Mulheres negras na política: chegamos para ficar

A diversidade das mulheres nos espaços de poder é o caminho para uma nova cultura política

O mês de março é historicamente marcado pela memória e atualização das lutas das mulheres do mundo inteiro por direitos, igualdade, justiça e liberdade. Mas nem sempre os debates do feminismo contemplaram toda a diversidade das mulheres. Quando o movimento pelo direito ao voto surgiu, por exemplo, foi construído e pautado por e para mulheres brancas. Naquele mesmo momento, a luta das mulheres negras ainda era pelo direito de serem reconhecidas como pessoas.

Apesar dos avanços das pautas feministas, essas diferenças ainda existem, pois a nossa cidade – assim como o nosso país – é estruturada pelas desigualdades de raça e gênero. Enquanto as mulheres brancas sofrem com a discriminação de gênero, as negras têm sobre elas também o racismo. Isso explica porque, em mais de 327 anos de história, Curitiba nunca tinha eleito uma vereadora negra.

Infelizmente, a presença feminina na política institucional do nosso país ainda é pequena. Dados recentes do Tribunal Superior Eleitoral revelam que somos apenas 16% das vereadoras e 12% das prefeitas eleitas em 2020. Além da sub-representação, temos vereadoras, deputadas e prefeitas alinhadas com uma política neoliberal, que representam os interesses econômicos e famílias tradicionais. Precisamos de mais mulheres na política que sejam comprometidas de fato com as pautas feministas.

Pode parecer repetitivo falar dessas coisas, mas é muito importante promover esses debates porque isso impacta diretamente em nossas vidas, na falta de políticas públicas que contemplem a pluralidade das mulheres brasileiras. Sem que a nossa diversidade esteja presente nas posições de decisão, não teremos uma nova cultura política e o que desejamos para alcançar igualdade no nosso país.

Precisamos sim continuar falando da participação política das mulheres, inclusive porque mesmo quando as mulheres negras são eleitas, elas são vítimas de violência política simplesmente por exercerem seus direitos. Pudemos ver isso com as diversas ameaças de morte que várias vereadores negras e trans sofreram por todo Brasil, após o resultado das eleições municipais. É o racismo, o machismo e o patriarcado juntos dizendo que nosso lugar é em casa, que não devemos debater política.

Mesmo com essas barreiras historicamente impostas, as mulheres negras vêm se organizando, lutando por direitos, e isso se expressou fortemente em 2020, com a eleição de mulheres pretas em várias cidades do país, recebendo votações expressivas. Esse é um caminho sem volta, pois a gente vem montando esse palco, pavimentando essa estrada para poder de fato ocupar esse espaço.

Com nossas diferenças, estamos novamente em marcha, não mais nas ruas, devido à pandemia, mas conectadas pelas mais diversas formas possíveis, reafirmando nossa organização coletiva, pois enquanto vivermos neste sistema capitalista patriarcal e racista, março será mês de luta para todas nós. Mulheres na política, mulheres no poder! Por isso, nossa luta deste 8 de Março é pela vida, pelo auxílio emergencial, por vacina e fora Bolsonaro.


A coluna PoliticAS reúne semanalmente, em formato de rodízio, textos das vereadoras eleitas de Curitiba.

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