“A migração silenciosa” fala sobre o trabalho difícil de amadurecer 

Protagonista do filme de Malene Choi é um jovem que tenta conciliar o fato de ter nascido na Coreia do Sul com a experiência de crescer numa família dinamarquesa

O período entre a adolescência e o início da vida adulta é um momento-chave na formação da identidade de uma pessoa (e pode ser também uma aporrinhação para quem convive com adolescentes ou jovens adultos). No filme “A migração silenciosa”, a diretora Malene Choi faz seu protagonista viver essa situação, mas com um detalhe incomum: o jovem que amadurece nasceu na Coreia e foi adotado quando bebê por pais dinamarqueses e levado para a Dinamarca. 

Os pais de Carl (Cornelius Won Riedel-Clausen) têm uma fazenda pequena que produz leite e esperam poder se aposentar. Principalmente o pai (Bjarne Henriksen), que comanda a produção e precisa se submeter a uma cirurgia nas costas. A ideia é que Carl assuma o controle da fazenda da família.

É uma história conhecida, certo? A do pai que espera passar o bastão dos negócios da família para o filho. A principal diferença parece ser que Carl não tem a aparência que se espera de um dinamarquês (“Quem espera?”, é uma boa pergunta nesse contexto) . Sim, ele pode ser coreano no papel, mas cresceu e viveu a vida inteira na Dinamarca, e foi educado em escolas dinamarquesas. Na prática, Carl é tão dinamarquês quanto seus pais. 

A migração silenciosa

Os traços coreanos – os olhos puxados, a boca pequena e delicada, o cabelo preto e abundante – contrastam com os dinamarqueses corados, carecas e loiros que o cercam. 

“Volte para o lugar de onde veio” é uma das frases que Carl ouve mesmo de pessoas que fazem parte da família – ou seja, pessoas que sabem que ele foi adotado e viveu a vida inteira na Dinamarca.

A crise de identidade de Carl passa então por um momento em que ele se pergunta se a Coreia do Sul não é, de fato, a sua casa. Talvez ele se sinta menos estrangeiro lá. Mas o que ele vai descobrir é que as coisas não são tão simples assim. 

Existe aquilo que você parece ser (ao menos para os outros) e aquilo que você de fato é (no seu íntimo). E quando essas duas facetas não estão conectadas por qualquer motivo, aquele trabalho de formar sua identidade fica um pouquinho mais difícil. É preciso ter coragem e personalidade para lidar com uma situação dessas. Inclusive para aceitar que você, aos olhos de outras pessoas, pode parecer algo tão alienígena quanto um pedaço de meteoro vindo do espaço.

Olhar de Cinema

“A migração silenciosa” foi exibido como parte da Mostra Competitiva Internacional no Olhar de Cinema 2023.

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