Jojo Todynho, o Paraná e outras histórias

Jojo Todynho se casou. Teve uma cerimônia à altura do seu status de funkeira famosa. Bafônica, por assim dizer: celebridades, muitas fotos na mídia e alguma polêmica (um vídeo do pai do noivo reclamando que foi desconvidado para a festa e que o filho renegou as origens).

Mas o caso aqui é que o casório veio reforçar uma impressão de que quase tudo que é bafônico no Brasil, para o bem e para o mal, acaba tendo uma ponta no Paraná. Sai uma notícia espetaculosa, já fico na expectativa de aparecer um conterrâneo envolvido.

Pois foi justamente do Paraná que saiu o noivo da Jojo Todynho, um jovem tenente do Exército de 21 anos nascido e criado em Mariental, distrito da Lapa, aqui pertinho de Curitiba. Assim é que, mal saído da adolescência, o rapaz já está inscrito no panteão, não dos heróis da sua terra natal, mas dos personagens que o Paraná empresta para histórias extravagantes.

A galeria é extensa, e não vem de agora. Em 1979, a Lei da Anistia provocou alvoroço na pequena Cruzeiro do Oeste: Pedro Caroço, um forasteiro casado com uma dona de boutique na cidade, era na verdade José Dirceu, um dos militantes de esquerda trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado em 1969.

Ao contrário de Dirceu, que viveu no Paraná clandestinamente, com a fisionomia alterada por uma cirurgia plástica feita em Cuba, Alfredo Stroessner – o ditador paraguaio que Bolsonaro andou recentemente chamando de estadista – circulou durante anos por Guaratuba com sua cara autêntica mesmo. Tinha uma casa de veraneio ali e virou até nome de praça na cidade, onde se refugiou por dois meses quando a casa no Paraguai caiu, em 1989.

Anos atrás, recebi um telefonema de um editor da revista Época, perguntando se eu poderia fazer um perfil de um personagem que estava bombando na mídia. Era Marcelo Nascimento da Rocha, golpista contumaz que, passando-se por dono da empresa aérea Gol, havia levado de helicóptero várias celebridades para um camarote do carnaval fora de época em Recife. Bingo! Marcelo nasceu em Maringá e morou anos em Curitiba, onde estrelou histórias bizarras, sob diferentes identidades.

E de onde seria, se não do Paraná, um dos personagens mais icônicos dos não saudosos tempos de hiperinflação? Longe de mim dar ideia, agora que a inflação voltou aos dois dígitos, mas Omar Marczynski saltou do anonimato para a glória em 1986, ao fechar espetaculosamente um supermercado em Curitiba que havia remarcado preços congelados pelo governo. “Estou fechando em nome do presidente José Sarney”, anunciou com a cara mais séria do mundo, depois de mostrar dois potes de maionese para as câmeras. Como prêmio, anos depois nosso “fiscal do Sarney” ganhou de Fernando Collor a presidência da hoje extinta Sunab, uma anomalia cuja especialidade era fechar estabelecimentos que descumpriam as tabelas de preços.

Daqui exportamos também a fulgurante Val Marchiori, socialite nascida Valdirene e pobre em Arapongas, e que ficou famosa ao participar do programa “Mulheres ricas”, um show de ostentação e cafonice que tornou célebre seu bordão “Helloooo!!!”.

Temos ainda o padre dos balões, tristemente desaparecido numa aventura imprudente que virou notícia mundo afora. E a menina de uma vila de pescadores que Anthony Quinn queria levar para Hollywood, certo de que ela era a reencarnação de um amor antigo.

Infelizmente, nossa participação em histórias inusitadas não se limita a personagens inofensivos. Na seara do crime também não é raro que casos midiáticos acabem resvalando por aqui.

Quem lembra de Leon Eliachar, jornalista e humorista nascido no Egito e assassinado em 1987? O crime aconteceu no Rio de Janeiro, mas em poucos dias todos os holofotes já estavam no Paraná, iluminando um enredo rodrigueano. O crime foi cometido por pistoleiros contratados por um vereador de Palmas cuja mulher mantinha um caso com Eliachar. Do combo fazia parte uma bailarina de codinome Sheila, recrutada na boate La Piova, também em Palmas, para se aproximar de Eliachar e abrir a porta do apartamento do jornalista para os matadores.

Elise Matsunaga, assassina confessa de um dos donos da Yoki, e Eliza Samudio, vítima de um crime brutal ordenado, segundo a polícia, pelo ex-goleiro Bruno, também são paranaenses. E Vilma Martins da Costa, condenada pelo sequestro do menino Pedrinho em Brasília, passou anos antes por Curitiba, onde teve uma filha e fez uma espécie de “estágio” no ramo do estelionato: foi denunciada por vizinhos que reclamavam roupas de cama emprestadas e jamais devolvidas.

Agora até um suposto serial killer internacional se juntou ao grupo – um piloto de avião que antes de morrer teria matado três mulheres nos Estados Unidos e que nasceu… no Paraná.

Há quem garanta que o monstro nazista Josef Mengele também passou por aqui antes de morrer no litoral de São Paulo. Essa teoria circulou durante anos mas, felizmente, sua suposta temporada em Mamborê jamais foi provada. Seria o ponto mais vergonhoso da nossa galeria de personagens insólitos.

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima