fica explícito no documentário, é justamente não querer (e não deixar) de falar com a população negra e periférica.

Manter essa linguagem nichada, direcionada, é o que encanta. Ao longo dos anos e dos álbuns é possível perceber que as letras acompanham a evolução da favela – claro, você não precisa ouvir todas as músicas, eles mesmos tratam das mudanças durante os depoimentos no documentário.

Para além da arte, Racionais também é um movimento social, um movimento político. Trazer luz sobre a violência policial, tratar de autoestima, versar acerca de crime e militar pela liberdade torna o grupo um estandarte da negritude brasileira.

Recentemente os rappers deram palestraram na Unicamp, que tornou o álbum Sobrevivendo ao Inferno (1997) leitura obrigatória do Vestibular em 2019. Homens pretos dando aula numa universidade. Furaram a bolha.

Descontração

Para além do ativismo e da arte, o documentário mostra ainda a amizade entre os integrantes, traz histórias engraçadas e revela humanidade dos artistas.

Em Mano a Mano é possível ver (ouvir) outra face de Mano Brown, que por vezes fica muito descontraído com seus entrevistados, diferente da postura que mantém no palco.

O documentário também demonstra isso. Blue, KL Jay e Edi Rock e Brown riem, fumam e contam histórias de uma década, como se não houvesse câmeras.

“Racionais MC’s – Das Ruas de São Paulo pro Mundo”

O documentário está disponível na Netflix. O trailer pode ser visto no Youtube.

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