– Oi, xuxu.
– Chuchu!
– Sim, sou eu. Queria falar sobre agente.
– A gente.
– Isso. Agente.
– Mas “a gente” é separado.
– Eu sei amor, era disso que eu queria falar. Porque agente tá separado?
– “Por que” é separado.
– Mas não deveria ser!
– Mas é. “Porque” junto é resposta.
– Eu também acho, coração! Agente junto é a resposta pra todas as nossas dúvidas.
– Não foi isso que eu disse.
– Não? Então o que foi, docinho?
– É que “a gente” é separado. “Por que” é separado.
– Então você não acha que agente devia ficar junto?
– Olha… “agente” junto é outra coisa.
– Siiiim! Agente junto é outra coisa. É muito melhor, xuxu!
– Você não tá entendendo. E é chuchu!
– Então me explica, coração!
– Agente junto é agente secreto.
– Mas eu não quero viver em segredo. Chega! Eu quero gritar pro mundo que agente tá junto!!!
– AI, MEU DEUS! Presta atenção: “A gente” junto é um erro. Entendeu? Um erro!
– Um erro? Você acha mesmo?
– Um erro horrível!
– Entendi. Ok.
– Um erro gramatical! – tentou explicar Pasquale à linda moça por quem estava perdidamente apaixonado.
Mas a mensagem nunca chegou.
A linda moça já o tinha bloqueado em todas as redes.
Havia lhe bloqueado em todas as redes?
Bloqueou-o em todas as redes?
Bloqueastes a moça, em todas as redes, Pasquale?
Enfim…
Meses depois, Pasquale arrependido, trocou o número que havia sido bloqueado, e encorajado pelo desejo de pedir sua mão em matrimônio, chamou a linda moça do engano ortográfico para desfazer todos aqueles apertados nós.
E quem sabe… – pensou ele – falar de nós?
Daria tudo certo! – decidiu, confiante!
– Não há regras linguísticas que possam vencer a linguagem do amor verdadeiro!
– Oi chuchu, sou eu. Lembra de mim?
– Você? Mais… Mais… Mais eu achei que você não me amava mais.
– AAAAAH NÃO. “MAIS” NÃO! “MAIS” DE JEITO NENHUM!
BLOCK
Pasquale levava a língua portuguesa muito a sério.
Acabou sendo única LÍNGUA que ele CONHECEU na vida.
(Se é que vocês me entendem)
Triste.
FIM.