Do tempo em que o aeroporto fazia barulho e cheirava a querosene

Exercitar a imaginação é se transportar para uma época em que os aviões eram protagonistas em um aeroporto, por mais estranho que isso possa parecer

Eu adoro viajar pelo mundo por meio das imagens de satélites. O Google Earth é uma das ferramentas mais geniais que existem. Para quem gosta de aviação, como eu, é uma delícia ver por cima como é o desenho dos aeroportos, suas características, seus detalhes únicos. E é mais interessante ainda quando me deparo com imagens de outros tempos e vejo como um determinado aeroporto já foi um dia.

Além de um exercício de comparação simples do hoje com o ontem, procuro ver além do que foi registrado friamente por um satélite (no caso de décadas atrás, de fotos feitas a partir de aviões de aerolevantamento). E ver além significa imaginar. Ainda mais quando se trata de um tempo em que sequer estava por aqui.

Essa foto que está ali em cima, por exemplo. Ela é datada de 17 de junho de 1980, mostra o aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, e faz parte do estudo aerofotogramétrico encomendado pelo Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG), na época Instituto de Terras, Cartografia e Geociências (ITC), que registrou todo o estado a partir do céu.

Eu nasci quatro anos depois dessa foto. Portanto, a mim resta apenas o exercício da imaginação do que era o Afonso Pena naquele tempo. Claro que há registros aqui e ali, esparsos, mas que não cabem todos na imaginação.

Aquele terminal antigo eu cheguei a conhecer e tenho algumas lembranças de criança. Principalmente de subir no segundo andar do prédio e ir até o terraço panorâmico para ver os aviões no pátio, decolando e pousando. O melhor dessa época é que não havia vidro. Ou seja, era aquele barulho delicioso dos aviões e o cheiro do querosene no ar.

Eu imagino que gostoso devia ser ficar ali e ver o desfile de aviões que voavam por aqui em 1980. Havia os Boeing 727-100 da Cruzeiro do Sul e da Transbrasil, os Boeing 737-200 da Varig, da Vasp e da Cruzeiro. Sem contar os Bandeirante EMB-110 da Rio-Sul.

Naquela época o movimento não era como hoje. Eram bem menos pousos e decolagens por dia. O que certamente dava uma ansiedade de saber quando o próximo avião pousaria e de qual companhia aérea. E quem sabe ver aqueles jatos coloridos da Transbrasil, um diferente do outro. Ah, que delícia.

A sensação que eu tenho é de que havia uma certa tranquilidade no Afonso Pena. Uma certa lentidão, meio que natural. Não havia uma pressa tão latente. Os períodos sem voo poderiam levar mais de uma hora. Eram bons momentos, imagino, para um café e um bom papo sobre avião.

Aí lá longe aparecem as luzes de um deles e pronto, a rotina muda completamente. Os olhos miram para a pista até que o avião toca o chão, levanta aquela fumaça do contato entre os pneus e o asfalto, e faz aquela barulheira para frear. Quando está quase parando, aponta em direção ao terminal e estaciona. O som dos motores vai embora e a turma do solo acopla a escada para que os passageiros possam desembarcar.

Era muito diferente. Hoje sequer conseguimos ver direito os aviões, muito menos quem está saindo da aeronave. Criava-se uma expectativa para quando enxergaríamos o pai, a mãe, o irmão, o filho, seja lá quem fosse, saindo do avião. E quando apareciam, emoção só. Que tempo bom.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima