Jamaiquintas: uma festa jamaicana em Curitiba
Em atividade desde 2009, evento reúne Reagge Music e suas subculturas
Há 16 anos, em todas as quintas-feiras, Curitiba é convidada a mergulhar na cultura jamaicana. A Jamaiquintas — festa criada em 2009 pelo DJ Caê Traven, o Uhuru Selector — é mais do que uma noite de reggae: é um projeto de resistência cultural que traz para a capital paranaense a essência do Dub, do Sound System e das raízes que influenciaram gerações na música urbana.
O evento acontece semanalmente a partir das 19h no Basement Cultural, localizado na Rua Desembargador Benvindo Valente, 260, no bairro São Francisco, região boêmia da cidade. Foi nesse espaço, alinhado ao espírito “faça você mesmo”, que a festa encontrou lar para suas paredes de som, que alternam entre hits selecionados e apresentações de artistas locais e internacionais.
A dinâmica da Jamaiquintas vai além da experiência sonora e promove o apoio coletivo a pequenos empreendedores que comercializam produtos e serviços alinhados à temática da festa. Marcas da capital, da região metropolitana e até de estados vizinhos se reúnem regularmente no evento.
“A economia solidária aqui é real. Temos desde uma marca de roupas de Joinville, cujo proprietário vem toda quinta-feira, até uma lojinha de sedas, uma massagista e outros. São nossos apoiadores de presença, que também auxiliam na divulgação. Para todos nós, o mais importante hoje é manter essa rede fortalecida”, explicou Uhuru.

No centro da Jamaiquintas está a cultura do Sound System — expressão cultural nascida na Jamaica nos anos 1940, impulsionada por produtores pioneiros como Duke Reid e Coxsone Dodd. O movimento une o selector — curador musical — e o MC, criando uma experiência sonora coletiva que deu origem a gêneros como o Dub, vertente eletrônica que surgiu do reggae.
Em terras curitibanas, a Jamaiquintas surgiu para fomentar a cultura jamaicana e promover intercâmbio entre artistas locais e de outras regiões. De caráter itinerante, passou por diversos bares da cidade e também teve edições em outros estados e no exterior.
Ao longo dos anos, consolidou-se como plataforma para artistas locais, nacionais e internacionais. Por lá passaram nomes como Digital Dubs, do Rio de Janeiro; Arcanjo Ras e Pump Killa, de São Paulo; Soom T, diretamente do Reino Unido; entre outros. Os encontros também revelaram talentos da cena curitibana, como Malutronn, Osas Destiny e a banda Rocksteady City Firm, que teve uma de suas primeiras apresentações na Jamaiquintas ainda em 2009.

A história do evento se entrelaça com a trajetória de seu idealizador, Uhuru. Natural de Foz do Iguaçu, o seletor e produtor cultural começou a se interessar por música ainda nos anos 1990, enquanto trabalhava em uma videolocadora em sua cidade natal. Foi ali, e em subsequentes intercâmbios estaduais e internacionais, que a cultura do Reggae e suas vertentes se tornaram objeto de pesquisa e paixão.
Ao retornar ao Paraná, trouxe consigo a missão de disseminar o movimento. “O Reggae não é só paz e amor, é muito sobre luta e resistência. É uma mensagem de valorização do povo preto, da diáspora africana”, afirmou.
A escolha do dia da semana está ligada à própria origem do nome “Jamaiquintas”. A ideia partiu de um amigo argentino do organizador, que reside no Paraguai. Ao se referir às sessões de música jamaicana, ele brincava com as palavras, fundindo “Jamaica” e “quintas”.
Além da homenagem sonora, a quinta-feira também se mostrou uma estratégia para consolidar o nicho e evitar a concorrência com a programação de fim de semana. “Se a gente fizesse na sexta ou no sábado, cairia na concorrência com todos os outros tipos de festa. O Rock, por exemplo, tem uma aceitação imediata. Já ao partir para o Samba, o Pagode, o Rap ou o Trap, o cenário é diferente”, comparou Uhuru.
É nesse contexto que o Dub, o Sound System e o Reggae Music ocupam seu espaço — um lugar, segundo ele, paradoxalmente acolhedor. “É um ambiente onde todo mundo se sente confortável. Os mesmos fãs de Rock que citei gostam de Reggae e até escutam, mas não frequentam o nosso espaço. Essa desconexão entre a apreciação e a frequência é uma realidade com a qual lidamos”, refletiu, definindo o desafio de cultivar um público cativo para o gênero que habita, como ele mesmo diz, “o underground do underground”.
Serviço
Jamaiquintas @originaljamaiquintas
Onde: Basement Cultural - Rua Desembargador Benvindo Valente, 260. São Francisco. Curitiba.
Quando: Todas as quintas-feiras
Horário: A partir das 19h
Este texto faz parte do Periferias Plurais, uma parceria entre o Plural, o Gasam e a Itaipu Binacional.