“Menininha” mostra dez anos da vida de Débora Zanatta em dez minutos

Filme fala sobre as mudanças vividas pela cineasta ao assumir os cuidados com a avó, após a morte da mãe

Hoje é comum uma inversão de papéis nas famílias. Com a passagem dos anos, muitos filhos encaram a difícil tarefa de assumir o papel de pais dos próprios pais, mas Débora Zanatta enfrenta algo ainda mais desafiador. Após a morte da mãe, a cineasta passou a ser responsável pelos cuidados com a sua nonna (avó, nas famílias com origens italianas) e, agora, documenta um pouco dessa realidade no filme “Menininha”.

A direção e o roteiro do curta-metragem são de Débora, que ainda assina a montagem em dupla com Tami Taketani, artista que também é fotógrafa e videomaker do Plural. Na equipe, estão Gil Baroni, como produtor; Elenize Dezgeniski, como diretora de fotografia; e Carmen Agulham, no som. 

Em entrevista ao Plural, a diretora falou sobre os bastidores e o que se pode ver na tela ao assistir a estreia de “Menininha”, no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Confira a seguir. 

“Dez anos da minha vida em dez minutos”

A curadoria do Olhar de Cinema 2023 deu espaço para obras com a voz do cineasta expressa fortemente na tela. Isso certamente foi determinante para a entrada do filme de Débora no festival, tanto que o curta-metragem é classificado por ela como um “documentário ensaístico em primeira pessoa”. 

Quando peço para que traduza a definição para quem não tem intimidade com teorias do cinema, a resposta é de que não se trata de uma história linear. A montagem é diferenciada, sem a sequência começo, meio e fim, sem o encadeamento de ação e reação do cinema clássico. Existem diálogos e entrevistas com a “nonna” da diretora, cruzando a narrativa em primeira pessoa. É uma reflexão pessoal: “Eu resumo ele [o filme] como os últimos dez anos da minha vida em dez minutos.” 

Durante a conversa sobre o enredo, a impressão é de que a presença mais forte na história é, na verdade, o peso de uma ausência, que nasce em paralelo com a imposição de se reencaixar na família e no mundo. O passado vem para a narrativa por meio do percurso entre a trajetória da avó e a morte da mãe, mas tudo muda. Os questionamentos sobre o que é realmente seu nessa relação afetiva e o que é de sua falecida mãe ganham a tela, no encontro dessas três gerações de mulheres da família de Débora. “Mas tudo isso em dez minutos, então não é tanto passado assim”. 

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Ausência e presença

A figura da mãe está presente na filmografia de Débora. “Mas sempre simbolicamente”, ela explica. Nas produções anteriores à “Menininha”, isso pode ser identificado no momento em que uma personagem recebe uma ligação, quando os diálogos falam sobre estado de alguém doente, em trechos documentais com imagens da família da diretora, ou ainda em relações não tão óbvias, mas cheias de cargas afetivas. A justificativa vem do roteiro da vida: “A doença começou em 2013 e eu comecei a fazer cinema em 2013, tudo aconteceu junto”.

Trajetória 

“Lovedoll” (2015), foi a primeira codireção de Débora no cinema, o parceiro na empreitada foi Estevan de la Fuente (também selecionado para o Olhar de Cinema 2023, com o curta-metragem “Sereia”). O filme emplacou uma exibição no programa do Canal Brasil “Cinema em Outras Cores”, com seleção e comentários feitos pelo jornalista e ex-deputado federal, Jean Wyllys. No episódio, a dupla foi entrevistada pelo apresentador e também pela filósofa Marcia Tiburi.

Os dois também dirigiram “Ocorridos do Dia 13” (2016) e “Primavera de Fernanda” (2018), que conquistou 17 prêmios e 6 menções honrosas ao longo da trajetória por 71 festivais nacionais e internacionais. A estreia na direção solo foi com “Aonde Vão os Pés” (2020), selecionado para 50 festivais nacionais, incluindo o 49º Festival de Cinema de Gramado e o 31º Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, além de dois festivais fora do país.

“Menininha”

Documentário dirigido por Débora Zanatta (Brasil, 2023, 11 minutos), em exibição na mostra Mirada Paranaense do 12º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba (sessões dias 18 e 21 de junho). Outras informações sobre a programação do festival, aqui.

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