Franz Rogowski, o ator alemão que rompe com os padrões

Dado a interpretar personagens estranhos e quietos, Franz Rogowski é uma espécie de Joaquin Phoenix da Alemanha

Franz Rogowski poderia ser um irmão mais novo de Joaquin Phoenix. E essa comparação não é de agora. Quando ganhou um perfil no jornal “The New York Times”, em 2018, o ator alemão citou Phoenix dizendo que ambos passaram por uma cirurgia para corrigir uma má formação dos lábios (o que chamam de fenda labial ou lábio leporino). Mas os pontos em comum entre os dois atores vão além de uma cicatriz no lábio superior. Ambos têm gosto por personagens controversos, mostram intensidade nos papéis que interpretam e… sabem dançar.

Quatro anos atrás, ele ganhou o perfil no jornal americano porque começava a chamar atenção. Havia trabalho em dois filmes badalados: “Trânsito” (2018), de Christian Petzold, e “Nos corredores” (2018), de Thomas Stuber. No segundo, ele interpreta um sujeito estranho cheio de tatuagens que consegue um emprego num mercado gigantesco. Parece um mundo à parte, com regras próprias, mas a sorte do personagem de Franz Rogowski é que ele cai nas graças do homem designado para ser seu mentor, um senhor de idade que cuida do setor de bebidas (que não se dá com o setor de congelados, que na verdade é mal visto por quase todos os outros setores).

Franz Rogowski e Sandra Hüller, no filme “Nos corredores” (“In the Aisles”), de 2018. (Foto: Divulgação)

Presença

O bafafá em torno do nome de Franz Rogowski se deu também pelo fato de ele ter conseguido seu primeiro trabalho como ator no cinema americano dentro do filme “Uma vida oculta” (2019), de Terrence Malick. Ele não foi o protagonista, mas bastou para deixar todo mundo ligado na sua presença.

Esse parece ser um dos trunfos de Rogowski. Ele tem presença. E ela não é o que as pessoas normalmente associam a um astro de cinema. Para o “Times”, ele mesmo disse: “Acho que as pessoas veem aparências perfeitas em toda parte e, quando alguém rompe com esse padrão, acaba sendo interessante”.

Ele não tem nada a ver com o padrão. Por causa da fenda labial e apesar da cirurgia de correção, a voz de Rogowski é anasalada e ele sibila (é o que chamam de sigmatismo). Essas características o levaram a ser descartado em cursos de ator e testes para papéis. Meio sem rumo, chegou a trabalhar na rua como uma espécie de artista mambembe, fazendo malabarismos e dançando. Teria sido nessa época que ele aprendeu a importância de se movimentar. No cinema, com uma câmera que pode prestar atenção nos menores detalhes, isso vira um trunfo.

Uma característica comum aos personagens de Franz Rogowski, além de serem estranhos, é a de que eles falam pouco. Isso, de acordo com o ator, torna a atuação muito mais complicada. Dizem que atores alemães são dados à declamar longos textos como forma de mostrar habilidade. Definitivamente, não é o caso de Rogowski.

Franz Rogowski e Georg Friedrich, companheiros de cela em “Great Freedom”. (Foto: Divulgação)

“Great Freedom”

Desde que trabalhou com Malick, ele fez mais meia dúzia de filmes. Desses, o que se destaca é “Great Freedom”, premiado numa mostra paralela do Festival de Cannes 2021 e parte do acervo da MUBI.

Sebastian Meise, que dirigiu o filme e escreveu o roteiro com Thomas Reider, narra a história de Hans Hoffmann (Rogowski), um homem perseguido na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e também depois dela. Hans é o personagem mais humano que Rogowski já interpretou, e também o menos estranho.

Na Alemanha dos anos 1940 – e dos 1950 e dos 1960 –, havia uma lei conhecida como parágrafo 175, que proibia um homem de ter relações homossexuais. Hans passou uma parte considerável da vida desafiando essa lei e, por isso, foi preso diversas vezes.

A história transita entre três momentos e detenções específicas, uma ocorrida logo após a Segunda Guerra, outra em meados dos anos 1950 e uma terceira, mais para o fim dos anos 1960, meses antes do homem desembarcar na lua.

Como era de se esperar, dentro da cadeia assim como fora dela, Hans é hostilizado. Sobretudo por seu companheiro de cela Viktor (Georg Friedrich), que não aceita ter um homossexual dormindo na cama ao lado da sua.

A despeito do ambiente terrível da cadeia (melhor do que uma prisão brasileira superlotada, mas terrível ainda assim), “Great Freedom” narra uma história de amor.  Do amor entre Hans e Viktor, que a princípio não é gay. Condenado por assassinato, Viktor vai passar o resto da vida na cadeia. Com Hans, ele acaba descobrindo um companheirismo que não imaginava possível, um carinho que não conhecia. Um amor, enfim. E é Rogowski, com seus gestos e silêncios, que encarna esse amor.

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1 comentário em “Franz Rogowski, o ator alemão que rompe com os padrões”

  1. Maria Mirtes Martins Cohen

    Rogowski não tem só o rosto parecido com Joaquin Phoenix. Ele tem o corpo parecido, o andar e o jeito de interpretar. Quem sabe foram separados ao nascer, gêmeos quase idênticos. Em uma cena de Em Trânsito, de costas, parecia o coringa andando.

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