O Zeitgeist nosso de cada dia

#paracegover Foto mostra os integrantes da banda Legião Urbana.
Invariavelmente as pessoas tendem a falar que a música da sua época era melhor do que a música que se ouve hoje

Aquela clássica roda de conversa na mesa de um boteco, e de repente o tema é música. Invariavelmente as pessoas tendem a falar que a música da sua época era melhor do que a música que se ouve hoje. Mas por que será que temos essa nostalgia com relação a nossa Golden Age? Porque geralmente reagimos com pessimismo ao novo? Bom, essa é uma coluna sobre música, e não é minha intenção realizar uma grande DR sobre questões tão pessoais e de ordem psicológica, mas queria só fazer uma provocação a refletir sobre essas reações.

Eu mesmo vivo nesse casulo, achando que o som que me formou musicalmente é melhor do que o que se faz hoje. Mas, como músico e produtor de áudio, procuro sempre estourar essa bolha, e me abrir para as novidades, por mais que o novo geralmente incomode, porque me tira da zona de conforto. Acho que uma coisa que ajuda a entender esse comportamento seria evocarmos o termo Zeitgeist (o espírito da época). Durante um determinado período das nossas vidas – aquele em que acordamos para a vida, e começamos a devorar o mundo, e a assimilar tudo que nos interessa – construímos todas as nossas referências, que vamos carregar por toda a nossa trajetória. E isso inclui roupas, modelos de carros, motos, gírias, lugares, cortes de cabelo, acessórios, filmes e, claro, música.

Karol Conká. Foto: divulgação.

Acaba ficando difícil rompermos com a relação afetiva desse espírito do tempo, desse nosso tempo, e que tendemos a considerar melhor do que o hoje. Se me perguntarem, vou achar muito melhor o som feito por bandas como Legião Urbana, Plebe Rude, The Police, The Cure, do que o que ouço hoje. Mas se a pergunta for feita para alguém entre os seus 15 e 30 anos, muito provavelmente vai responder que o som feito por Luísa Sonza, Ludmilla, Kevinho, Glória Groove, Karol Conká, Vitão, Pocah, BK, Rael, Black Alien, Rincon Sapiência, Barões da Pisadinha, Djonga, entre tantos outros, é mais interessante, porque traz o Zeitgeist, ou seja, o espírito do tempo, do tempo dessa moçada.

Mas para você, amigo, sugiro que faça como eu, exercite esse diálogo entre Zeitgeists, combinando referências de momentos diferentes, abrir o ouvido ao novo, porque o novo sempre vem, e já que vem, vamos aproveitar! Tento imaginar, por exemplo, que a geração da Segunda Guerra Mundial, que cresceu no período das big bands, como Tommy Dorsey, Duke Ellington, Glenn Miller, entre outras, reagiram com reprovação ao som que seus filhos, os baby boomers, começaram a ouvir nos final dos anos 1950, no nascimento do rock’n roll. Mas, por eles nada podemos fazer, já no nosso caso, ainda temos salvação!

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