Fim de festa: Shopping Hauer foi um experimento de comida de rua

Dos 14 empreendimentos que vão deixar o espaço, apenas o Don Kebab vai reabrir em outro local

Na noite desta sexta-feira (28), o Shopping Hauer parecia irreconhecível. Uma imagem bem diferente da festiva que costumava agitar o local. E não só por causa da pandemia – que impede (ou deveria impedir) aglomerações -, mas porque o clima era de fim de festa mesmo.

A maioria dos bares já estava de portas fechadas. Dos 18 empreendimentos que ocupam o imóvel, apenas oito ainda serviam comidas e bebidas. Nos deques e na calçada havia poucas dezenas de jovens.

A decretação, ontem, da bandeira vermelha pela prefeitura antecipou em alguns dias o fim das atividades que, de qualquer forma, já estava previsto para as próximas semanas. Alguns estabelecimentos devem continuar por mais alguns dias só com delivery e retirada.

Termina assim, depois de quase cinco anos e de forma melancólica, a trajetória do Hauer. Era agosto de 2016 quando o The Fish & Chips English Pub se fixou no local e começou a servir chope artesanal e iscas de peixe frito. Foi o pontapé inicial para que o espaço se transformasse no principal ponto da vida noturna curitibana.

Com a saída dos bares, a administração do shopping vai transformar o espaço num centro médico – com consultórios e laboratórios – cuja inauguração está prevista para o segundo semestre de 2023.

A transformação vai afetar a parte do shopping que dá de cara para a Avenida do Batel e a Rua Coronel Dulcídio. O restante do imóvel, especificamente na esquina da Coronel Dulcídio com a Comendador Araújo, vai continuar abrigando os atuais empreendimentos gastronômicos – Cho Street Food, Vino Batel, Big Bear Buguer e Johnny Braza.

Cho, Vino, Big Bear Burguer e Johnny Braza vão continuar no Hauer. Foto: Andrea Torrente/Plural.

A hamburgueria Whatafuck, com seus sanduíches que cabem numa mão só – a outra é para segurar o chope – vai fechar de vez e manter só a unidade na Avenida Vicente Machado. “Procuro nem pensar a respeito, já era, geral está desmontando”, comenta laconicamente o proprietário, Daniel Mocellin.

Depois de dois anos no local, o futuro do empresário Alexandre Bussili Simi, dono do Simi’s Chopp Bar, permanece incerto. “Com a pandemia está muito difícil. Provavelmente vou segurar a onda e esperar o fim do ano”, diz.

Apenas duas casas já encontraram um novo endereço. O bar de drinks Ponto Gin já havia se mudado para a Mercadoteca, no Mossunguê, no final do ano passado. Já o Don Kebab anunciou que vai se deslocar para a “prainha” da Itupava, no Alto da XV, local que, pela proposta, mais se assemelha ao Shopping Hauer.

A casa especializada em shawarmas, vai ocupar o lugar do Hike, bar de comida asiática que encerrou as atividades na pandemia. A nova unidade do Don Kebab vai inaugurar na semana que vem com o mesmo cardápio.

O Bar do Didí, que tinha acabado de passar por uma reforma, está procurando um novo ponto no Batel. O The Fish and Chips e, provavelmente, muitos outros vão fechar sem saber para onde ir.

“São empresários que investiram sonhos, economias e tempo de suas vidas num momento muito difícil de pandemia e estão sendo tratados sem respeito. Muita gente depende desses estabelecimentos, seja funcionários e fornecedores. Dezenas de famílias vão ficar na amargura”, critica Fábio Aguayo, presidente do sindicato dos bares Abrabar.

Portas fechadas: clima na sexta-feira era de fim de festa. Foto: Andrea Torrente/Plural.

Os empresários receberam, entre março e abril, o aviso para desocupar o local. Para quase todos foi um prazo muito apertado para preparar um plano B. Pegos de surpresa, alguns havia feitos investimentos em reformas na expectativa da retomada econômica pós-pandemia.

O Hauer surgiu como uma válvula de escape da Vicente Machado. Naquela época, o cruzamento da avenida com a Alameda Presidente Taunay vivia tempos turbulentos. A calçada ficava tão lotada que a prefeitura tinha que fechar parte da rua para que não houvesse atropelamentos.

Aos poucos, confusões e ações de fiscalizações fizeram o público migrar para o Hauer. Mas, nos últimos tempos, esse polo também começou a sofrer dos mesmos problemas com reclamações dos moradores do entorno e, na pandemia, repetidas aglomerações.

O Hauer não foi só um ponto da vida noturna que reunia bandos de jovens sedentos por diversão e bebida, às vezes barata e de qualidade duvidosa. Foi também um experimento gastronômico com opções de comida de rua inovadoras, saborosas e que não pesavam no bolso.

Dos bagels ao fish and chips, das especialidades portuguesas – o Tasca servia uma deliciosa linguiça flambada – a drinks autorais e criativos no Ponto Gin, o Hauer trouxe vitalidade à baixa gastronomia curitibana. Cabe aos bares que ficam manter a chama acesa.

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5 comentários em “Fim de festa: Shopping Hauer foi um experimento de comida de rua”

  1. Lamentar o fechamento do Shopping Hauer é sinal de que a vida noturna está fraca mesmo e o horizonte não é animador. Já tivemos coisas muito melhores fechando e que valeriam a lamentação, mas é questão de gosto, respeito os empresários que investiram dinheiro e energia para gerar o seu sustento ali. A verdade é que o jovem de hoje mal tem emprego, não possui um puto no bolso e ficar em pé na calçada com um copo plástico de Chop na mão é a única coisa que sobrou para se divertirem. Pessoalmente tenho saudades de quando Curitiba era referência em vida noturna e nada tinha a ver com Shopping Hauer… Mas enfim, até o que já nasceu decadente está decaindo… A pergunta que fica é o que é que vai sobrar depois de tudo isso?

  2. Esqueceram de mencionar o TEMPLO DA CERVEJA que foi o pioneiro, quem começou com uma loja de cervejas especiais e depois tornou-se um bar, e foi o primeiro a fechar ali no local durante esta pandemia.

  3. Anos atrás, participei de uma reunião na SRTE (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego) com o então síndico do Shopping. Ele contou q a abertura desses bares acabou com o movimento das lojas q havia ali, pq a rapaziada se embebedava, fumava maconha, vomitava e urinava nas calçadas, e os lojistas tinham q lavar tudo no dia seguinte, pra poder trabalhar. Ele mesmo notou q o seu estabelecimento perdeu muita clientela, devido à depreciação do ambiente… ou seja, o mundo dá voltas…

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