“Pormenores do 1º Concurso de Bravatas e Velhacarias de Pamonha Verde”

Leia a seguir o conto vencedor do Festival Jacaré, promovido pelo Plural em parceria com a Red Hook

O presente documento visa relatar as controvérsias que resultaram do 1º Concurso de Bravatas e Velhacarias promovido pela prefeitura da cidade de Pamonha Verde, região sudoeste do estado do Paraná, nas alturas do outono de 1992. Propunha o prefeito Odorico Pitanga, no então último ano do exercício de seu mandato, a promoção dos valores locais e o fomento do turismo por meio de um evento cuja finalidade justificava-se pela “formação da identidade mitológica do município e, quiçá, da região fronteiriça, de cujo passado pouco se sabe ou pouco se romantiza, o que é pior”.

Consta nos autos que, ao longo do processo do concurso, uma violenta onda de saques, insurreições e recalcitrâncias por parte dos munícipes tomou conta das ruas, ruelas e praças da cidade, obrigando a administração a fazer uso do telefone oficial para encomendar a presença do braço forte do Estado e, por conseguinte, controlar a turba de inquietos. A investigação das condições de tais atos deu-se a partir do resgate de seu edital, publicado no mural do pátio da prefeitura juntamente aos anúncios de emprego, cães perdidos e serviços de lenhadores e cartomantes. Em seguida foram coletadas as evidências primárias, que dizem respeito às quatro desclassificações registradas após o encerramento das inscrições.

Toma-se por critério de desclassificação a constatação da veracidade da bravata submetida. Isto é: caso o participante tenha pleiteado uma mentira ou falcatrua que se comprove como verdadeira, não está mais apto a participar da decisão. A primeira desqualificação foi do participante Jeremias Tibúrcio, que alvitrara em sua submissão a curiosa alegação do registro fotográfico de um fantasma. Obtido com uma Kodak Instamatic, o retrato trazia a cadavérica figura do espírito de uma senhora idosa repousando em uma cadeira, ao fundo de um corredor escuro, iluminada apenas pelo flash do dispositivo. A tentativa de teatralização do documento fotográfico (que deixaria Hitchcock orgulhoso) desencadeou, entretanto, uma curiosa tribulação: sua autenticidade foi desmentida pela própria fotografada, ninguém menos que Gumercinda Tibúrcio, bisavó do participante, que pessoalmente surgiu em sonho para três membros da organização do concurso (na mesma noite). A imagem onírica, derrapando em sua cadeira de rodas conseguiu, por meio de olhares crispantes e de uma tez esbranquiçada, comprovar que ela estava sim, falecida, porém não gozando de descanso eterno, e sim condenada a habitar os corredores do casarão da família e a marcar visagens e filmes de câmeras.

A segunda desclassificação foi da chacota submetida pelo casal Antônio e Renata Morvintente, pescadores estabelecidos nas redondezas do distrito portuário do Rio Boneca, que atravessa a cidade. Submeteram os pescadores a descrição do que, segundo eles, era o “maior peixe já fisgado no país”, com desenhos técnicos da criatura e numerais indicando as medidas. Caiu por terra a tese, porém, antes mesmo do casal ser auscultado pelos juízes, visto que as informações foram submetidas usando um sistema de medidas milenar e há muito abandonado nas terras brasileiras, cujas conversões resultavam em um peixe de tamanho médio e, inclusive, até mesmo médio-pequeno se comparado aos modelos já registrados no Livro dos Pescadores do Paraná (editora Tal Que Qual, ano 1963 da terceira edição).

O casal submeteu uma interpolação ao veredito, pedindo uma reavaliação a partir de novas informações sobre as cores, detalhes das barbatanas e presença de elusivas marcas no dorso do animal capturado. A alegação era tratar-se de uma nova espécie, nunca antes vista. Ictiólogos contratados da universidade federal foram solicitados para averiguar e constataram que, novamente, a tentativa de bravata se convertia em uma precisa descrição de espécies registradas comumente em rios ao norte e em terras paraguaias. Uma terceira tentativa de recurso do casal, em que revelavam que o peixe também falava em forte sotaque castelhano, foi tal e qual recusada. Bravata não desmentida, mas comprovada pelo ancião que habita a caverna do lado oposto do rio, o Senhor Pupunha (também chamado pelas crianças da cidade de “Véio Bosta”), que relatou frequentemente conversar com peixes, répteis e plantas carnívoras da região ribeirinha, alguns inclusive no mais fiel e transparente sotaque castelhano.

A terceira desclassificação traz ares de mistério e nebulosidade ao concurso, visto que foi imposta por agentes externos à organização. Engenheiro aposentado, escultor, tipógrafo, nefelibata e tradutor do latim e do sânscrito, o senhor Juvenal d’Esperidiani teve sua entrada no concurso contestada em primeira instância pelo comitê técnico, composto originalmente pelas duas professoras de matemática da escola municipal e pelo senhor Ivens, o geógrafo oficial da cidade (e um dos três visitados pelo fantasma de Gumercinda). Dizia a mentira proposta pelo engenheiro que o mesmo teria tido acesso, em primeira mão, à fórmula da transcrição retrocausal da linearidade cronológica. Se aplicada e transferida para os meios mecânicos apropriados, possibilitaria a fabricação caseira de uma máquina do tempo, cem por cento composta de peças da indústria local. Anexo ao relato da mentira estava grampeado um calhamaço com cálculos, formulações matemáticas e postulados científicos numericamente expressados, frutos da imaginação de Juvenal. Ilegíveis aos olhos leigos mas suficientemente suspeitos aos olhos do comitê técnico. Os três decidiram por pausar o andamento do concurso e consultar o departamento de física e eletrodinâmica da secretaria de ciência e tecnologia do governo, que então mantinha uma unidade de cientistas para conduzir experimentos de ordem confidencial na usina hidrelétrica que ficava oitenta quilômetros ao norte. Tais cientistas relataram ter entrado em contato com o material de Juvenal e, perplexos, ter enviado cópias de trechos por fax para pesquisadores parceiros das universidades de Oxford, na Inglaterra, e para o Instituto Técnico de Massachussets, nos Estados Unidos.

Enquanto os doutores trocavam telefonemas e correspondência eletrônica, Pamonha Verde aguardou por cinco dias um desfecho para a situação do engenheiro aposentado. No sexto dia, a pacata cidade despertou com o barulho de uma fila de carros pretos tomando as principais ruas, escoltados por caminhões do exército e dois helicópteros garantindo o perímetro no espaço aéreo. Homens de terno, gravata, cabelos muito bem penteados e óculos escuros bateram na porta da casa de Juvenal, que foi visto pela última vez sendo acompanhado para dentro de um dos carros pretos enquanto os demais agentes obrigavam os vizinhos da rua a assinar alguns documentos.

A quarta e última desclassificação foi de uma bravata cuja origem e financiamento foram comprovados pelos detetives de plantão, acionados em caso de leitura sinalizada como suspeita pelo comitê de pré-avaliação. Tal comitê, em sua formação secreta, conduzia uma leitura editorial das mentiras, acionando a bandeira vermelha da checagem de fatos a qualquer suspeita de conluio interno, compra ou suborno do júri ou simplesmente inserções mercadológicas que visassem se aproveitar do concurso para promover produtos e serviços não autorizados.

A desclassificação, no caso, foi da mentira que, resumidamente, propunha que o fumo do tabaco não fazia mal à saúde. Suspeitando de propaganda subliminar, os checadores de fatos traçaram a origem da submissão: sob o pseudônimo de Ermelindo Gustavo, o verdadeiro autor da mentira era Ptolomeia de Castro, orgulhosa dona da fábrica de cigarrilhas do distrito industrial e notória promotora do hábito do tabagismo entre as classes mais altas. Entrando com uma ação pela suspensão da inscrição, o comitê de pré-avaliação julgou como nociva a bravata, potencialmente prejudicial à saúde e capaz de conduzir jovens desavisados à prática do fumo recreativo, sem valor mitológico a agregar à região. Contestando a ação, a magnata do fumo ressubmeteu sua mentira, reescrevendo-a sob o discurso de que fumar não faz nem bem, nem mal. Trata-se de um ato neutro e insignificante. Dessa vez, quem entrou com ação contrária foi a Junta de Entusiastas do Pito (JEP), uma organização sem fins lucrativos que defende o uso benéfico do tabaco para controle da ansiedade e regulagem do trato digestivo (em parceria com a Junta dos Entusiastas da Cafeicultura – JEC). Para resolver o impasse, o próprio prefeito interferiu na questão: consumidor de bons charutos, Odorico Pitanga declarou a inscrição digna de menção honrosa mas não mais elegível para concorrer no mesmo páreo das demais.

Passando para uma visão geral da metodologia de julgamento das inscrições confirmadas, decorre-se que a avaliação das melhores bravatas, velhacarias, chistes, mentiradas e vergonheiras seria executada por um júri selecionado aleatoriamente entre os quinze mil, trezentos e dezenove habitantes da cidade. Tal quórum, composto de doze seres humanos vivos, com mais de dezesseis anos de idade e munidos de certidão de nascimento, era responsável por levar para casa e ler cuidadosamente as patifarias e falcatruas, selecionando dentre elas as que mais comprovadamente se passariam pelos piores ardis, sem deixar margem de dúvida para qualquer traço de veracidade. Compatíveis, pois, com o status mitológico almejado.

Foi então que começaram as fagulhas da discórdia. Compondo o júri estava como nome sorteado o de Thamires Kleefeld, dona de uma das três grandes padarias de Pamonha Verde. Por arquitetação do destino ou por qualquer que seja o evento astrológico em questão, caiu nas mãos desta senhora justamente a bravata de péssimo gosto sobre as condições porno-satânicas da produção dos pães assados e comercializados na cidade. Dizia o texto da mentira que Pamonha Verde tinha um grande pacto com o diabo, o qual realizava eróticas danças e fazia crescer as massas dos pães em volume, dando a eles um tom bronzeado na casca. Não necessariamente o povo da cidade comia o “pão que o diabo amassou”, mas uma variação, um pão pelo qual o diabo dançou. A jurada se sentiu extremamente ofendida e pessoalmente atacada pela falcatrua. Suspeitou que seus segredos culinários (uso de sais de bromo e potássio como aditivos para a farinha) estivessem sendo escancarados por meio de mensagens subliminares, o que poderia acarretar sérios imbróglios com a vigilância sanitária. Em um acesso de fúria, Thamires burlou o sistema de avaliação cega, descobrindo o nome do participante: Bráulio Pipeta, seu rival e dono da maior confeitaria de Juca Menezes, cidade vizinha. Convocando os outros dois grandes padeiros de Pamonha Verde, Thamires conduziu uma espécie de cruzada contra o bravateiro, que precisou se esconder nas adegas e calabouços da família por algumas semanas. O evento resultou em nova suspensão da avaliação das mentiras, pois a padeira teve que ser substituída em seu cargo.

O sistema de avaliações por júri, entretanto, se mostrou bastante fragilizado. O caso da padaria de Kleefeld foi apenas um indicativo do pesado efeito colateral do concurso. As invenções e mentiras submetidas (ao todo, sete mil e quatro) eram facilmente vazadas e circulavam entre a população, passando de ouvido em ouvido, sofrendo microalterações para incluir nomes pessoais, localizações, nomes de animais de estimação, detalhes contábeis, detalhes conjugais et cétera. Uma verdadeira rede de mentiras e controvérsias teve início, não tardando a mobilizar grande parte da cidade em uma espécie de olimpíada de fofocas. Repassar as mentiras adiante virou uma fonte de renda, com pessoas oferecendo diferentes valores para quem tomasse iniciativa.

Mais sete jurados foram afastados, acusados de receptação de propina. Traçando a origem do dinheiro, investigadores chegaram a vários envolvidos de municípios vizinhos, o que sugeria uma vasta rede de desinformação muito bem estabelecida e guarnecida com escritórios dedicados ao repasse de mentiras e informações falsas. Independentes dos processos do concurso, os escritórios recebiam briefings por encomenda, fabricavam factoides e despachavam mensageiros, cuja infiltração nos meios de comunicação era sorrateira, mas não desapercebida. Avaliadores independentes, mitólogos, connoisseurs e até mesmo praticantes ocasionais do chiste recreativo apontavam que os mitos fabricados industrialmente diferiam das verdadeiras mentiras. Em seus nuances artesanais, elas se localizavam mais proximamente da linguagem popular e transpareciam menos escracho em suas intenções políticas.

Infelizmente, a essas alturas, já não havia uma única pessoa em quem se pudesse confiar na cidade ou na região do estado, o que fez com que o prefeito e sua equipe fossem mais uma vez obrigados a intervir. Convocando novos jurados do estrangeiro, uma bancada de avaliação estava composta, desta vez com participantes especialistas, formados na capital ou até mesmo em instituições de ensino da Europa e dos Tigres Asiáticos.

A avaliação do concurso seguiu sob o mais completo sigilo. Com milhares de mentiras já descartadas, uma lista restrita das melhores cem foi exposta ao público, chegando à terceira e última fase do evento: o voto popular. Embora arriscado, o procedimento conferia o caráter democrático que a eleição de um novo mito demandava, deixando ao gosto do povo a identificação da velhacaria que melhor o conviesse.

Inscrições de calibre extremamente duvidoso figuravam na lista. A história do homem que morava sozinho e plantava o próprio alimento, até que um dia uma enchente levou embora todos os seus vasos de planta, enfileirados como se fossem barquinhos. A incrível história do viajante que foi auxiliado, por uma versão de si vinda do futuro, para encontrar o caminho do poço mais próximo, e se apaixonou por si mesmo por causa da barba já crescida. A história do rapaz que trancou a faculdade para enfrentar o crime de madrugada, usando apenas a pele de um morcego gigante como roupa. Os boatos sobre polvos, lulas e moluscos vivos no esgoto da cidade, alimentando-se das crianças que ficavam para além das oito horas na rua. Relatos e fotomontagens do espírito do poste de luz. O caminhão que gritava por socorro. O papagaio que declarava imposto de renda. O bebê-diabo, que já nasceu rindo e pedindo para a enfermeira trazer uma caipirinha. O imitador de avestruzes. A velhinha de cento e três anos, virgem, que se alimentava de cactos. O Bando da Troca-Letra, um grupo de ciclistas que passava pegando as correspondências das caixas de correio e trocando-as entre os vizinhos. A história de Orestes Bureta, o chefe de uma longa tradição de esvaziadores de pneu. O terceiro-seio da última freira a morrer no convento. Dono de uma clínica de reabilitação para aficionados por números primos, Doutor Lobato. A maldição que recai sobre as pessoas que tomam sopa debaixo da mesa. Os mais de trinta avistamentos de Elvis Presley nos bares da cidade. O mais alto anão do mundo. A música que, quando tocada ao contrário, continha louvores a Cristo. O vírus de computador que transformava a máquina em um aparelho de traduzir latidos. O homem que dizia ter nascido na lua. O registro de patente da gemada perfeita. A mulher que domava velociraptors. A história da visita do embaixador de São Florêncio da Putinga, um país recém-descoberto no pacífico norte. A coleção de manequins do prefeito, que serviam como material para despistar a polícia. As instruções para acessar o túnel que ficava embaixo do chafariz da cidade. As anedotas de Crispim Jackson, o ladrão de sonegadores. A pedra-pomes que aconselhava casais infelizes. A aparição do Come-Fezes na terceira madrugada de agosto.

Foram duas semanas de acalorados debates, tentativas de lobby, conversão de votos e claras e descaradas campanhas para promover mentiras favoritas com cartazes, outdoors, camisetas e jingles encomendados aos músicos dos cabarés locais. Brigas eram frequentes. Autores de mentiras concorrentes eram aconselhados a não sair muito de suas casas. A própria exibição da lista, em praça pública, acabou por chamar a atenção dos habitantes das cidades e vilarejos vizinhos, muitos dos quais acabavam se apegando às lorotas e espalhando por aí as mais divertidas variações das histórias, tentando fazer com que elas ganhassem mais sentido em contextos mais ou menos rurais, com mais ou menos detalhes.

Ao término da contagem de votos, a mentira escolhida foi revelada em horário nobre, sendo transmitida pelos meios de comunicação para toda a região sudoeste do estado. Em um evento de notória significância e em tom de noticiário vespertino, o próprio prefeito se dispôs a ler a redação completa daquela que foi eleita a melhor bravata de Pamonha Verde. Escrita por Valentina Peremptório, estudante de belas artes e vendedora ocasional de bordados, a fábula relatava a descoberta, em uma fonte próxima, de águas especiais contentoras de propriedades curativas.

A mentira prega que, em tempos pós-renascentistas, a cidade de Pamonha Verde (ainda chamada de Milho Verde pelos mercadores fundadores), durante uma chuvosa temporada de março, teria recebido a visita de uma caravana episcopal que seguia rumo às bacias hidrográficas do Amazonas. Os sacerdotes e cavaleiros faziam um trajeto transcontinental, espalhando algumas bênçãos aqui e acolá, fortalecidas pelos restos do antebraço do então canonizado São Tomás de Aquino. Os peregrinos escolheram as margens de um dos pequenos açudes das chácaras na rodovia, então um caminho de terra batida, como local de acampamento. Em tal açude se banharam, rezaram, brincaram, fizeram vigília e enxaguaram o osso do antebraço do santo. Imediatamente, suas águas adquiriram um aspecto esbranquiçado, como se tivessem recebido mais elementos minerais. Surgia então a chamada água-clorada de São Tomás de Aquino, ou simplesmente o “cloro d’Aquino” ou, ainda, para os mais devotos, o “cloro-quino”, um compósito de propriedades extremamente curativas, capaz de sarar a tosse; livrar os olhos da catarata; agir sobre o intestino grosso, ajudando a solidificar as fezes; fazer o pênis adquirir rigidez por oito minutos ou mais; livrar os pulmões do catarro e, mais importante, deixar a pessoa subitamente disposta ao trabalho braçal se fosse ingerido nos primeiros momentos de quaisquer doenças (no mais precoce dos ímpetos).

A bravata era exatamente o que se esperava do concurso. Uma mentira escabrosa o suficiente para jamais suscitar certezas quanto ao seu conteúdo, porém ao mesmo tempo sutil e comovente, a ponto de deixar o público desejoso pelos abraços de Esculápio. Continha em seu manifesto os traços daquilo que realmente compunha a mitologia fantástica de Pamonha Verde: o banimento dos fantasmas das doenças. A segregação dos defensores da verdade (estraga-prazeres). O aspecto retrocausal do tratamento precoce. O caráter leviano do medicamento: toma quem quer! Não haveria motivo para acreditar na possibilidade do “cloro-quino”, e por isso a cidade de Pamonha Verde adotou a benção do santo como novo mito-fundador.

Hoje, trinta anos após a realização do agitado concurso, Valentina não se recorda mais dos principais motivos dos seus antigos bordados. A CEO se dedica exclusivamente ao comércio virtual de frascos da água-clorada de São Tomás de Aquino. Vendida e rotulada como um souvenir sem propriedades medicinais, a iguaria regional é, todavia, comprada e usada por entusiastas do país inteiro no menor sinal de virose. Valentina patrocina times de futebol, entrega cestas básicas nas comunidades carentes e já cogita lançar sua própria moeda virtual, a clorocoin. Em recentes entrevistas, a fundadora do conglomerado pseudofarmacêutico não nega ser ostensivamente contatada por intermediadores de procurement, oficiais militares e outros profissionais geralmente ligados a governos de países com poucos critérios para o enfrentamento de epidemias.

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Festival Jacaré

A cada domingo, o Plural publica um dos cinco contos finalistas do Festival Jacaré, sempre com ilustração do cartunista Benett.

“Pormenores do 1º Concurso de Bravatas e Velhacarias de Pamonha Verde” foi o vencedor do festival e é o primeiro a ser publicado.

O segundo colocado, “Dentro daquela vala tinha tanta gente que nem gente eles eram mais”, de Bruno Henrique da Cunha, sai no próximo domingo (14).

Veja os nomes dos cinco finalistas, aqui.

Sobre o/a autor/a

7 comentários em ““Pormenores do 1º Concurso de Bravatas e Velhacarias de Pamonha Verde””

  1. Fiquei transtornada no meio da história.
    e para quem não pesquisou:
    1 – alvitrar – sugerir, propor, aconselhar
    2- ictiologos – parte zoologia que estuda os peixes
    3 – nefelibata – pessoa que anda nas nuvens, longe da realidade

    Adoro histórias que me levam para o dicionário.
    Parabéns, Escobar !!

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