“Stranger Things” e “A Hora do Pesadelo”: ideias musicais para tirar o sono

Michael Stein e Kyle Dixon retornam à série compondo a trilha sonora original; canções dos anos 1980 voltam às paradas depois de surgirem na atração

Desde que a primeira parte da 4ª temporada de “Stranger Things” estreou na Netflix, a internet tem sido dominada pelos fãs e interessados no assunto, buscando antever o que virá nos episódios finais, a serem lançados em 1º de julho. Entre os assuntos muito comentados está a “trilha sonora” da atração, devido ao fato de que canções marcantes dos anos 1980, há muito esquecidas ou, simplesmente, desconhecidas pelo público atual, voltaram ao hit parade, como foi o caso de “Runnin Up That Hill”, lançada por Kate Bush há 37 anos e que chegou nesta semana ao top 5 global do Spotify. Não vou detalhar o contexto no qual a canção é inserida para não estragar a experiência de quem ainda não assistiu à série, mas garanto que tem caráter decisivo numa das tramas secundárias que se desenrolam paralelamente à principal. Fora essa canção, há uma seleção de outras obras icônicas do universo da música popular, como “California Dreamin’” (na versão da banda The Beach Boys), “Play With Me” (do Extreme, que começa com o motivo principal da “Marcha Turca”, de Mozart, tocado na guitarra), entre outras.

O que não se tem falado é que isso tudo não consiste na trilha sonora da série, para ser exato, mas sim no conjunto de canções que estão acoplados à narrativa, a fim de trazer elementos que remetam à personalidade das personagens e marquem, historicamente, o período no qual o enredo se passa. A trilha sonora, portanto, admite estas canções, contudo, engloba uma quantidade maior de elementos sonoros contidos numa obra audiovisual.

Que elementos são esses?

Podemos considerar todo o som envolvido, incluindo-se o sound design, que, diga-se de passagem, em “Stranger Things” é essencial, haja vista o “Mundo Invertido” com todas as suas criaturas malévolas e seu meio ambiente devastado. A variedade de sons num local como este tende a ser diferente do que aquela que se ouve na rua, no “mundo real”, por isso os efeitos utilizados e os sons criados para dar vida àquele lugar inóspito precisam ser trabalhados com o maior cuidado possível, na dosagem certa de empolgação.

Música incidental

Trata-se da trilha musical propriamente dita, aquilo que se premia como “trilha sonora” no cinema, por exemplo. Em “Stranger Things” a trilha incidental começa logo na abertura, com o tema gravado por meio de sintetizadores eletrônicos e recursos de “arpeggiator”, que nada mais são do que circuitos que fazem as notas serem repetidas em sequencias pré-programadas, com intervalos ajustados pelo músico.

A trilha sonora de caráter incidental é uma das responsáveis pelo “clima”, cada vez mais sombrio, que a série vem adotando. Os autores dessas obras são os músicos Michael Stein e Kyle Dixon, da banda Survive, que atua num circuito alternativo de música eletrônica, cuja média de ouvintes mensais no Spotify chega à casa dos 115 mil. Sem dúvida é um bom número, mas acaba parecendo nada se comparado aos mais de 9 milhões de ouvintes que o sertanejo Gusttavo Lima, aquele dos cachês milionários obtidos de modo questionável nas festas de municípios menores do que “Hawkings”, mantém na plataforma todos os meses.

Ideias musicais

Compor para audiovisual requer um mergulho profundo no universo criado pelos autores, roteiristas e diretores. Não basta apenas entender de música, é necessário compreender o ambiente no qual os fatos são narrados. Neste quesito, Stein e Dixon têm feito um trabalho monumental, desde o primeiro ano da série. Vale destacar que suas obras, por diferirem do caráter orquestral, acabam sendo produções de custo mais acessível, porque, na maior parte do tempo, são os próprios autores os responsáveis pela execução da obra final. Esse tipo de gravação pode ocorrer num estúdio de menores proporções, porque o músico toca as obras em teclados eletrônicos, fazendo ajustes nestes instrumentos e depois processando tudo no computador. No caso de uma orquestra, para se realizar a gravação é necessário colocar muitos instrumentistas numa sala preparada acusticamente para isso, daí a diferença nos custos. Entretanto, apesar de menos onerosa, de modo algum a trilha sonora eletrônica composta por eles pode ser considerada “barata”, pelo contrário, mostra-se criteriosa na construção harmônica, apresenta melodias bem construídas e, o mais importante, encaixa-se com perfeição ao ambiente “tecnológico” dos anos 1980.

Referências

Fred Kruger, vilão da franquia “A Hora do Pesadelo”. Foto: divulgação.

Muito do que se vê em tela nesta 4ª temporada remete aos clássicos filmes de terror do vilão Fred Kruger, da franquia “A Hora do Pesadelo”. Há diversas conexões, tanto visuais quanto textuais, que se conectam ao tradicional vilão, incluindo uma participação do próprio ator que o interpretou. No âmbito musical não poderia ser diferente, principalmente nos créditos finais do sétimo episódio, cuja música tem característica daquela que toca nos minutos iniciais de “A Noite do Pesadelo”. Comparando as duas, percebe-se que não são iguais, obviamente, mas fica a impressão de que estão em mundos espelhados.

Para ir além

Os autores tocando, ao vivo, o tema principal de “Stranger Things”:

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima