“Armageddon Time” devia prestar atenção nas coisas importantes

Filme de James Gray narra a história de um menino judeu de sorte crescendo numa família amorosa na Nova York dos anos 1980

Em “Armageddon Time”, que estreia nos cinemas nesta semana, o personagem principal da história é Paul Graff, um menino de 11 anos que vive em Nova York com a família. Uma boa família. A mãe é amorosa e inteligente, o pai é trabalhador. Para os meus padrões, e para os padrões de Johnny Davis, um garoto negro que frequenta a mesma escola pública de Paul, o garoto branco e judeu tem sorte, sim.

Johnny vive com a vó, mas ela é uma senhora de saúde debilitada. O pai e a mãe do menino sequer são mencionados. E ele sonha em viajar para a Flórida a fim de morar com o meio-irmão que trabalha para a NASA (ao menos é o que ele diz).

A despeito de toda sua sorte, Paul é um idiota. Mais idiota do que se espera de um menino de 11 anos. Ele é insolente, irresponsável e mentiroso. E meio lento para aprender, de acordo com as avaliações que sofre. O garoto desenha um pouco e fala em se tornar um artista, mas não parece particularmente talentoso ou engajado com qualquer coisa. Os primeiros 20 minutos de filme são difíceis porque é quando ficamos conhecendo Paul e seus defeitos. (Numa cena em que o pai dá uma surra no moleque, você pode se surpreender torcendo pela cinta de couro.)

Mas o começo irritante passa e você vai desenvolvendo uma curiosidade paciente pelo menino e uma simpatia enorme pelo avô do menino, interpretado por Anthony Hopkins. O avô é o melhor personagem tanto na vida de Paul quanto no filme. É a única pessoa que o garoto está disposto a ouvir – o que é bom, pois é o único que tem algo a dizer para o garoto. 

Depois de pisar na bola na escola pública mais uma vez, e por influência do avô, que aceita pagar as despesas, Paul é mandado para uma escola particular que parece cara. Assim ele terá uma chance na vida, “um lugar à mesa”, como diz o avô.

Ao longo do filme, me perguntei por que o diretor James Gray, que também escreveu o roteiro, estava contando a história de Paul. Um menino antipático, irritante e meio lento. E não encontrei uma resposta satisfatória.

“Armageddon Time”

A história ensaia fazer um paralelo entre a vida do menino branco e a do menino negro, mas não elabora o suficiente. Um acontecimento com potencial para mudar alguma coisa na vida de Paul não parece ter o impacto esperado. A exemplo do personagem principal, é como se o filme também fosse um pouco lento e coisas importantes acontecessem sem receber a devida atenção.

Li por aí que “Armageddon Time” tem um quê autobiográfico. Isso explicaria bastante coisa. James Gray tenta extrair algum sentido do passado, mas faz um mergulho profundo demais no próprio umbigo e se perde pelo caminho. No fim, a conclusão a que chega é de uma banalidade quase cômica: “A vida é injusta”. Sério?

Onde assistir

“Armageddon Time” estreia nos cinemas nesta quinta-feira (1º).

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