Quase sem diálogos, “Disco Boy” faz alegoria geopolítica

No Olhar de Cinema, cineasta Giacomo Abbruzzese fala de geopolítica, de ser um outro e de posse – de fronteiras, recursos e identidades

“Estou feliz que vocês vieram ver este filme no cinema”, disse Giacomo Abbruzzese, na estreia de “Disco Boy”, na noite de sábado (17), dentro da Mostra Competitiva Internacional do Olhar de Cinema 2022. O cineasta italiano veio a Curitiba para apresentar o seu filme no festival. “Porque ‘Disco Boy’ não é para se ver em casa, parando para ir ao banheiro.”

Na breve conversa de Abbruzzese com o público, numa sala lotada do Cineplex Batel antes da projeção, ele disse que uma parte importante de “Disco Boy” é o som, e que ele e sua equipe dedicaram bastante tempo na pós-produção só para fazer o som da forma como o cineasta imaginava. 

Disco Boy

É meio que um clichê falar de um produto cultural como uma “experiência sensorial”, mas isso faz sentido com “Disco Boy”. Uma parte considerável do filme se dá no meio de florestas e rios, e o impacto dessas cenas é amplificado pelo som e pela edição de som. Sem dúvida, é o aspecto técnico que mais chama atenção no trabalho de Abbruzzese.

O segundo aspecto técnico – por assim dizer – que merece atenção é Franz Rogowski. O ator alemão, conhecido como o prisioneiro que se apaixona por seu colega de cela no filme “Great Freedom”, é quase um efeito especial. 

Com um rosto anguloso e uma expressão capaz de transmitir ideias contraditórias ao mesmo tempo, Rogowski consegue ser frágil e perigoso, burro e esperto, feio e bonito, mas sem ser nenhuma dessas coisas especificamente. Em “Disco Boy”, ele interpreta o bielorrusso Aleksei, um sujeito que aproveita a viagem de uma torcida de futebol para escapar para a França. 

Aleksei quer se alistar na Legião Estrangeira porque sabe que, se sobreviver ao treinamento rigoroso, entrar na Legião e prestar serviços por cinco anos, ele ganha um nome e um passaporte franceses.

Alegoria

De fato, ele entra para a Legião Estrangeira e uma de suas missões é lidar com o grupo guerrilheiro conhecido como MEND (Movimento para Emancipação do Delta do Níger). Eles vivem ao sul da Nigéria, numa região rica em petróleo, e brigam contra empresas que exploram o lugar sem se importar com as pessoas que vivem lá. 

Um dos líderes do MEND é Jomo (Morr Ndiaye), uma figura carismática com um sonho peculiar: se não estivesse onde está e, em vez disso, tivesse nascido “entre os brancos”, ele gostaria de ser um dançarino de boate. 

É aqui que Aleksei e Jomo se encontram e têm suas vidas alteradas para sempre. Por motivos que, à primeira vista, parecem inexplicáveis, nesse filme estranho, quase sem diálogos, Abbruzzese fala de geopolítica, de ser um outro e de posse – de fronteiras, recursos e identidades. E, no fim, coloca todo mundo para dançar. 

Olhar de Cinema

Se você ficou a fim de ver o filme, a organização do Olhar de Cinema informou que ele deve estrear no Brasil, em circuito comercial, no próximo semestre.

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