Isolamento social dia 92

Querido diário: minha cidade está em ascensão de casos de Covid-19. O número de mortes dobrou, muitas pessoas contaminadas, o alerta é cor laranja e ontem, em perfeita sintonia com este momento, o prefeito liberou as atividades de academias.

Deu câimbra na sua lógica, querido diário? Na minha também.

Aparentemente o pessoal das academias foi reclamar, pressionar (e pressão da galera que faz legpress com  200 kg ou mais não é brincadeira) e a prefeitura disse ok.

Eu não quero o mal de academias, muito pelo contrário. Sou o coordenar de um espaço de saúde, sei pelo que estamos passando. Mas também sei que me recuso a abrir pela ameaça à vida das pessoas que frequentariam o espaço.

Curitiba, assim como outras capitais do país, é apinhada de academias. A lógica para deixar abrir deve ser porque cuidar da saúde com exercícios é bom contra o corona, fora que é boa política não quebrar negócios.

Mas eu nunca achei que as academias fossem símbolos de saúde. Por mais que eu reconheça o valor do exercício físico com peso extra, as academias com suas paredes de vidro pra rua sempre me pareceram pequenos/grandes templos a futilidade, a pessoas magras falando em suas rodas de conversa “olha como eu engordei” só pra ouvirem de quem tá perto um “não, imagina, tá ótima”.

Se essa impressão é certa ou se achar isso é uma grande futilidade intelectual da minha parte, não sei. Só não queria que alguém tivesse que explicar pra uma criança porque o tio Fulano morreu e a frase fosse:

– Ele não podia mais escapar de outro leg day.

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